43.

115 11 2
                                    

|| Ruby ||

"Queres explicar-me de onde é que aquela cena saiu?" A voz surpreendida do moreno sai com um tom ligeiramente divertido na minha direção e suspiro encostando a cabeça no vidro gelado do carro que estava agora a ser conduzido a toda a velocidade.

"Há muita coisa que não sabes sobre o que já fiz na vida." murmuro. "Mas posso dizer-te que uma delas já foi ser a adolescente mais violenta e selvagem da cidade"

Não me é permitido decifrar pela sua expressão quais os pensamentos que andam à volta na sua mente, mas sem dúvida que gostaria de conseguir lê-los e tornar explícita toda a confusão sobre a minha violência.

Embora tivesse vontade de adormecer e desaparecer do mundo por algumas horas apenas para fingir que nada tinha acontecido, sabia que Calum não merecia que fizesse isso. Ele devia saber o que eu estava a sentir, o que um dia senti e o porquê de ter entrado em pânico há alguns minutos atrás. Porque se a situação fosse reversa, o rapaz certamente iria abrir toda a sua alma para mim.

"Podemos ir à praia, por favor?"

Os seus olhos são lançados na minha direção, talvez apenas para verificar se eu estava a falar a sério e tento parecer o mais carente possível para que o meu desejo fosse realizado. Felizmente não preciso me esforçar para isso acontecer, pois antes de obter uma resposta audível viramos numa das ruas que davam acesso à costa australiana.

"Sabes que vão estar algumas pessoas na praia a esta hora, certo?" Ele pergunta é assinto afirmativamente.

"Pelo menos a polícia não vai lá procurar por nós se a Kayleen decidir fazer queixa."

Kayleen.

Só de ouvir o nome dentro da minha cabeça ganhava arrepios.

A culpa de todos os problemas na minha relação com Calum era ela. Desde a noite em que eu o traíra (coisa que só aconteceu por eu pensar que também estava a ser vítima de infidelidade) que a rapariga me perseguia os pensamentos, assombrando-os e tornando todas as minhas inseguranças reais, mais sentidas do que nunca.

Se eu me arrependia de lhe ter batido? Não. Aliás, se não fosse considerado crime eu seria capaz de a espancar até a ouvir sofrer e prometer afastar-se, mas o segurança do shopping decidiu interromper o meu momento de coragem e fazer-me lembrar que o que estava a fazer não era correto.

Eu tinha prometido a mim mesma que não ia voltar a ser assim, uma rapariga violenta, mas a adrenalina do momento não me deixou impedir o que aconteceu.

"Tu estás bem?" Calum pergunta colocando uma das suas mãos sobre a minha perna e desperto, abrindo os olhos e desligando-me da minha nuvem de pensamento. "Não parecias muito bem ao bocado."

"Eu tive um ataque de pânico." Admito.

"Porquê?"

Suspiro, cansada. A minha cabeça ainda estava a latejar e o sangue constante do meu lábio parecia não parar de o fazer arder, piorando ainda mais a dor do punho que tinha embatido com a cara da morena. Eu queria contar-lhe, mas não tinha força.

Talvez o silêncio de alguns segundos o fizesse esquecer a pergunta durante um bocado, pelo menos até arranjar energia suficiente para pegar em alguns dos meus demônios do passado.

E assim foi.

[...]

O calor abrasador do ar sente-se demasiado assim que saímos do automóvel e posso jurar estar perto de desmaiar sem ar com a diferença de temperatura, mas a mão firme de Calum contra a minha anca reconforta-me e faz-me caminhar até perto da praia mais facilmente.

Hopeless || {C.H.}Onde histórias criam vida. Descubra agora