Capítulo 8 - Adeus, Catarina(1)

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Passaram-se algumas semanas desde aquilo. Acredito que ela já até esteja em casa. E agora apercebo-me que não conheço a casa dela. Todos nossos encontros sempre foram algos não programados e circunstanciais.. tirando, claro, o suposto segundo primeiro encontro.
O que todos podem ter em comum, além do desastre, é a sensação que fica depois.
Uma vontade de querer repetir. Fica um gostinho na boca, uma saudade ausente no corpo, e a gente só quer o próximo encontro.
Ainda assim, resisti por todo esse tempo. Abstive-me do celular e de lhe fazer visitas. Claro, também não é como se ela conhecesse aqui em casa. Então não foi uma tarefa impossível ao todo. Porquê não lhe fui ver?
Acredito que seja por medo... Medo de não ser real..? De não terminar como imagino que termine, e assim, essa saudade iria morrer.. e eu não quero que morra. Esse sentimento me mantém ocupado e afastado de outros sentimentos... Ahh e se tudo isso for resultado dos lutos?
Imagino que talvez eu tenha inventado tudo.
Tenha sonhado tudo no dia em que Tavares morreu...
Sim... Isto tudo é um sonho. A realidade não é nada além de um sonho. Quando eu acordar deste sonho.. tudo fará sentido. Nem? A morte de Tavares foi um sonho. Um pesadelo!
Meu irmãozinho não morreu!... NEM??!!
Mas se é um sonho, porquê tenho 5 dedos em cada mão e os consigo contar?
Porquê dói tanto? Porquê sinto tanto ?

Ir ter com Catarina vai resolver tudo.
Mas talvez a resolução não seja favorável ... E se não for realmente, o que restará para mim? O que sobrará de mim?

E assim, entre angústias, incertezas e inseguranças, fiz quase 2 meses em casa a prolongar o encontro e a conversa que adviria do mesmo.
Mas não posso continuar assim. Minha mãe já está com minha avó, e eu estou só nessa casa.
Tenho que resolver isso.. e se for sofrer, que seja lá perto da minha mãe, minha avó e minha gente!
Sim..! Amanhã vou ao hospital obter informações.
(Continuei sem ligar o celular)

            ***

-Boa tarde meu senhor, quem deseja visitar?

-Boa tarde obrigado.. venho saber da paciente da sala 127-B.. Catarina Silvana Mendonça.

-..... Desculpa, pode repetir?

-Sala 127-B, Catarina Silvana Mendonça..

-..Lamento.. creio ter havido algum engano. Não existe nenhuma Catarina Silvana Mendonça internada nesse quarto e nem nesse hospital..

-MAS... é possível mesmo que não esteja?... Ahm! Sim.. com toda certeza, desculpa. Não fui claro... Ela estava aqui, pelo menos até uns 2 meses atrás. Eu mesmo a trouxe...! Então.. teve alta.. okay.. obrigado.
Desculpa, posso saber ao certo quando teve alta?

-Lamento, mas não estamos autorizados a passar essa informação. A menos que prove ter algum parentesco ou relação significativa com a paciente.. ex-paciente..

-Hmm.. eu mesmo a trouxe.. isso não é prova suficiente..? Mas.. está bem está bem.. nem devia ter vindo mesmo.. obrigado enfermeira... Obrigado

Abandonei o balcão de atendimento, e ia dirigindo-me para fora do hospital.
Aquilo foi o sinal.. melhor deixar as coisas assim! Acho que não aguentaria se não fosse como desejado..!..

Estava mesmo prestes a sair do hospital quando vi uma figura embaçada correndo em minha direção.
Poderia ser ela?
Como poderia!? Isso não pode ser.. pode? Vamos lá! Isto não é uma história fictícia de romance clichê.. isso é a vida. As coisas não são assim tão simples...

Aos poucos a figura vai ganhando forma.
Os vultos vão dando espaço à um corpo volumoso nada comparado ao da Catarina.
É o doutor!

-OL...Á?

-Boa tarde doutor.... Vamos.. sente-se um pouco.
Não pode andar a correr por aí como se fosse um jovenzinho.. aí está o preço.

- Um.. uma língua afiada tens aí jovem...

-Haha... Não dê muita importância a isso.. por favor.. 

-Certo, certo... Vi-lhe a sair do balcão de atendimento e logo lembrei-me de si e daquela jovem que trouxe.. a Mendonça.

-Sim.. eu vinha fazer-lhe uma visita.. mas parece que já teve alta.. e não me dão mais informações que isso. Eu até tentei pedir..
Espera! O doutor por acaso teria alguma informação útil?

-..claro! Ou acha que gosto assim tanto de correr por aí feito louco?
A Mendonça teve alta há 1 mês. Deveria ter sido mais cedo, mas ela insistia que estava esperando alguém.. pediu-me ao máximo que atrasasse a alta.. e até fiz.. por cerca de 8 dias a fazer testes desnecessários. Mas tu nunca apareceste. Também não lhe atendias as chamadas..  seu malvado. Fazendo uma garota tão delicada sofrer... Mas ainda assim, ela confiou que tu algum dia virias.. então escreveu esta carta e pediu-me pra entregar-te.

-.... Obrigado doutor... Sim.. algumas coisas surgiram.. não consegui vir pra cá... Lamento tanto..

-E deverias mesmo!

            ***

Sento-me no sofá da sala.. ajeito meus sentimentos.. vou conseguir.. é só uma carta.. melhor ler logo.
O envelope que o doutor entregou-me tinha um cheiro.  Um cheiro de primavera, cheiro do arco-íris e do tesouro no fim deste. Tinha fragrâncias de esperança.. nostalgia e borboletas.. e olha que nem conheço cheiro de borboletas. Era o cheiro da Catarina.
Uma lágrima desliza sobre meu rosto e deixo cair a carta de tanta ansiedade e saudade. Ao apanhar, as últimas palavras saltam à vista:
Adeus, Catarina..

Adeus, Catarina.Onde histórias criam vida. Descubra agora