Jean Polnareff (1)

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Sempre fui uma criança curiosa.

Dito isso, importante esclarecer que a palavra tem 2 interpretações, e as duas estão corretas.

Minha curiosidade com o mundo era incomum. Ao caminhar pelas ruas, qualquer objeto encontrado se tornava instrumento de investigação. Por que ele brilha tanto? Tem curvas na parte de trás, será que se encaixa em outra peça perdida? Tentar entender o funcionamento do mundo me atiçava, porém o foco em seus detalhes me distraia das relações humanas.

Neste sentido, para os outros, meu comportamento era curioso, e despertava teorias a respeito do meu pensamento, incomum para idade, ou sequer para um humano. Não conseguia manter uma conversa, caso não fosse tão interessante quanto a trilha de comida deixada por algum animal. Que tipo de animal será que deixou? Não foi uma pessoa, as sobras são pequenas demais. Será que era um rato? Pode ser um gato também. Mas tem ossos, um cachorro faz mais sentido. Enquanto teorizava sobre os restos, a criança que tentou me mostrar seus carrinhos se afastava sem que percebesse.

- Não acho que a filha de vocês tenha um comportamento normal... - dito para meus pais por muitos preconceituosos, pais de crianças que tiveram a atenção rejeitada. Talvez o que lhes incomodasse fosse que suas proles, acostumadas a terem tudo que desejavam, não conseguiram o que queriam. Mas não importava, tudo ocorria como burburinho no fundo de meus ouvidos, pois agora o relógio quebrado no fundo da gaveta de meu avô estava sendo investigado, e suas peças e padrões me encantavam.

Visitávamos com frequência a casa de campo remota onde meus avós moravam, na França. Minha avó sempre teve o sonho de conhecer o país, e quando meu avô se aposentou, deu-lhe de surpresa esse recanto feliz.

Algum dia comum chegou, e estava explorando os campos com minha família, que conversava levemente sobre a vida. Inconscientemente, estudava as plantas e flores do local, tentando colher uma amostra de cada uma para catalogar mais tarde, escuto outra criança dirigir-me a palavra.

- Puis-je faire partie de votre monde?
Posso fazer parte do seu mundo?

- C'est une blague?
É uma piada?

Provavelmente, ao perceber meu sotaque, parou de falar. O escutei se aproximando, erguendo meu olhar até encontrar seu tronco, parando por ali. Em suas mãos, traz um cravo e me oferece, como quem demonstra só querer se aproximar com boas intenções. Caminho com os olhos até seu rosto, mas logo desvio, como de costume. Me entregando a flor, vejo um sorriso em seus lábios.

- Une fleur, presque aussi belle que toi...
Uma flor, quase tão linda quanto você...

- Obrigada! - Um sorriso embaraçado me escapa, e meu olhar foge com intensidade para o lado, encontrando uma nova planta no solo. Me volto em sua direção, para vê-la de perto, sendo acompanhada em minhas investigações pelo resto do dia pelo jovem francês. O tempo passa rápido enquanto me divirto com ele, que ocasionalmente me resgatava dos obstáculos que costumam me importunar, mas constantemente escapavam de minha atenção.

- Au revoir!
Adeus!

Escuto a despedida de meus pais e os do garoto, que pareciam manter uma amizade prévia e passaram a tarde juntos. Com isso, ele deposita um beijo rápido em minha bochecha, me surpreendendo.

- Espera! Atrendre! Votre nom?
Espera! Espera! Seu nome?

- M'apelle Jean. Polnareff. Tu?
Meu nome é Jean. Polnareff. Você?

Just imagine... Jojo's Bizarre AdventureOnde histórias criam vida. Descubra agora