O Começo do Fim

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— Cindy, cala a boca e confia na profissional aqui. — Eu aperto meus dedos no volante e lanço um olhar confiante para a garota em pânico ao meu lado.

Os olhos de Cindy encaram a enorme ladeira que está a nossa frente, é bem longa e inclinada, mas não é nada que eu não possa superar. Aliás, estamos atrasadas para a primeira aula e esse é o caminho mais prático para chegarmos à escola. Mas Cindy jura que vamos capotar o carro e sofrer uma acidente horrível, ela está praticamente tendo um infarto no banco do passageiro.

No banco de trás, Alice e Sam assistem ao show que Cindy está dando. Sam dá algumas risadas e tenta incentivá-la dizendo que sou acostumada a subir ladeiras altas assim com meu carro, mas Alice sempre volta a acabar com a confiança dela dizendo que eu quase capotei uma vez estando em uma rua normal. Ridícula. Foi só uma vez.

— Deena, eu tô falando sério. — Cindy me olha. Suas mãos estão segurando a barra da saia do uniforme com força e o peito desce e sobe constantemente com as respirações profundas que ela dá para se acalmar.

Ela está com medo de verdade, mas não precisa temer nada. Subir essa ladeira vai ser moleza, eu tenho um plano que consiste em pisar no acelerador com tudo e só frear quando já estivermos lá em cima.

— Amiga, vai ficar tudo bem. — Estico uma mão para acariciar seu ombro enquanto meu pé pressiona o acelerador levemente.

— Vou filmar. — Alice anuncia.

— Eu te odeio. — Cindy afirma enquanto me olha diretamente nos olhos.

— Dez minutos pra dar sete horas. — Sam diz depois de verificar seu celular.

Olho para Cindy uma última vez, ainda encontrando seu rosto aterrorizado.

— Vai ter que ser agora. Confia na mãe aqui. — Tento acariciar seu ombro, mas apenas ganho um tapa.

Ela respirou fundo enquanto eu pisava com tudo no acelerador. Seguro o volante com força, exercendo todo meu controle nele e foco na rua à minha frente com o máximo de atenção, torcendo muito para que nenhum pedestre surja do nada. A luz solar daquela manhã de segunda-feira não queimava nem esquentava tanto a pele, mas iluminava tudo com tanta força que atrapalhava um pouco a minha visão, porém nada demais.

Vejo pelo espelho retrovisor que Sam é jogada para trás no banco assim que eu arranco com o carro, tomando um susto com o movimento brutal que o carro fez. Alice dá risada apontando a câmera do celular para Sam. Tadinha do meu amor.

Estava tudo dando certo até o carro dar uma estancada brusca bem no meio da ladeira. Cindy solta o ar que estava prendendo e se agarra no banco.

— A gente vai morrer. — Sam diz na lata, arregalando os olhos ainda mais quando o carro ameaça descer com tudo, mas eu como uma motorista profissional logo puxo o freio de mão.

— Deena, eu vou me mijar, pelo amor de Deus. — Cindy faz uma cara de choro que me comove por alguns segundos, mas preciso focar agora.

— Tá tudo certo, galera, relaxa. — Eu digo totalmente calma, dando ré com cuidado e retrocedendo apenas alguns metros com o carro.

— A gente vai viver. — Minha Sam volta a falar, fazendo um joinha para a câmera de Alice antes dela virar o foco para o rosto aterrorizado de Cindy

— Conta pra gente a sensação de quase morte ao estar num carro pilotado por Deena Johnson. — Alice se faz de entrevistadora, esticando o braço para conseguir filmar a cara de Cindy melhor.

— Essa Stuart Little ridícula... — Ela começa a falar, mas é totalmente interrompida quando volto a acelerar com tudo, e então começa a gritar. O apelido ofensivo que ela usou foi a minha motivação para voltar a arrancar com o carro.

O Encontro de Um Dólar Onde histórias criam vida. Descubra agora