no reason.

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Any Gabrielly;
Segunda-feira.

Eu dirigia pelas ruas movimentadas de Nova York pensando em como eu iria o cumprimentar, explicar e pedir. Como ele estava?

Conseguir o número e endereço atuais de Beauchamp não foi difícil, tenho meus contatos. Lá na empresa todos gostam de mim, inclusive o meu chefe. Aquele velho nojento vive dando em cima de mim, e foi apenas pedir esse favor à ele que ele me conseguiu o número e endereço dentro de dez minutos.

Em todo esse tempo eu me segurei para não pesquisar nas redes sociais, para ver como Josh estava, se estava vivo... eu pretendia nunca mais ver ele, mas parece que o universo conspirou contra minha vontade.

Eu não sabia qual era a sua situação, se ele estava bem de vida, trabalhando, qual rumo ele seguiu... mas assim que estacionei em frente ao condomínio que Beauchamp morava, eu tive certeza de que ele tinha grana, pelo menos para se sustentar. Era um dos condomínios mais chiques de New York City.

Eu e Luna morávamos em uma cidade vizinha de NYC, uma cidadezinha pequena e tranquila que tinha apenas o necessário. Ficava à uns quarenta minutos da capital do estado, então sempre que dava eu vinha à cidade para fazer compras.

Você chegou ao seu destino. — ouvi a voz estranha do GPS falar e parei meu carro perto da entrada do prédio, saindo em seguida do veículo com minha bolsa em mãos. Eu dei longos passos até a salinha do porteiro.

— Boa noite, posso ajudar? — o porteiro gordo e grisalho perguntou-me gentilmente, e concordei, sentindo minhas mãos suarem.

— Eu gostaria de visitar o apartamento de Joshua Beauchamp. — informei e ele assentiu.

— O nome da senhorita? — perguntou.

— Gabrielly Soares. — falei meu segundo nome acompanhado de meu sobrenome, pois iria demorar muito para explicar que meu nome não significa realmente "qualquer" e que ele era um nome estrangeiro, e no momento o que eu mais precisava era tempo, não podia gastá-lo em vão. Minha pequena corria mais e mais risco de morte à cada segundo que passava.

— Bloco 'C', décimo segundo andar, apartamento cento e vinte e um. — o porteiro falou, depois de trocar algumas palavras com alguém no interfone.

Então Josh liberou minha passagem?

É, agora não tinha mais volta. Eu estava prestes à encontrar a pessoa que eu mais amei no passado, e também a que mais me machucou.

Depois de exatos três minutos – sim, eu contei –, cheguei em frente ao apartamento dele. Demorei mais um minuto para criar coragem de apertar a campainha, e, assim que apertei, pude ver a porta se abrindo.

Era agora.

Eu veria ele depois de quase cinco anos.

Ele estava com a mesma aparência?

Ele era o mesmo?

Não. Ele não era o mesmo Josh. Deixou de ser quando decidiu trair a adolescente frágil e grávida que tanto o amava, quebrando o coração e a saúde mental dela em mil pedacinhos.

Quando a porta foi aberta por completo, fiquei frustrada.

Uma figura feminina apareceu em minha frente, mas não era uma mulher qualquer. Ela era bonita. Muito bonita. Alta, de cabelos negros, olhos da cor do mel, muito bem vestida e maquiada.

A moça me encarou com um olhar intimidador, que fez-me estremecer.

— Desculpa, eu errei o apartamento? — perguntei confusa e ela sorriu de lado, mas não um sorriso simpático. Eu diria, um sorriso... debochado? Intimidador? Eu não sabia decifrar o que era que a moça queria me passar, mas com certeza coisa boa não era.

— Então você é a famosa Any Gabrielly? A mulher que partiu o coração de Josh? — ela disse, com ódio na voz.

Bela namorada, Joshua. Bela namorada.

— Sabina, vai pra dentro. — ouvi uma voz rouca atrás dela, e estremeci ao perceber quem era o dono da voz.

A mulher nomeada Sabina, entrou no apartamento e ele apareceu em minha visão.

Era realmente ele, cada detalhe.

Beauchamp estava totalmente diferente, apenas uma coisa não havia mudado: seus olhos azuis e intensos, que me encaravam intensamente.

Joshua estava musculoso, dava para perceber isso mesmo com o moletom preto que ele usava. Estava mais alto, acredito eu. Estava realmente um homem, e não um adolescente.

— Quer entrar? — ele perguntou, e pude perceber uma pontada de deboche em sua voz. Neguei com a cabeça.

— Não precisa, eu vim rápido. Preciso conversar com você, a sós. — falei e ele me analisou uns instantes, antes de assentir e fechar a porta, parando em minha frente.

— E então? O que a mulher que eu tanto amava e que me abandonou sem mais nem menos, gostaria de falar? — ele perguntou.

— Sem mais nem menos. — repeti sua frase, com um deboche escancarado na voz.

— Você não tinha motivo. — Joshua sussurrou.

— Beauchamp, você realmente não sabe o motivo? — perguntei e ele levantou seu olhar para mim, me deixando sem resposta. — Ok. Você venceu. Você achou que eu não ia descobrir que estava me traindo?

— Traindo? O que? Any, eu jamais faria isso. Eu amei você mais do que tudo. — Josh falou me olhando nos olhos, fiquei pasma.

Merda. Isso não poderia ter acontecido. Ele me deixou frágil apenas com uma frase.

Não. Isso não, Any. Ele é passado.

— Nós temos uma filha de quatro anos. — falei, sem mais demora. Josh riu, mas assim que percebeu que eu permaneci séria, fechou a cara.

— Que merda você tá falando, Any?

Saquei meu celular da bolsa, e mostrei para ele a foto da minha tela de bloqueio – eu e Luna de pijama e pantufa, fazendo pose no espelho de meu quarto.

— Não é minha. — Josh falou, e tive que rir.

— Não é sua? — falei, gargalhando. Prova viva da frase "rir pra não chorar".

— Tá, tá bom. Eu tenho uma filha. — ele disse, assimilando o que acabou de ouvir. — Por que agora? Só porquê eu moro num prédio luxuoso e... — o interrompi.

— Caralho, Joshua. Você realmente acha que eu vim aqui por dinheiro? Seu ridículo. — eu disse, olhando em seus olhos.

— Por quê veio então?

— A Luna precisa de você, do seu sangue na verdade. Eu preciso que você venha comigo agora, te explico no carro. Ela tá no hospital, Joshua. Eu não posso perder ela, ela é tudo pra mim! — eu implorei e ele olhou ao redor, tentando entender a ideia de que ele tem uma filha.

— Tá bom, vamos. — ele disse, depois de quase um minuto em silêncio, processando lentamente o que eu havia falado. Suspirei aliviada e agradeci mentalmente.

Eu esperava que Joshua não quisesse entrar na vida de Luna, ela não precisava de um pai.

Eu não precisava dele em minha vida novamente, não depois de tudo o que aconteceu. Ele me deixava muito frágil, vulnerável, e eu tinha medo que essa vulnerabilidade em relação à ele voltasse de repente. Isso não poderia acontecer de jeito algum.

𝗹𝘂𝗻𝗮Onde histórias criam vida. Descubra agora