#4 - Aquela voz

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Seguimos para a zona do medo em nossa nave, não sei se Catra compartilhava do mesmo sentimento que eu, voltar aqui ainda era meio esquisito, relembrar tudo o que passamos. Parece que ela sente isso e segura minha mão.

— É esquisito, né? — Ela fala me olhando, confirmo com a cabeça deixando um longo suspiro. — Quer conversar?

— Eu não sei... — Solto sua mão olhando pra fora da nave, não é só ir pra lá que incomoda, é tanta coisa. — Não é só a zona do medo, é a visão também, será que eu nunca mais vou ter?

— Pode ser que demore mais um pouco, não sei, mas acho que não foi uma visão e sim um contato com você. — A olho espantada. — Que foi, Adora?

— Eu.te.amo. — Falo pausadamente dando vários selinhos em Catra, ela nem estava entendendo. Ela acabou de decifrar isso, não foi uma visão e sim uma comunicação, alguém em outra realidade me chamou, precisa de mim.

— Por que esse surto de amor? — Ela fala rindo e eu seguro sua mão.

— Catra, você tem razão. — Ainda sem entender, ela franze o cenho. — Não foi uma visão, essa moça se comunicou comigo, ela está em outra realidade e conseguiu se conectar.

— Isso é possível? — Pra alguém fazer isso, precisa de magia, com certeza essa mulher já mexeu ou mexe com isso.

— Eu não sei, só sei que ela tem magia lá, mas não deve ter sido fácil para fazer aquilo, por isso a demora para se comunicar de novo. — Falo desesperada, há chances de eu salvar ela. — Catra, eu preciso ajudá-la.

— É muita coisa pra processar, calma. — Medo, se ela soubesse que eu tô cheia de medo também, não faço a mínima ideia de quem seja. — Eu só... tenho medo de você tentar se comunicar e ficar presa lá.

— Eii, eu não vou ficar presa lá, eu voltei na primeira. — A abraço e ela retribui me apertando mais, vai ser difícil descobrir como ir pra lá. — Olha pra mim.

Nos soltamos do abraço, seguro seu rosto colando nossas testas.

— Eu te prometo que não vou ficar presa lá, confia em mim, por favor. — Uma lágrima cai do rosto de Catra e eu a limpo. Não tiro sua razão, eu tô morrendo de medo de perder ela, mas não posso simplesmente ignorar essa moça me chamando.

Eu confio em você. — A beijo para mostrar que nunca mais vou sair de perto dela, nem se ela quisesse que eu vá embora.

Nos separamos e ela me abraça de novo, ficamos uns minutos só sentindo o calor uma da outra, precisávamos disso, eu preciso dela.

Adora, já estamos chegando a zona do medo. — A nave avisa nos tirando da nossa bolha.

— Pronta? — Pergunto pra Catra sorrindo.

— Pronta! — A nave pousa, saímos dela e damos de cara com Scorpia e Perfuma nos esperando, elas vem em nossa direção sorrindo.

Nos aproximamos mais e somos recebidas pelo melhor abraço de Etheria, o da Scorpia, logo atrás vem Perfuma.

— Fico tão feliz que vocês estão aqui. — Perfuma fala me soltando do abraço e indo pra Catra, eu amo que ela está tentando mesmo se reconciliar com as meninas.

— Estou também de estar aqui, obrigada pelo convite. — Falo seguindo as duas para dentro do castelo, aqui mudou muito desde que Scorpia assumiu seu posto de princesa. É lindo ver que ela não quis sair daqui e esquecer tudo, mas sim usou isso pra melhorar.

— Aqui tá bem diferente desde a última vez, prefiro assim. — Catra fala reparando no local, é muito estranho estar aqui com tudo totalmente diferente.

— Eu também, o ambiente mudou. — Scorpia diz sorrindo, logo chegamos ao jardim, eu não lembrava que tinha, deve ser obra da Perfuma. — Sim, foi a Perfuma que fez.

— Confesso que amei, podem falar que arrasei. — Perfuma bate palmas sorrindo, realmente o que ela fez aqui ficou lindo, já não tem aquela cor morta, agora tem vida.

— Não gosto muito de flores, mas até que gostei desse jardim. — Catra é tão sem filtro que me deixa com vergonha as vezes.

— Amo flores, gostei bastante. — Falo indo em direção a várias rosas, são minhas preferidas e Catra vem logo atrás.

— Uma flor para outra flor. — Catra pega uma rosa e me entrega, não aguento e acabo rindo do que ela diz. — Ei, não é pra rir.

— Isso foi muito brega. — Ela revira os olhos sorrindo, brega demais até pra ela. — Mas eu amei, minha gatinha.

Dou um beijo em sua bochecha e ela cora, parece que a gatinha tem vergonha na frente das pessoas, bom saber. Nos aproximamos novamente das duas, preciso saber por onde começar a restaurar esse lugar.

Scorpia me orienta a começar pela floresta e seguir para o resto dos cantos, me transformo em She-ra e despeço das 3. Eu gosto de fazer isso, não sei se conseguiria viver sem ser She-ra, sem me sentir útil.

Acho que eu tenho uma grande necessidade em ajudar a todos, nessas idas e vindas, eu acabo esquecendo de mim, sei que não devo e é muito errado, mas é um instinto que não consigo perder.

Sigo pela floresta caminhando para o centro, um silêncio gigantesco se faz presente. É esquisito pensar que semanas atrás estávamos lutando por esse lugar e agora não tem nada, nem bichos, tá muito estranho.

Tá tudo tão calmo aqui que parece que só tem eu na floresta, algo normal não está, pego minha espada e continuo caminhando.

— Adora? — Aquela voz. A moça está aqui, mas não consigo vê-la, procuro por todos os lados, em todas direções e não consigo ver ela.

— Eu não consigo te ver.— Grito de volta olhando ao redor e não consigo ver nada. — Me fala seu nome, eu preciso saber quem é você.

Grito mais uma vez e sem sucesso, procuro mais uma vez e tudo começa a girar, abaixo colocando as mãos nos meus ouvidos, há um ruído bem no fundo me incomodando. Tento levantar e tudo fica preto, acabo desmaiando.

THE PAST ( O PASSADO ) / CATRADORAOnde histórias criam vida. Descubra agora