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"Está tudo bem? Adormeceste a meio da conversa?"

"Sim, está tudo bem e não adormeci, Emma. Estava a ouvir todas as novidades que estavas a contar para depois não dizeres que não presto atenção."

"Não precisava contar-te nada se voltasses para a civilização onde está o teu trabalho, eu, a terapeuta e o Chad... Estou só a dizer. Passaram-se duas semanas, não chega? Não é aborrecido estar aí sozinha?"

"Não tanto quanto parece." Assinto para mim mesma, olhando para um ponto morto do quarto.

"Isso significa que não voltas tão cedo?"

"Não sei."

Não tenho como saber quando irei voltar.

Para começar, eu realmente gosto de estar aqui e não sinto qualquer necessidade de regressar para a minha outra vida. Em segundo lugar, o Harry está aqui e embora eu pudesse simplesmente deixar-lhe a chave e ir embora, não posso fazê-lo porque tenho noventa por cento de certezas de que no momento em que vira-se as costas, ele iria deitar todo o seu progresso por água abaixo.

"Mas assim que voltar, vais ser a primeira a saber." Acrescento afastando o lençol para sair da cama.

Abrindo a janela, caminho até à extremidade da varanda e bocejo sem restrições, ouvindo-a rir do outro lado.

"Ainda estavas a dormir quando te liguei, não estavas?"

"Não estava a dormir. Estava a reunir forças para me levantar da cama."

"Eu sei como é isso." Partilha num resmungo. "Eu vou deixar-te fazer o que tens que fazer e vou vestir-me para passar em casa da Marie e do Max. Não vejo o Tate há algum tempo. Eu mando fotos."

"Fico à espera."

A minha atenção desvia-se para a chegada do Harry após mais uma corrida matinal. Ele corre imenso.

A Cookie sai pela porta das traseiras e corre até ele para o receber e, quase como uma rotina, ele pára, soado e ofegante, brinca um pouco com ela e começa a despir a camisola enquanto se descalça, antes de despir os calções para se colocar debaixo do chuveiro junto à piscina. Depois, mergulha.

"Falamos mais tarde?"

"Claro. Diverte-te."

"Adeus."

"Adeus."

Termino a chamada e deixo-me ficar a vê-lo. Os dois, três dias que me pediu estão a transformar-se numa semana e até agora não deu qualquer sinal de que tenciona ir embora.

E ele tem-me dado vários sinais. Sinais cada vez mais confusos como tudo nestes últimos dias.

Nós nunca fomos o casal mais estável que conheço, preciso admitir isso. Não me recordo de um único momento de estabilidade desde o momento em que coloquei os meus olhos nele mas estes cinco dias foram uma verdadeira montanha russa.

Oscilamos entre conversar como duas pessoas que mal se conhecem para duas pessoas que se conhecem muito bem. Ficamos demasiado confortáveis um com o outro e quando nos apercebemos disso, damos um enorme passo atrás. Discutimos por pequenas idiotices tanto quanto nos divertimos por essas mesmas idiotices.

Enquanto isso, eu tento ler os seus sinais, lidar com as constantes mudanças de personalidade e finjo não perceber o que está a tentar fazer.

Ainda dentro de água, vê-me e sorri. Eu respondo com um sorriso breve, presa nos meus pensamentos.

"Estás a deixar-me nervoso com toda a observação." Reclama, inclinando a cabeça.

"Não estou a olhar para ti. Estou a pensar." Suspiro, afastando-me dos meus pensamentos.

𝐶ℎ𝑎𝑠𝑖𝑛𝑔 𝐹𝑟𝑒𝑒𝑑𝑜𝑚Onde histórias criam vida. Descubra agora