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Não sou capaz de disfarçar o meu deslumbramento pela cidade.

A luz, o movimento, a arquitetura. É esplêndido.

O nosso passeio foi longo, começando pela Avenida St. German onde comprei um número exagerado de doces deliciosos aos quais não consegui resistir. Depois de visitar-mos o Arco do Triunfo, atravessamos o Bairro de Montmartre que se tornou um dos meus lugares favoritos por estar repleto de arte e música.

A Callie estava certa.

Quando comecei a achar que tudo estava a correr melhor do que esperava, o Harry decidiu fazer das suas, levando-me para Pigalle, um Bairro boémio repleto de sex shops e cabarés. Como agradecimento e vingança pela visita, acabei por lhe oferecer umas algemas cor de rosa na esperança de o aborrecer mas a verdade é que gostou delas.

Percorremos as margens do Sena calmamente e acabamos por chegar à Torre Eiffel onde paramos para descansar na esplanada de um acolhedor café depois de várias horas a vaguear pela cidade.

"Tens que subir a Torre Eiffel. É uma das melhores paisagens que já vi."

"Vou subir. Amanhã." Garanto calculando visualmente a altura da mesma. "E vou trazer o Enzo comigo. Ele tem medo de alturas então vai ser divertido."

"Uma vez ameacei atirar o William de lá de cima." Comenta descontraidamente, revirando os olhos para si mesmo sem se dar conta de que tocou no assunto proibido.

"Devias ter ido em frente com a ameaça." Murmuro usando um tom tão descontraído quanto o dele.

Não quero de forma nenhuma estragar a noite.

A verdade é que nos divertimos verdadeiramente, pela primeira vez, de uma forma tão natural e inocente que me fez desejar que este tivesse sido o nosso começo e não o resultado de algo tão distorcido.

Vários fatores têm feito com que sinta falta do Harry que tenho comigo neste momento, mesmo sendo o homem que me magoou ao ponto de não conseguir sentir nada para além do superficial, irracional e ínfimo.

Adoço o meu chá e limito-me a bebê-lo para abafar o silêncio que caiu sobre nós de um momento para o outro.

"Cuidado. O chá pode ter alguma coisa suspeita." Comenta com um sorriso, referindo-se provavelmente ao comportamento da empregada que nos atendeu.

"Não sejas assim. Ela foi apenas simpática."

"Foi bastante simpático da parte dela perguntar se eu era o teu namorado. Pelo menos perguntou antes de se atirar a ti." Constata erguendo as sobrancelhas.

"Não achei que se estivesse a atirar a mim."

Achei sim.

"Ela ofereceu-te o chá. Eu tive que pagar pelo meu café."

"Podemos mudar de assunto?" Peço querendo esquecer este momento inusitado.

"Claro. Posso perguntar como o James tem estado?"

"Bem. Animado com o casamento." Assinto, bebendo mais um pouco de chá. 

"Tens sido boazinha para ele?"

"Eu não o trato mal." Defendo-me semicerrando o olhar. "Quase não o vejo, na verdade."

"Ele está a morrer, Anna."

"Outra vez essa conversa?"

"Quem sabe quanto tempo resta para poderes resolver as coisas com ele." Insiste movendo-se na cadeira para se inclinar sobre a mesa.

"Eu entendo a dificuldade da maioria das pessoas em entender o meu lugar nesta história mas tu não és uma delas. Odiavas o teu pai e a Melissa—"

"Eu era má pessoa por escolha. Tu nunca o foste ou nunca o foste por escolha." Rebate pressionando os lábios.

𝐶ℎ𝑎𝑠𝑖𝑛𝑔 𝐹𝑟𝑒𝑒𝑑𝑜𝑚Onde histórias criam vida. Descubra agora