Capítulo 10 | Despedidas e Confissões

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Com o coração batendo tão forte que ele mesmo é capaz de escutar, Soobin fecha a porta do quarto cuidadosamente para não acordar Yurin, que cedera a um sono tranquilo minutos após passarem pela porta do apartamento 502.

Nem o súbito entusiasmo da garotinha em ver a mulher – até então – desconhecida havia sido o bastante para mantê-la de pé.

A cena na portaria foi digna de novela, com direito a abraços apertados e lágrimas mal contidas, porém também trouxe um forte aperto no peito dos Choi.

Agora Soobin vê que, no meio da rotina agitada das últimas semanas, eles se esqueceram por um momento de que as coisas jamais poderiam ser assim para sempre.

Cuidariam da bebê por no máximo três semanas, esse era o trato que haviam feito, embora eles tenham acabado de perceber que nenhum dos dois quer deixá-la ir.

Soobin sabe que esse é o melhor para Yurin. Ele tenta ignorar o sentimento ruim enquanto caminha em passos hesitantes até a sala, onde yeonjun e a convidada o aguardam.

Desajeitadamente ele puxa uma cadeira e se senta ao lado de Yeonjun, trocando um breve olhar aflito antes de mirar a mulher à sua frente. Os fios escuros caiam sobre os olhos cansados e inchados da mulher que devia ter por volta de trinta anos, e ainda que ela pudesse parecer um tanto deplorável desta perspectiva, o pequeno sorriso aliviado em seus lábios iluminava suas feições.

O mais novo não sabia explicar o porquê, mas estremeceu diante da mulher. O sentimento de claustrofobia aumentando a cada instante a mais que passavam em silêncio dentro daquela sala, até que sentiu dedos macios se entrelaçarem nos seus.

Apertou fortemente a mão do vizinho quando o silencio foi finalmente quebrado e a mulher começou a explicar o que ele tanto queria ouvir, ao mesmo tempo que daria tudo para evitar de escutar.

— Vejo que vocês têm tomado conta dela com muito cuidado, estou aliviada. Sou muito grata a vocês, meninos. — ela agradece, abaixando a cabeça em uma reverência educada.

— Sem problemas, mas... a senhora é a mãe de Yurin? — o mais velho questiona, sentindo o aperto em sua mão se intensificar.

— Não, eu sou a tia dela. Acho que devo a vocês uma explicação. — ela suspira — Minha irmã sempre foi uma pessoa muito instável, por isso constantemente me preocupava com ela e Yurin, mas nunca imaginei que de repente ela seria capaz de fazer algo como isso.

A voz da mulher, que haviam descoberto se chamar Na Haewon, começou a quebrar e Yeonjun foi rápido em lhe estender a caixinha de lenços.

— Eu só fui descobrir isso há alguns dias atrás quando fui visitá-la e ela me contou o que havia feito com a filha. O estado dela era deplorável, tão bêbada que mal conseguia falar e havia todo tipo de lixo que se pode imaginar naquele apartamento.

"O pai de Yurin costumava ser o chefe dela, mas tudo acabou quando eles tiveram um breve caso e ela engravidou. Eles não se falam desde então e foi por isso que ela achou que ele ainda morasse aqui, desculpe por causar tantos problemas à vocês. Mas na verdade estou feliz que não a entegram para o orfanato ainda, isso faria as coisas muito complicadas."

— Então... Você pretende devolver a guarda dela para a mãe? — Soobin pergunta em um fio de voz.

— Não, jamais! — haewon protesta — Eu quero a guarda definitiva de Yurin, não julgo minha irmã capaz e muito menos alguém interessada em criar uma criança.

A coração de Yeonjun doeu em um misto de tristeza e alívio desnorteante, errando uma batida e sendo tomado por um frio súbito. Ele não conseguia se mexer, um filme passava em sua cabeça, todos os momentos que passara ao lado da garotinha e o sentimento caloroso lhe tirando qualquer capacidade de raciocínio por alguns instantes.

O Choi sempre soube que esse momento chegaria, na verdade, rezou muito para que chegasse. Rezou para que Yurin tivesse alguem que zelasse por ela e que a situação fosse resolvida, pelo bem de sua garotinha, Yeonjun sempre desejou que ela tivesse todo o amor de uma família. Afinal, não é menos do que ela merece. Yeonjun sabe o quanto a falta desse carinho deixa cicatrizes eternas nessas crianças.

Yeonjun sabe muito bem, ele sabe mas ainda assim... Ainda assim, por que ele sente como se estivessem lhe roubando um pedaço de seu coração?

Não. Isso não está certo.

Ele fecha os olhos e tenta se recompor, forçando sua voz quebradiça a pronunciar as palavras.

— Tudo bem — disse e sentiu a mão de soobin apertar a sua a ponto de machucar. Não teve coragem de desviar o olhar da mulher à sua frente, mas teve certeza que os olhos arregalados do vizinho estavam o questionando com certo desespero — mas tenho um pedido, espero que não leve a mal haewon-ssi.

— Ah, mas é claro! — ela sorriu grande, os olhos brilhando — Devo muito à vocês, afinal.

— Por favor, volte em alguns dias com o assistente social que vai cuidar da papelada da transferência da guarda. — e então sua voz fraqueja — Seria como uma despedida para nós, acho que precisamos desse tempo.

A esse ponto soobin apenas mirava o chão, estático. E continuou assim enquanto a discussão entre a mulher e Yeonjun se desenrolava.

Haewon acabou por concordar em deixar Yurin na casa dos Choi por mais dois ou três dias, afinal, não tinha tantos motivos para se opor a súplica do menino à sua frente. Ela já havia confirmado que são bons meninos e que Yurin fora muito bem tratada, além de enxergar o carinho nos olhos dos garotos.

A gratidão enchia-lhe o peito ao se despedir dos vizinhos minutos depois e sair do apartamento 502 à passadas determinadas, deixando com que um silêncio desolado caísse sobre o cômodo.

Com as mãos tremendo, Yeonjun trava uma longa batalha para passar a chave na porta, até que um soluço vindo do outro lado da sala o faz gelar.

Largando a tarefa pela metade, ela se vira e seus olhos recaem em soobin, sentado de maneira desajeitada no piso gelado e tentando inutilmente conter os próprios soluços.

Em uma fração de segundo ambos estão no chão da sala, os braços de yeonjun envolvendo o maior com força e enfiando o rosto debulhado em lágrimas no vão de seu pescoço, o aperto sendo igualmente retribuído pelo choi mais novo.

Ficaram alí por longos minutos, em meio as fungadas discretas do mais velho e os tremeliques involuntários de soobin, tentando de alguma forma transmitir um ao outro um conforto que não possuíam. Ao menos, os fazia se sentir melhor pensar que estavam nisso juntos.

— Yeonjun — chama com a voz embargada, abafada contra a pele do loiro — eu não queria que nada disso acabasse.

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Quem é vivo sempre aparece!

Um capítulo mais baixo atral mesmo, porém ele é necessário. Sendo realistas, os meninos não poderiam ficar com a Yu pra sempre né? :(

Mas relaxem, de acordo com o meu planejamento ainda temos mais uns cinco capítulos de SB pela frente.

Mais uma vez, obrigada por todo o carinho que vcs dão pra SB, eu não consigo colocar em palavras o quanto isso é importante pra mim.

Espero que tenham gostado e até a próxima <3

Surprise Box! • yeonbinOnde histórias criam vida. Descubra agora