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"James!"

Encolho-me perto do sofá e seguro o ursinho junto a mim. O papá sai do quarto muito zangado com os gritos da mamã.

"Volta aqui! Não me vires as costas, filho da mãe!"

"Assina os papeis e acaba com isto de uma vez por todas."

"Quero saber quem ela é!" A mamã volta a gritar perto do papá, arrancando-lhe os papeis da mão.

"Amy, pára com isso!" O papá agarra os seus braços mas a mamã está tão zangada que não pára quieta. "Chega! Não há nada a fazer!"

"O que é que ela tem que eu não tenho?"

Fecho os olhos com força quando ela lhe bate na cara e começo a chorar, assustada.

"Não se resume ao que ela tem mas sim ao que tu não tens. Quem, no seu perfeito juízo estaria com alguém como tu? És louca, Amy."

"Eu não sou louca. Tu é que és um monte de merda, infiel!"

"Assina os papeis do divórcio e acabamos com isto de uma vez por todas."

"Eu não quero o divórcio, James. Quero ser respeitada e amada como mereço." A mamã afasta-se, escondendo a cara com as mãos enquanto chora alto. "É tudo o que quero."

"Não sou capaz de o fazer ou fingir que o faço."

Olho para o papá quando ele abre a porta de casa e sai, fechando-a com força.

"James! Volta aqui, James!"

Tapo os ouvidos e choro cada vez mais alto, ouvindo os gritos da mamã que não param.

"Pára de chorar, idiota!"

Encolho-me ainda mais e calo-me, com medo da mamã. Agora está zangada comigo e não quero que fique ainda mais.

"A culpa disto é toda tua. Estás a ouvir-me? Toda tua!" Grita puxando o meu cabelo com a mão. "És um monte de merda, tal e qual ele, a tua mãe e a outra."

A mamã sai de casa e deixa-me sozinha por muito, muito tempo. Espero que o papá volte e que me ajude mas ele não volta.

Nunca mais.

Acordo de repente com a respiração presa na garganta. Tento mover-me mas o meu corpo está tenso, sem qualquer mobilidade.

Abro a boca, aflita por algum ar, incapaz de emitir qualquer som que me permita pedir ajuda e isso leva-me para um estado de pânico ainda maior.

"Anna?"

Sinto alguém mover-se na cama e o rosto do Harry a pairar sobre o meu. Olho bem no fundo dos seus olhos e tento agarrar a sua mão quando a mesma cai sobre o meu peito mas não sou capaz.

O que raios está a acontecer?

"O que se passa?"

Sou finalmente capaz de emitir um som. Um fraco gemido acompanhado de lágrimas.

E isso é tudo o que consigo fazer. Chorar.

"Está tudo bem." A sua mão sobe até ao meu rosto. "Respira fundo. Está tudo bem. Eu estou aqui... Tenta respirar fundo." Pede com a voz calma, massajando a minha bochecha com o polegar. 

Fecho os olhos e tento relaxar. A memória do dia em que o James nos deixou volta a atormentar-me.

As minhas memórias relacionadas com o que aconteceu desde esse dia são confusas. Costumo lembrar-me dos acontecimentos mais próximos, de quando já tinha consciência do que estava a acontecer ao meu redor. O que aconteceu antes disso sempre esteve bloqueado na minha mente.

𝐶ℎ𝑎𝑠𝑖𝑛𝑔 𝐹𝑟𝑒𝑒𝑑𝑜𝑚Onde histórias criam vida. Descubra agora