CAPÍTULO 5

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Estou bêbada.

Não sei como cheguei a esse ponto sendo que a intenção era beber um pouco apenas para me soltar mais.

Tem muita gente na casa dessa tal de Lu, e fui apresentada pra maioria pela Ana.

Sentamos em algumas pessoas em volta de uma mesinha de chão e eu já sei o que está por vir quando giram uma garrafa vazia.

"Verdade ou desafio?" - Perguntam à Ana quando a garrafa para.

"Hm. Desafio"

"Eu te desafio a beijar a próxima pessoa que cair quando eu girar a garrafa de novo"

Os olhos de Ana dançam de divertimento. Lu, que estava escutando o jogo de longe, se aproxima e senta-se quando giram o vidro.

Girou, girou, girou e... parou em mim. Tiro os olhos da garrafa e os percorro até chegar em Ana.

"Não contou" - Lu diz, tentando impedir a situação.

"Por que não?" - Indaga Ana com um claro tom de divertimento na voz.

Encaro em choque e fico paralisada enquanto ela se aproxima de mim. Não sei o que fazer ou falar. Nunca beijei ninguém antes.

"Nós vamos fazer isso?" - Ela praticamente sussurra no meu ouvido.

Sem querer arregar e com álcool correndo no sangue, olho para todas as pessoas em volta, esperando ansiosas pelo momento. Se eu quiser ser aceita na escola, essa é minha brecha.

Como não respondo nada, Ana vira meu rosto e encosta os lábios melados do gloss que ela nunca tira da boca nos meus. Sinto um gosto forte de cereja enquanto a beijo e me afasto depois de mais ou menos 7 segundos.

Todos em volta gritam e Lu - que a esse ponto eu descobri que o nome é Luísa -, levanta do chão revirando os olhos e desaparece no meio da multidão novamente.

Ana Bia exibe um sorriso enquanto se afasta e nós continuamos jogando por alguns minutos.

.

Passo pela porta da cozinha, buscando por água enquanto tudo roda, e uma menina de preto esbarra em mim e derrama bebida no meu vestido.

"Merda" - Exclamo e subo as escadas correndo, procurando por um banheiro.

"Nat?" - Ouço uma voz atrás de mim e viro-me. É a Ana - "O que aconteceu? Vi você correndo aqui pra cima" - Mas ela mesma baixou os olhos e percebeu - "Ai, merda. Vem, vamos limpar isso" - Ela pega minha mão.

Ana leva-me até um quarto que há banheiro, porque, conforme ela, eu não vou querer ver o estado dos outros banheiros da casa a esse ponto da festa.

"Espera aí" - Ela fala e sai do quarto.

Ando pelo cômodo me sentindo corajosa o suficiente pra isso e abro a porta que da pra sacada. O vento rasga meu rosto e eu fecho os olhos. De novo aquela sensação que senti quando estava no terraço do shopping.

"Nat? Tá tudo bem?"- Ana aparece atrás de mim com um papel e um produto que não consigo ler o nome.

Faço que sim com a cabeça e ela anda até onde eu estou na sacada. Ana esfrega o papel na parte do decote do vestido, onde está sujo.

Olho enquanto ela faz isso e quando ela olha para mim de volta, ela para e chega mais perto.

Não sei direito como aconteceu, mas quando me dei conta eu estava beijando-a pela segunda vez na noite. Mas agora de verdade.

Ela aperta minha cintura e eu arrepio, em parte por causa do vento frio que bate em nós e outra parte por causa do que a sensação causa em mim. Ouço a música da festa sendo abafada enquanto tudo acontece e sinto o gosto do gloss de cereja forte mais uma vez.

E, quando me dou conta do que estou fazendo, empurrou-a de perto de mim. Caralho, eu acabei de beijar uma menina por vontade própria. Sem desafio. Caralho, porra, cacete, é tudo que passa pela minha cabeça.

Me afasto rápido, saio do quarto e corro para fora daquela casa. Escuto Ana gritar meu nome algumas vezes mas não paro de andar. Andei e andei e andei até chegar em casa onde tenho que escalar a parede até a janela do meu quarto para minha mãe não me ver chegar naquele estado.

Tiro os sapatos e quando me jogo na cama, tudo gira. Não demora muito para eu pegar no sono. Com o gosto de gloss de cereja ainda nos lábios.

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