Nosso Segredo

CAPÍTULO 29

"Calma, explica de novo" - Bruno balança a cabeça.

Nos encontramos no almoço para conversar sobre a situação com nossos pais.

"O papai e Elle estão fazendo de tudo pra afastar vocês dois" - Ana gesticula na mesa - "Então, vocês dois terminam e provavelmente a gente vai descobrir o que tá rolando"

Todos se entreolham, conferindo se é uma boa ideia.

"Tá, eu topo" - Digo - "Qualquer coisa é só a gente 'voltar'"

Concordamos e resolvemos que contaremos a eles sobre o término essa noite.

Quando o dia chega ao fim, sento-me no sofá com uma postura triste, esperando minha mãe perguntar o que aconteceu.

Ela está andando de um lado para outro na casa e não para de falar comigo, mas eu estou ignorando. De repente, ela para diante da TV, bem à minha frente.

"Que que foi hein?"

"O quê?" - Me faço de desentendida.

"Parece que tô falando sozinha nessa casa, você tá quieta demais. Aconteceu alguma coisa?"

Respiro fundo, comemorando por dentro que deu certo.

"Eu e Bruno terminamos" - Digo, esperando sua reação.

Ela pisca algumas vezes e parece que não sabe muito o que dizer, o que é estranho porque ela sempre sabe. Minha mãe se aproxima e pega em minhas mãos.

"Para ser sincera, era o melhor a se fazer, filha. Você precisa viver um pouco mais antes de entrar em um relacionamento sério" - Diz.

Finjo que estou chateada.

"Quando precisar, pode falar com a mamãe" - Ela faz carinho em meus cabelos e me puxa para um abraço, dizendo que tudo ficará melhor.

Sinto seus braços reconfortantes que não sentia a tempos em volta de meu corpo pequeno. Aproveito a sensação apesar das circunstâncias, pois, por alguns minutos, eu apenas queria sentir que tudo entre a gente estava bem de novo.

.

Duas semanas passam sem que nada aconteça e já estamos achando que nosso plano não deu certo.

Porém, numa quinta-feira, minha mãe avisa que teremos um jantar com Benjamin sábado para contar novidades.

Quando o dia chega e estamos paradas dentro do carro na frente da casa deles, minha mãe pega em minhas mãos antes que eu possa sair.

"Eu quero que você saiba" - Ela diz, olhando nos meus olhos - "...que eu te amo. Muito. Acima de qualquer coisa. E que seremos sempre só nós duas"

A olho, sem entender. Mas sorrio.

"Eu também te amo"

Ela beija minha testa e saímos do carro.

Bruno e Ana já estão sentados à mesa e me acomodo junto a eles enquanto Benjamin e minha mãe conversam na cozinha. Todos estão curiosos e tentamos não nos deixar afetar. Os dois finalmente sentam e um dos empregados serve champanhe para todos.

"Bom" - Benjamin sorri - "Resolvi reunir todos nós para lhes dar uma notícia importante" - Ele pega a mão da minha mãe por cima da mesa - "Queríamos dizer que nós sentimos muito pelo término do namoro de vocês, mas..." - Ele olha para ela e depois para nós de novo - "Mas eu e Elle estamos noivos"

O silêncio se espalha pela mesa e estou completamente paralisada. