Jotaro Kujo (1)

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Metade de uma década se passou, mas o luto prevalece.

Hoje é o aniversário de 5 anos da morte de dois amigos queridos, Avdol e Kakyoin. Em uma noite comum, voltando do mercado com as compras para uma noite de cinema em minha casa, houve um acidente de carro na entrada entre a avenida principal e o bairro que habito. Um homem embriagado perdeu a noção espacial e bateu na traseira lateral do carro. Estava chovendo, então o carro derrapou até que capotou. Meus amigos estavam sem o cinto, então morreram na hora.

Eles eram como irmãos, especialmente após a mudança de emprego de meu pai, que o levou à mudança de cidade, diminuindo nossos momentos juntos. Minha mãe, por outro lado, permaneceu comigo até que me formasse para então morar com ele. Não a culpo, mas senti-me abandonada no processo de luto, pelo menos até encontrar um amigo em um velho inimigo.

Kakyoin e Avdol tinham outro amigo, Jotaro Kujo, que estava no carro e, como usava o cinto, sobreviveu. Enquanto vivos, ambos eram o único motivo para encontrar-me com ele em eventos, uma vez que não nos dávamos bem. Eu o julgava por sua casca, e ele era resistente à mulheres, que irritavam-no ao cercá-lo por luxúria, ambos conceitos derrubados ao ficarmos sozinhos durante a maioridade, dividindo a mesma dor. Conforme o tempo avançou, encontramos uma base de apoio recíproca, e começam a construir uma relação melhor. Seu jeito carrasco cruza com o meu estresse desde a primeira conversa que compartilhamos, mas nos entendemos nas ações e nos olhares. Minha relação com ele é a mais profunda que já tive, e a tensão sexual gerada na confiança plena é absurda, mesmo que nenhum de nós admita.

O aniversário fúnebre carrega melancolia contigo, especialmente por ser compartilhado com meu aniversário. Apesar da dor de sempre, este ano sinto-me também solitária. Jotaro passou o dia sem dar notícias, ninguém se lembrou de nenhuma das datas e me sinto culpada por desejar atenção em meio ao luto, que se reforça todo ano como presente para a aniversariante.

Escuto uma batida na porta de meu apartamento, bem neste momento em que a culpa se tornou raiva.

- Quem é? - pergunto em tom mais grosseiro do que pretendia.

- Eu... - escuto a voz de Jotaro respondendo. Perco as esperanças, sabendo que a data fúnebre prevalecerá contra meu aniversário, e precisarei falar algo sobre.

- Que é? Você tem uma chave, só entra! - escuto a porta se abrir, logo se fechando. Continuo de costas para a entrada, concentrada em arrumar as bagunças deixadas após o término de meus projetos da faculdade, que acelerei como válvula de escape dos meus sentimentos.

- Sabe, você me deixa particularmente irritado... - não contenho uma risada rápida e cínica.

- Anotado... - digo, sem dar-lhe mais tempo de minha atenção, mas sinto seu olhar me queimando. O que ele quer, logo hoje? Continuo apenas tentando ignorar sua presença.

- Qual o seu problema, mulher?

- O meu problema? Deveria estar mais mais preocupado com o seu problema... Homem! Você viu que tô estressada, e tá me enchendo... Veio por que? - continuo, não lhe dando mais atenção além da necessária para responder suas perguntas.

- As garotas da faculdade fariam fila pra ter essa conversa idiota comigo, sabia? - pausa, recebendo meu silêncio - E você continua, sem sequer olhar pra mim. Olha pra cá, porra!

- Cacete viu! - sussurro para mim, mas não me importo se ele ouviu. Me viro para Jotaro, presenciando o garoto grosseiro segurando uma pelúcia de pássaro, muito parecida com o animal de estimação de Avdol. Começo a encará-lo, surpresa - Jotaro...

- Toma, vai... - corta minha fala e se aproxima abruptamente, jogando o bichinho em meus braços, que seguro com delicadeza enquanto inspeciono, observando que sua cor é igual a dos cabelos de nosso Kakyoin. Não consigo lidar com o gatilho emocional, entristecendo ao relembra-los e, como consequência, sentindo minhas bochechas molharem com as lágrimas que escorrem.

