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|| Calum ||

O contraste do ar frio com a temperatura elevada do meu corpo faz-me tossir repetidamente e engasgo-me provocado uma desesperada tosse que não consigo controlar por minutos.

"Respira calum, respira." Murmuro para mim próprio enquanto passo a mão sobre a testa mas mais uma vez a tosse volta.

Sentia a minha garganta a arder, o meu suor congela de um momento para o outro e os meus braços nus arrepiam-se sem que tenha tempo de me aconchegar. Não conseguia respirar com a saliva que se forçava a encravar na minha apertada garganta e só após algum tempo é que consigo voltar a respirar novamente.

Inspiro e expiro fundo.

Isto aqui era muito mais sossegado do que lá dentro. E agradável. Ouvia-se a música do lado interior da discoteca mas de uma maneira mil vezes mais abafada, como se o isolamento das paredes fosse tão eficaz que quase parecia que a discoteca estava a imensos metros de mim.

O som de uma pedra a ser chutada contra o piso do chão assusta-me e endireito-me preparando-me para qualquer tipo de ladrão ou bêbado que me podia atacar. Mas o que vejo não é uma figura masculina ou mesmo forte.

É uma rapariga.

O seu cabelo loiro estava preso num perfeito puxo tal e qual como estava no palco e apenas se conseguiam observar alguns traços da demasiado bonita face que continha dois enormes e brilhantes olhos azuis. Era ela, a rapariga do espectáculo, e muito mais bonita sem maquilhagem e sem estar a demasiados metros de mim cheia de roupa espampanante.

O meu coração falha uma batida começando logo a bater ao dobro da velocidade anterior quando os meus olhos realmente penetram nos dela. Eu nem conseguia acreditar que ela estava realmente à minha frente.

"Passa-se alguma coisa com a minha cara ou assim?" A sua doce voz enche o ar de uma forma angelical e arrepio-me mas não por causa do frio. Era ainda mais bonito quando ela falava do que eu tinha imaginado.

"Hey, meu? Estás bêbado?" Ela volta a perguntar e só aí me apercebo do quão fixamente estava a olhar para ela. Oh meu deus, devia parecer um psicopata.

"Eu.. Não desculpa. Estava apenas a ver que acho que te conheço de algum lado." Digo enquanto me aproximo dela e o seu olhar fica muito mais desconfiado agora, como se eu lhe fosse fazer mal.

"Uh, não, não nos conhecemos."

"Quer dizer, eu conheço-te! Não tu a mim!"

Consigo ver a sua expressão a ficar ainda mais confusa e bato-me mentalmente por ser tão estúpido. Eu nem para a porra de uma simples rapariga conseguia falar direito, quanto mais fazer com que ela me desse o seu número.

"Eu vi-te a dançar no espectáculo ao bocado, dançaste muito bem, a serio."

"Oh." É a única resposta que obtenho do lado dela.

Esperava um "muito obrigada" ou mesmo algum tipo de vergonha vinda do seu lado mas tudo o que recebo é um simples "oh". Mas nada.

Um silêncio estranho instala-se entre nós e anseio falar-lhe e até mesmo perguntar-lhe o seu nome mas a descontração do seu corpo e postura encostados contra o muro de pedra fazem-me retrair. Era como se ela estivesse a querer fazer com que me sentisse desinteressado e acabasse por ir embora por não conseguir aguentar com o tédio do momento, como se soubesse que eu realmente queria falar com ela mas eu era demasiado banal para a rapariga à minha frente se interessar.

O som de um isqueiro a ser acendido chama a minha atenção do chão para a sua direção e sinto o ar a fugir-me do espaço quando a luz do objeto lhe ilumina o azul dos olhos fazendo estes brilhar incandescentemente. Eu devia estar a ficar doente, muito doente. Porque o Calum habitual nesta situação apenas dava meia volta e passava para a próxima rapariga visto esta não parecer querer nada com ele.

Hopeless || {C.H.}Onde histórias criam vida. Descubra agora