Aviso: menção de linguagem imprópria/abuso sexual/violência explicita.
"Estás nervosa?"
Assinto encolhendo-me no sofá da sala sendo objeto de uma longa e profunda análise por parte da doutora Audrey.
"Um pouco."
Suponho que seja um bom sinal, estar nervosa. Porque o meu maior problema é não sentir absolutamente nada há um bom tempo.
"Eu pedi ao Harry que fosse dar um passeio. Somos só nós as duas."
Assinto novamente. Não faço ideia do que dizer ou por onde começar.
Não tenho total certeza se devo começar.
Há algo de muito errado comigo. Houve alturas onde me senti vazia mas o sentimento não se aproxima do que sinto agora.
Se sinto algo.
Desde o momento em que acordei naquele quarto de hospital, tudo o que vi foram expressões de choque. Vi lágrimas, sofrimento, transtorno... e não senti nada.
Sei que deveria, mas não senti.
Não senti o mesmo alívio, a mesma alegria pelo facto de que estava viva.
Não queria estar morta mas, ao mesmo tempo, não fazia qualquer diferença.
"Como te sentes?" Pergunta após longos minutos onde apenas nos fitamos.
"Diferente."
"Assumi isso quando me ligaste." Comenta como breve sorriso, muito rápido mas o suficiente para aliviar a tensão no espaço que nos rodeia. "O que mudou?"
"Tudo." Digo por falta de melhores palavras. "E eu não sinto nada. Não sinto rancor, não sinto medo mas também não sinto... o que devia sentir."
"O que achas que deverias sentir?"
"Devia estar grata por estar viva. Feliz por finalmente estar com a pessoa que amo e eu sei que o amo." Enfatizo apertando as mangas da sua camisola entre as minhas mãos. "Mas eu não... não é que não o sinta. Eu só não-"
Os seus olhos baixam-se para fitar o meu corpo, a forma como estou encolhida no meu pequeno espaço. Depois foca-se novamente no meu rosto e é como se automaticamente soubesse tudo o que há de errado comigo.
"Foste mantida em cativeiro por doze dias."
Não sei se está ajudar-me a completar a minha frase ou a constatar o que me deixou assim.
"É o que dizem."
Foi o que me disseram.
Não tenho a certeza quando mas por volta do quarto ou quinto dia, perdi a noção do tempo naquele lugar. Eu não fazia ideia de quanto tempo se tinha passado até ao momento em que vi o Enzo e a Emma no hospital.
"Doze dias é tempo suficiente para causar estragos, física e mentalmente. Não é o mesmo que ser abandonada ou maltratada. Não tinhas como fugir ou capacidade de defesa."
"Eu sei." Engulo em seco, atenta aos batimentos fortes no meu peito. "Foi por isso que escolhi sair do carro e ir com ele."
Eu não queria acreditar a início.
Logo após o Harry ir embora, comecei a acreditar que estava a perder a cabeça. Estava a ouvir coisas, ver vultos em redor da casa durante a noite... estava até disposta a acreditar que era algo sobrenatural.
Logicamente, não podia ser ele. Era suposto estar trancado numa clínica com supervisão vinte e quatro horas por dia.
Ou era o que eu achava.
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𝐶ℎ𝑎𝑠𝑖𝑛𝑔 𝐹𝑟𝑒𝑒𝑑𝑜𝑚
Fanfiction• Livro 3 da Saga Chasing • Após ter sido traída por quem menos esperava, Anna foi obrigada a tomar uma decisão. Entre um novo trabalho, novas oportunidades e novos rumos, fez o necessário para não se deixar consumir. Mesmo com as marcas do passado...