- Desculpa, Jotaro... É... Eu... - sou interrompida por seus braços ao redor de meu corpo, me segurando para que colocasse todo sentimento para fora. O abraço de volta com meu braço esquerdo, o direito se agarrando no presente tão especial. Ali, tenho toda segurança do mundo para desmoronar, tremendo com o choro intenso - Por que? - sinto seu dedão acariciar meu ombro.

- Feliz aniversário, baixinha... - o cansaço me domina após o desabafo, mas tenho um sorriso gigante estampado, além de minha risada nervosa escapando.

- Você lembrou! - digo, enxugando as lágrimas e me afastando, para olhar em seus olhos - Como foi que você arranjou algo tão específico, gigante fortão?

- Eu fiz minha pesquisa... - diz, sorrindo com o canto da boca. Inspeciono mais uma vez a pelúcia, reparando que foi feita a mão. Pego suas mãos e as olho, observando marcas de repetição em seus dedões, indicador e dedo do meio. Ele percebe - Cala a boca!

- Eu não falei nada... - me viro, rindo - Quem diria, ein...

- Devolve esse negócio!

- Não! - digo, me preparando para defender meu novo bem precioso.

- Então... Cala... A... Boca!

- Você é uma gracinha, sabia? - digo, sorrindo incontrolavelmente e sem saber como agradecer - Obrigada... - me viro para colocar o pássaro em minha cama - Olha só, combinou com os travesseiros!

- Por que o estresse? Ninguém te deu parabéns? - fico séria.

- Sim e não. Isso me deixou triste, então me estressei comigo mesma por esperar comemorações em um dia como hoje... - junto coragem e força para falar o mínimo sobre os dois - Não superei a morte deles... - Sinto um peso sendo retirado de minhas costas, além de uma lágrima solitária que escapa junto a um sorriso genuíno - Ao menos eu não te perdi também. Não sei o que faria sem você, acho que morreria também.

- Como é? - me pergunta irritado, e meu sorriso se desmancha ao perceber que, além de me confessar, provavelmente deve ter soado totalmente errado. O olho assustada, independente do trajeto da conversa - Repete o que você falou pra mim! - diz se aproximando, me intimidando.

- Eu.. Jotaro, peraí, calma lá... Acho que falei besteira, né? Calma... - o observo com cautela, sabendo que o tópico pode ser interpretado como ofensivo a nossos amigos falecidos, sensível ao homem a minha frente.

- Por que você tá com medo de mim? - agora vejo que está ofendido.

- O que você entendeu, Jotaro? - pergunto, tentando me acalmar.

- Não fode, S/n! Ou você teria se matado, ou se acha fraca a ponto de não sobreviver sem mim, e precisa seriamente se orientar nos dois casos, ou... - o interrompo de imediato, me estressando com sua colocação de palavras.

- EPA PERAÍ! Não vem me dar lição de moral não! Primeiro que você é quem não sobreviveria sem mim ou sua mãe...

- NÃO ENVOLVE MINHA MÃE! - grita, me interrompendo.

- NÃO GRITA COMIGO!

-  VOCÊ GOSTA DE MIM!

- QUE JEITO? VOCÊ É INSUPORTÁVEL!

- E COMO PODE VOCÊ NÃO VIVER SEM O INSUPORTÁVEL AQUI?

- MANO, VAI SE FODER! PREPOTENTE DO CARALHO!

- ACHO QUE A INSUPORTÁVEL AQUI É VOCÊ!

- QUER IR EMBORA? PODE IR EMBORA! A PORTA ALI ABERTA, A VONTADE... - Jotaro então se vira indo embora batendo os pés após nossa discussão mensal.

- FELIZ ANIVERSÁRIO, VADIA! - grita da porta, enraivecido.

- TAMBÉM TE AMO, CUZÃO! - respondo honestamente, sorrindo ao saber que estávamos felizes e resolvidos.

Just imagine... Jojo's Bizarre AdventureOnde histórias criam vida. Descubra agora