༼𝑷𝒓𝒐́𝒍𝒐𝒈𝒐༽

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3 de julho de 1998
9 anos de idade

Uma criança descobrindo coisas novas, era assim que eu me descrevia. Aprendendo a viver adequadamente, e vivendo da forma mais intensa possível, eu gostava de acordar sem saber o que aconteceria durante o dia, surpresas era o que me animava nos meus dias turbulentos.

S/N: Pai? - chamei por ele que tinha os olhos fixados na TV

- Sim?

S/N: Você não acha que a mamãe tá demorando muito?

- Ela deve está fazendo hora extra meu amor, sabe que sua mãe não recusa um dinheiro a mais - riu entre as palavras

Minha mãe trabalhava como recepcionista em uma empresa na qual ela recebe bem, não era o melhor emprego da época, mas ajudava em casa, que no momento estava precisando mais que o normal.
Meu pai estava desempregado, arrumava uns bicos de vez em quando, mas nada fixo. Era exatamente por esse motivo que minha mãe estava trabalhando tanto, era ela quem supria todas as necessidades que se faziam presente.

Éramos uma família feliz. Eu sabia como era amada, não tinha do que reclamar, podia faltar tudo, mas eles sempre estavam ali. Eu me sentia sortuda. Não eram todas as crianças que tinha amor de pai e mãe, eu procurava ao máximo dar o meu melhor como filha.

Procurava tirar notas boas, estudar tudo que eu podia para dar um futuro bom aos meus pais, que sempre fizeram tudo por mim. As vezes, nos tempos livres, eu assistia meu pai batendo em um saco de pancada, sempre achei esquisito e não entendia, até o dia que eu pedi pra me ensinar, até então eu comecei a gostar, e passei a treinar isso com ele.

Até o momento, a noite estava normal, assim como todos os dias. Até que uma ligação mudou um pouco as coisas Naquela noite.

Mal sabia eu, o inferno que estava para começar

S/N: O telefone tá tocando

Ele foi atender o telefone da casa, escutei algo do tipo "sim sou eu" e "sim é minha esposa", logo em seguida escutei o telefone caindo no chão e meu pai imóvel no lugar.

S/N: Aconteceu alguma coisa?

Me olhou receioso, mas ele sabia muito bem que eu entenderia qualquer coisa que me dissesse, com um pouco de esforço, ele juntou palavras, porquê até então, só saia sons nada haver de sua boca.

- Filha... sua mãe...bateu o carro no caminho pra casa

Tentei me manter o mais calma possível, estava vendo o semblante vazio que se formou em seus olhos, não queria deixá-lo ainda mais desaparado.

S/N: E... como ela está? - minha voz estava trêmula na tentativa falha e segurar o choro

4 de julho
09:00 Am

Enfim, um velório, pessoas vestidas de preto e barulhos de choro em todos os lados. Quem diria que o primeiro velório que eu iria na vida, seria o da minha mãe.
A família estava toda aqui, eles sequer olhavam na minha cara, mas eu não me importava de qualquer maneira. Meu pai estava destruído, acho que nunca vi ele desse jeito.

Meus avós, algumas tias e tios, meus primos e alguns amigos da minha mãe, todos estavam incrédulos, ninguém esperava por algo assim. A notícia pegou todos de surpresa, ninguém acreditava, nem eu, eu não queria acreditar.
Fiquei do lado do meu pai o tempo todo, me doía o coração ter que assistir seu sofrimento. Eu só queria que fosse mentira

Permaneci naquele lugar até o fim da tarde, eu já não aguentava mais tantos olhares de julgamento sobre mim, nem dezenas de barulhos diferentes de choro.

"É assim que é o som estridente do inferno"

18:30 PM

Já estava em casa, então subi direto até o quarto, tirando aquela roupa preta do meu corpo, deixando em qualquer lugar e entrando no banheiro. Tomei um longo banho, na tentativa de tirar os resquícios de cansaço e cemitério. Vesti algo confortável, já que única coisa que eu faria agora era comer e dormir.

Seguimos o resto da noite normalmente, eu notava como meu pai tentava se fazer de forte na minha frente, mas eu sabia o quão desagradável estava o seu interior. Mas apesar dessa catástrofe, estávamos tentando ficar bem, afinal, ainda tínhamos um ao outro.

Ele parecia diferente, acho que estava tentando me consolar pelo ocorrido. Estava ainda mais carinhoso, atencioso e mais próximo de mim. Talvez, fosse tentando me fazer bem, mesmo que ele precisasse de apoio assim como eu.
Essa noite eu dormiria com ele, não queria deixá-lo só e ele também não queria me deixar só. No fim da noite eu fui para o seu quarto e dormi com o calor corporal do meu pai.

09:12 Am

Acordei em um pulo ao ver as horas, mas estava sozinha na cama. Eu não liguei, afinal, só havia um adulto em casa agora. Levantei esticando o corpo, e lavei o rosto no banheiro, andei pela casa, procurando pelo homem que agora cuidaria de mim sozinho, e não encontrei. Até que lembrei, ele me disse que procuraria um emprego. Mas assim tão rápido?

Enfim, eu precisava de um banho, então andei até meu quarto para pegar minhas roupas, e notei a porta aberta, estranhei um pouco, mas fui até lá mesmo assim.

"Se ele estava em casa, por quê não respondeu quando chamei?'

S/n: Pa--

Parei estática, no mesmo momento que vi a cena, na qual não sairia da minha cabeça, nunca mais. A cadeira caída no chão, embaixo dele, pendurado pela corda presa na janela, e alguns cortes nos pulsos, pingando o sangue no chão.

"Essa é a visão do inferno?"

Encontrei meu pai pendurado pelo pescoço, sem vida, na viga da minha janela.

Eu cai no chão, não tinha o que fazer, ah não ser chorar e gritar, era assim que eu me encontrava no momento. Chamei pelo meu pai mesmo sabendo que ele não iria me responder. Eu desejava que tudo isso fosse um pesadelo, não podia ser verdade, ele não me deixaria assim.

Passaram alguns minutos e os vizinhos escutaram meus berros. Uma vizinha que era muito amiga dos meus pais me encontrou naquele quarto. Ela ficou estática, assim como eu, ela não acreditou.

Com muito esforço, conseguiram me tirar de lá, eu só queria ficar lá, porque diferente dele, eu não queria deixá-lo.

"Isso é tudo culpa sua"

"Você não faz parte dessa família"

"Não apareça na nossa frente mais uma vez"

"Sua bastarda"

Essas foram as palavras que saíram da boca de pessoas que se diziam ser meus parentes. Eles me deram as costas, e me deixaram lá exposta a tudo.
Eu sempre soube que era odiada por eles, mas não sabia o motivo.

"Acho que serei a próxima..."

Eu realmente espero que isso seja só um pesadelo.

Não esqueçam o voto

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