Cinco: Vetores divergentes

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Ele não apareceu. Não naquele dia. Maya havia perdido sua preciosa manhã de sábado o esperando, e focara na sua leitura da bíblia que a havia ensinado sobre mansidão.

Quando o alarme soou 11:00, ela saiu do quarto a fim de perguntar ao pai o que fariam para o almoço, e encontrou apenas um bilhete que dizia que ele iria ficar até mais tarde na oficina, junto com um dinheiro para que ela comesse no pequeno restaurante da dona Mary.

Maya colocou ração para o gato ouvindo o bichano ronronar e soltar em toda a sua roupa os pelos acinzentados, e se lembrou de que podia aproveitar e passar na biblioteca do colégio para pegar um livro para ler no fim de semana, já que seus planos não se estendiam muito além de ir tomar sorvete com Bec no clássico domingo do sorvete, e ir à igreja.

A garota amarrou o cabelo em um coque alto com alguns cachos soltos, e colocou uma calça jeans folgada, uma blusa que ela gostava e um tênis branco.

O dia estava bonito, e ela se sentiu em um filme a Disney quando se viu cantarolando baixo. Por um momento, ela torceu para que alguns pássaros aparecessem, mas por algum motivo que ela não entendia, na vida real isso nunca dava certo.

A única coisa que ela viu, e esfregou os olhos para ver se estava enxergando direito, foi o carro do Campbell estacionado em uma árvore perto do colégio.

Ela ia se virar e sair, imaginando que deveria estar acontecendo algum tipo de festa escondida dos colegas dela pelos quais ela nunca era convidada, mas se surpreendeu ao ver que ele estava pelo lado de dentro do veículo.

Dormindo.

A garota se abaixou a fim de vê-lo melhor sob a janela, e mesmo tentando não fazer barulho, acabou soltando um grito quando um bicho asqueroso pousou no braço dela. Nicholas levantou em um pulo, e os dois gritaram ridiculamente olhando um para a cara do outro no susto.

— Você é maluca garota?

— O que você está fazendo aqui? — ela franze o cenho e olha para o braço, suspirando aliviada ao ver que o besouro já havia saído.

— Não é da sua conta! — ele responde estressado e abre a porta do carro, saindo do veículo.

— Você passou a noite desse jeito? — ela perguntou novamente, reparando que ele ainda usava as mesmas roupas da noite anterior. Agora amassadas.

— Não te interessa, Olsen.

— Você está com remela no olho.

— Como? — ele disse incrédulo. Surpreso com a audácia da garota, ele esfregou os olhos e tentou não revirá-los depois ao contemplar a frase do dia na blusa que ela estava usando. "Posso ouvir um amém?" — Amém.

— Quê?

— Nada, saia daqui. — ele balançou a cabeça e levou as mãos ao bolso, conferindo se estava com a carteira. Seu estômago estava doendo de fome. Ele não havia se dado conta de que tinha dormido até tão tarde.

— Olha Nicholas, se você realmente quer desistir disso me fala, e avisa o professor pra me dar a chance de dar monitoria a outra pessoa. Eu preciso daquela bolsa no curso avançado. Custava pelo menos ter me mandado uma mensagem avisando que não iria a minha casa hoje?

— Eu disse ontem que não iria, não tenho culpa se você não escutou.

— Certo, eu já entendi. — ela assente chateada e se vira para sair. Nicholas sente a culpa o atingir em cheio ao perceber que havia descontado em Maya seus próprios problemas, e a chama no impulso.

— Olsen, espera!

— Não.

— Me desculpa. Não queria ter sido grosso com você. — ele solta e vê a garota parar de andar, ainda de costas.

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