Hopeless || {C.H.}

33.

|| Ruby ||

Encontro-me sentada entre Abi e Lizzie, no canto das escadas que davam acesso á entrada de uma loja, enquanto observo o cigarro já quase terminado a queimar entre os meus dedos, expelindo o ar poluído de dentro dos meus pulmões de uma só vez. Estávamos assim há pelo menos meia hora, observando as pessoas stressadas, contentes ou mesmo abatidas que corriam para dentro e fora das portas automáticas, não tendo a menor percepção de que alguém as podia estar a ver e a seguir os seus passos, tal como eu (devido ao tédio e cansaço) estava a fazer agora.

Hoje os rapazes não puderam andar connosco pois tinham uma reunião que o agente deles marcara, segundo o que percebi, e haveria a tentativa de assinarem um contrato com uma editora ou algo assim. Mas, sinceramente, tentava envolver-me ou saber o menos possível dos assuntos da banda, pois não quero ter qualquer influência nas decisões que podem vir a mudar a vida dos quatro rapazes.

Era estranho estar sem eles, admito, mas nas circunstâncias em que me encontrava, com o que aconteceu entre mim e Ashton, a "distância" por algumas horas tem vindo a ser positiva pois evita constrangimentos da juventude do acontecimento e permite-me refletir ainda mais sobre o que fiz, tendo a certeza que este talvez fora um dos meus piores erros. O dia anterior tornara-se insuportável quando não consegui evitar sentir-me mal ao trocar carícias com Calum na mesma sala que Ashton e Abi, por ver os olhos da minha amiga postos no baterista e saber que a sua inocência se poderia transformar numa raiva de enormes dimensões. No entanto, após tantas horas e uma noite completa sem quase conseguir dormir, cheguei á conclusão que não me adiantaria de nada andar a lamentar-me por um mero erro e que se queria levar a que toda esta onda de tensão passasse, se queria que ninguém descobrisse nada, tinha de ultrapassar o que sentia e não ser fraca ao ponto de me deixar controlar pela parte menos boa da minha consciência. Eu ia conseguir fingir que nada aconteceu.

"Tive uma ideia." a voz de Abi, que agora apagava o seu cigarro por baixo do seu pé, desperta-me dos meus pensamentos e encaro-a tendo uma visão dos seus olhos demasiado brilhantes. Coisa boa não estava para vir. "As pessoas aqui gostam bué de artistas de rua e essas cenas, certo?"

Tanto eu como Lizzie assentimos, desconfiadas da informação que poderia vir a seguir da boca da morena e desta vez sou eu que desfaço a substância aditiva das minhas mãos que já não teria nenhum outro destino se não o chão sujo e nojento da rua.

"Nós devíamos dançar! Podíamos dançar na rua!"

Podia não ser a melhor ideia do mundo, talvez um pouco alucinada por vir da minha amiga, mas por alguma razão, uma súbita vontade de mexer os meus músculos para expressar sentimentos nasce dentro de mim, colocando até a possibilidade de aceitar a proposta.

"E vamos dançar o quê ó espertinha? Não temos nenhuma coreografia que possamos fazer as três." Lizzie diz entre gargalhadas, provavelmente com a noção de que dançar no meio das ruas de Londres podia ser completamente ridículo e aguardo pela resposta sem mostrar a minha opinião.

Abigail concentra-se profundamente, fechando os olhos de modo a abstrair-se do barulho da rua e suspiro, apoiando-me sobre os cotovelos na escada atrás das minhas costas.

"Já sei!" Assusto-me "A que dançamos no espetáculo, no final do contemporâneo! Temos movimentos praticamente iguais por isso dá!"

"Eu alinho." Abro a boca pela primeira vez no espaço de uma hora, deixando que uma expressão de perplexidade se instalasse na face de Lizzie, que parecia um pouco reticente quando à ideia.

"O quê?" Pergunto rudemente, procurando a explicação para a sua cara idiota.

"Nada. Só achei que isto não fosse uma coisa que fosses fazer."