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|| Ruby ||

A minha visão, agora turva das substâncias que tinha ingerido em demasia, não me permite visionar o local onde os meus pés pousam, fazendo-me desequilibrar constantemente na areia desorganizada debaixo de mim. Há uma sensação de queimadura presente em toda a minha garganta, seca e arranhada interiormente, e o sabor a tabaco ainda permanecia presente dentro na minha boca quente. Tinha fumado um maço inteiro o mais rápido que alguma vez vira alguém a fazê-lo, e sinceramente já tinha visto muita gente.

Assim que consigo sentir o efeito das ondas e as suas cutículas a bater nas minhas bochechas, pouso a mochila no solo arenoso, assim como o casaco que não fazia efeito quase nenhum e a minha pele arrepia-se ao entrar em contacto com o ar frio da noite.

Era agora, finalmente, o fim de tudo.

"Família! Preparem a minha chegada!" Elevo a garrafa de vodka que continha um pequenino fundo e levo o último vestígio do líquido para o meu estômago, enchendo-o ainda mais após gritar para o vazio. "Espero que isso aí em cima não seja tão merdoso como aqui em baixo, e que haja cigarros, ou então mato-me do céu."

Rio com a minha própria afirmação assim que me apercebo das minhas palavras inconscientes, mesmo que não ache que tenha tido realmente piada, e atiro o vidro para algum sítio, não me preocupando com a poluição ou os riscos do meu ato. Os meus olhos ardiam seriamente, quase impedindo-me de os abrir e não vejo hora de os poder fechar permanentemente, sem qualquer tipo de cansaço ou sofrimento.

"Adeus mundo, adeus praia, adeus Nokia velho como o caralho. Vocês foram importantes, ok amiguinhos?"

Volto a sorrir falando para o calhau e ar, totalmente sozinha e louca na praia deserta. Consigo ganhar força suficiente para caminhar em direção ao mar após 5 minutos parada, refletindo sobre qual poderia ser a posição mais acertada para deixar os meus objetos, mas acabo por concluir que isso não irá ter nenhuma relevância na minha morte. Pelo menos não para Abi.

Os meus passos são tão lentos e melancólicos como desajeitados e totalmente sem controle em direção ao enorme oceano pacífico. Primeiramente a água atinge-me os tornozelos congelando-me novamente, mas tudo ainda custa mais assim que o líquido totalmente gelado passa pelos meus joelhos subindo até às cochas. A força da corrente começa a sentir-se, deixando-me totalmente desorientada, e quando uma enorme onde embate contra o resto do meu corpo, tombando-me para dentro de água, decido não ter força suficiente para emergir, e me salvar de algo que não tem salvação.

O oxigênio começa a libertar-se do meu corpo, fazendo-me ficar totalmente desesperada por este ao ficar rodeada de água, mas quando mando o meu cérebro subir ele não realiza esta ação, deixando-me apenas congelada e condenada à minha decisão.

Isto era o mais acertado. Toda a minha vida tinha sido um erro. Nada do que fiz foi relevante ou importante para alguém, por isso, para quê ficar? Nem mesmo Calum chegou a gostar um pouco de mim, embora eu acreditasse que sim, tal como uma idiota ingênua.

O meu corpo torna-se mais leve e sinto que estou a flutuar ou a ser pegada ao colo sem ter de suportar o meu peso aparente. Será que era isto a que as pessoas chamavam de céu? Era agora que eu podia ver os meus antepassados e juntar-me a eles numa jornada infinita? Quero abrir os olhos, na esperança de ver a luz que todos falam, mas uma voz que me parece ser conhecida desperta-me totalmente do meu estado de dormência.

"Acorda! Por favor acorda!"

Pergunto-me se tudo isto que estou a ouvir é obra da minha imaginação, pelo som zumbido irritante e a intensa dor nos ouvidos que presenceiam o momento, mas mais uma vez voz fala.

Hopeless || {C.H.}Onde histórias criam vida. Descubra agora