Capítulo 4 - Nosso 2º primeiro encontro

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Particularmente nunca tive um credo religioso ou coisa do tipo.. mas hoje.. chorei sozinho no meu quarto.. e fiz uma oração. E como não sabia a quem endereçar, simplesmente fiz um discurso sozinho e chorando e imaginando que estivessem ali o meu pai e o meu irmãozinho!:

"
Que descansem em paz todas as vítimas da maldade humana.
Que achem consolo no lugar onde estão agora.
Que vossos sorrisos puros e inocentes possam irradiar as manhãs desse lugar que agora vos pertence.
Às almas sem família para serem recordadas, um bom descanso!
Certamente todos morremos com cada morte vossa. Porque não posso considerar vida existir num plano onde não podemos ouvir vossas vozes. E nem podemos nos deleitar na carícia de vossas gargalhadas!
Então, nos aguardem! Por favor...
Pai!! Tavares!! Esperem por mim!
Guardem um pouco das risadas para quando juntamente com mamã, estivermos todos juntos.
Na eternidade dos pensamentos, iremos assistir todos filmes que quisermos sem tempo para sono nem cansaço... Tavares... Meu irmãozinho Tavares! Tu que tiveste a vida roubada 2 vezes! 1º na morte do nosso pai e agora com a tua própria morte! Desejo as vezes que não exista o além.. porque se existir, então sinto que vais sofrer a dor de não estar mais aqui e a dor da injustiça que foi a tua vida tão curta embora  nunca pequena!
No entanto, se o além não existir, não poderemos mais nos encontrar .. e nos encontrarmos é o que mais quero! Então, por favor, suporte essa dor.. . Eu sei que é um pedido muito egoísta da minha parte, mas nunca fui exatamente o tipo de irmão exemplar que se espera.. Então.. por favor, só mais uma vez!. Permita-me ser mau contigo. Suporte essa dor até que todos estejamos novamente reunidos. Até já! Do teu irmãozão!
"

                                          ***

Estou sentado no sofá principal da sala completamente imóvel. A senhora minha mãe, está aqui do meu lado com o rosto inexpressivo. Foram muitas choradeiras e muitas tristezas que o corpo já não sabe manifestar expressão.. Faz dias que não ouço sua voz e não a culpo. Perder o marido e um dos filhos num curto espaço de tempo é demais! Passamos assim os dias agora.. sentados.. a família do meu pai está aqui em casa e eles cuidam de nós. Dão banho a minha mãe e preparam-nos as refeições.

Aqui em casa agora é completamente vazio.. mesmo cheio de muitas pessoas, a casa nunca esteve tão inabitada!

Levanto-me e volto ao meu quarto. Aonde mais cedo, discursara ao meu pai e ao meu irmão..
Observo atentamente cada detalhe do quarto na tentativa de roubar alguma lembrança dalgum cómodo. Sei bem que Tavares costumava entrar aqui de tempos em tempos na minha ausência.. toco na cabeceira tentando sentir a gentileza dele.. mas nada! Que tristeza! Rrrrraaaaiva! Arrasto todos os livros da cabeceira ao lado da cama e os deito todos ao chão!!!... quero desarrumar tudo!!! Pra ver se escuto-lhe a voz: posso arrumar isso? Irmãozão?? Mas que tristeza!

Da cabeceira voou uma folha.. com um poema que escrevi há bastante tempo quando meu pai ainda era vivo..

"O mundo é menos cruel
Quando observado da janela do meu quarto.
Pouco se vê da minha janela
O que se vê é o necessário.

Um pedaço do céu.
Sem estrelas nem lua,
Sem nuvens nem sol.
Oxalá eu pudesse viver ali
Na janela do meu quarto.
Onde na sala, meus pais jantam sonhos
E embebedam-se de  alegria!

Pouco se vê do mundo, da minha janela..
A maldade não passa naquele pedaço do céu
Beldade também não.
Sem morte sem vida,
um pedaço do céu,
uma janela
e um menino.
"

Adeus, Catarina.Onde histórias criam vida. Descubra agora