Leone Abbacchio (1)

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Será que o desconto em meu salário fica mais barato que a gasolina?

Meu pensamento se prende a reflexão, buscando qualquer alternativa que me leve à falta no serviço e escape de sair da cama quentinha em um dia frio, típico do inicio do inverno. Foda que acumulo de falta da justa causa, se bobear, Suspiro alto, erguendo-me da cama antes de minha consciência, marchando até o despertador que não cessa até meu toque.

Como todos os dias, apenas me arrumo para sair, pegando minhas marmitas do dia, incluindo a do café da manhã para o trânsito do trajeto, disparando em direção ao elevador em meu andar, este que ainda se encontra indisponível. Merda. Abro então as duas portas anti-chamas que dividem o andar das escadas, descendo ate o andar debaixo para chamar o elevador novamente, e sem nenhuma novidade, o encontro parado em frente a porta. Desde que comecei a vir ao oitavo andar para pegar o elevador, encontro-me com o vizinho imediato debaixo todas as manhãs, ele responsável por causar tremores em minhas mãos logo cedo.

- Abbacchio...

- S/n. Nada do elevador no nono?

- Nada. Parece que ontem o pessoal veio tentar consertar de novo e deu errado.

- Que merda - diz sem o mínimo do sentimento em sua voz.

O silêncio consecutivo de mais um diálogo padrão de elevador tem um significado a mais para nós dois. Leone Abbacchio é tanto um policial daqui da Itália quanto meu vizinho estranhamente atraente, e quando lhe encontro vejo ambos convivendo e conflitando dentro desse espaço delimitado por uma porta e espelhos: Leone desce, o policial sobe, e alguém lidando com ambos lutando internamente trava a batalha ao meu lado. Dependendo do vencedor do dia, nossa conversa tem um perfil diferente, sendo charmosa e com um toque de flerte, ou então igual a de hoje.

- Vai chover, senhorita S/n, não esqueça o guarda chuva - novamente esse tom seco.

Toda vez que ele usa essa bosta de tom, sinto a insegurança se fazer presente. Cresci odiada por toda minha família e amigos, mas descobri tarde demais. Quando sai do Brasil, levaram semanas até que alguém percebesse que sumi, e esse sentimento começou a dar as caras. Estive sozinha no passado, mas agora eu me sinto sozinha, e isso me faz sensível. Achava que era forte quando não me importava com as pessoas, mas cansei dessa casca e procuro me relacionar com as pessoas e pertencer a esse país. Incrível como mesmo agora, tendo encontrado uma rede de amigos tão próxima que chega a ser família, sinto esse vazio ecoar quando meu vizinho pálido e conflitante muda seu tom comigo.

- Nunca saio sem, oficial. - percebo que falhei em conter meu tom de descontentamento, e vejo uma movimentação no homem ao meu lado, preocupação? Irritação? Arrependimento? Antes que pudesse falar algo, ouço o som da porta se abrindo - Bom dia, oficial - digo constrangida, disparando pelo primeiro andar que armazenava os carros estacionados antes que pudesse ouvir a resposta dele.

Entro no carro e respiro fundo, tentando realizar uma rápida descompressão quando me percebo tremendo. Que merda, será que ele só tenta ser simpático comigo por convenção? Não minto que seu status de policial me assusta, ainda mais quando começo a pensar que ele pode me odiar e eu, não lidando bem com meus próprios traumas, posso provocar uma ira maquiada pelo dever cívico. E se ele for agressivo? Nunca convivi, de fato, com ele. Meus pensamentos são interrompidos por batidas no vidro do meu carro, me assustando.

- S/n? - escuto Abbacchio, o vendo parado do lado de fora, tentando ver meu rosto, até poucos instantes mergulhado em meus braços apoiados no volante - Posso falar com você? - ele se esforça em amansar seu próprio tom, o que mais me assusta que tranquiliza - Posso entrar? - faço que sim com a cabeça, não tem muito que debater com quem esta armado.

Just imagine... Jojo's Bizarre AdventureOnde histórias criam vida. Descubra agora