p.o.v. amanda
Acordo em mais um dia que parecia normal... ou pelo menos, eu esperava que fosse. Visto meu vestido florido preferido, calço meus inseparáveis All Star, e desço as escadas do prédio ainda sentindo o peso do cansaço da noite anterior.
No caminho, faço uma parada rápida no Café de Flore, meu refúgio matinal. Peço o mesmo café de sempre, saboreando o calor reconfortante da bebida. Enquanto tomo o último gole, chamo um táxi. Dormi tarde ontem, e isso ainda me pesa nos ombros. Hoje é um dia especial: tenho um encontro. Faz dois anos que ninguém me chama para sair, então não é surpresa que eu esteja nervosa, quase ansiosa demais. Ontem, Timmy e eu conversamos por horas em chamada de vídeo, e, mesmo depois de nos despedirmos, voltamos a conversar. A voz dele é suave, envolvente... e ele é simplesmente maravilhoso. Falar com ele me faz sentir como se o mundo estivesse, de repente, mais iluminado
{relambrando a call de ontem}
timmy: você é linda amanda
timmy: não sei como ainda está sozinha
eu: para de me elogiar, eu não sei como responder e fico sem graça
timmy: mas você é, oque eu posso fazer
O silêncio que seguiu foi confortável, quase íntimo. Ele me olhava através da tela com um sorriso tranquilo, e eu, do outro lado, provavelmente estava corando como um tomate. Estou realmente começando a gostar dele... Faz tanto, tanto tempo que não sentia essa leveza, essa euforia que acompanha o início de uma paixão. O frio na barriga, o coração acelerado... Queria que ele estivesse aqui, deitado no meu colo enquanto eu mexia nos cachinhos dele. Mas mal nos conhecemos, não é? Será que isso é normal? Será que amor à primeira vista realmente existe?
eu: então...amanhã as 9, ne?
falei tentando quebrar o silêncio
timmy: err sim, vou te levar num lugar surpresa
eu: to ansiosa, e com medo de você ser um serial killer e me matar
ele ri da minha frase
timmy: talvez
eu: ta repreendido em nome de jesus
eu: me fala para onde a gente vaii, eu quero saber
timmy: amanhã você vai ver
timmy: vedrai quanti baci ti darò
eu: droga você sabe que eu não entendo italiano
timmy: falei em italiano justamente por isso
eu: a não pode falar agora oque você disse
timmy: era uma coisa boa, preocupa não
eu: vou por no tradutor
timmy: quero ver você lembrar da frase
disse ele me desafiando com um sorrisinho travesso
eu: vai se fuder timothée
{final da memória}
Fiquei um pouco irritada quando ele soltou aquela frase em italiano, só porque sabia que eu não entenderia. Se ao menos eu lembrasse das palavras, colocaria no tradutor, mas a memória não colaborou dessa vez.
Chegando na faculdade, mergulho nos meus desenhos. Tenho um monte de ideias novas para as peças que quero criar. Porém, sou interrompida quando minha superiora me chama em sua sala. Largo o caderno e vou ao seu encontro, sentindo uma leve apreensão.
— Bonjour, Amandine, — ela me cumprimenta com um sorriso acolhedor, apontando para a cadeira à sua frente. — Sente-se, por favor.
— Bonjour, superiora, — respondo, tentando esconder meu nervosismo. — O que a senhora deseja falar comigo?
— Minha querida, tenho observado seu trabalho desde que chegou aqui. Você é uma das estudantes mais talentosas que já tivemos, com um traço único que, em meus 34 anos de experiência, nunca vi igual. — Ela sorri com sinceridade, e meus olhos brilham ao ouvir suas palavras. — Por isso, decidi propor uma coisa: gostaria de reduzir o tempo do seu curso. Você já é tão experiente que não vejo motivo para ficar mais dois anos aqui. Em pouco tempo, poderia abrir sua própria loja e se tornar uma estilista excepcional! Obviamente, não agora, mas daqui a um mês, talvez até menos. É raro que eu faça isso, mas quero abrir essa exceção para você. O que acha?
— Superiora, não imagina como isso me deixa feliz... muito, muito obrigada! Eu adoraria seguir com sua proposta, — respondi com um sorriso que refletia toda a minha gratidão. Ela me desejou sorte e me liberou, deixando-me sair de sua sala com o coração leve e cheio de entusiasmo.
p.o.v. narrador
A Superiora Díaz, uma mulher sábia de 59 anos, carrega consigo uma história de vida impressionante. Seus cabelos grisalhos e crespos refletem sua experiência e resiliência, enquanto sua pele negra é um testemunho de sua força e orgulho. Nascida na Angola, em uma família humilde, enfrentou muitas dificuldades desde cedo. Perdeu a mãe ao nascer sua irmã mais nova, e desde criança trabalhava nas ruas, vendendo balas nos sinais. Com 19 anos, conseguiu uma bolsa de estudos em uma das melhores faculdades da Argentina, e foi a partir daí que sua vida começou a mudar.
Com muito esforço e dedicação, Díaz construiu uma carreira brilhante no mundo da moda, mudando-se para Paris para seguir sua paixão. Nunca se casou, mas aos 30 anos adotou um menino de 9 anos, oferecendo a ele o amor e cuidado que sempre desejou receber. Para Amanda, Díaz é mais do que uma mentora; ela é um exemplo de força e perseverança, uma verdadeira inspiração que mostra que, com determinação, é possível alcançar o que se deseja, não importa as adversidades.
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continua<3....
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Juste toi et moi (só eu e você) - Tchalamet [EM REVISÃO]
RomanceAmanda Rossi, uma brasileira cujo maior desejo era se tornar uma estilista reconhecida por suas criações únicas e originais, se forma na faculdade de moda e se muda para Paris, com o objetivo de realizar seu sonho, ela só não contava que iria esbarr...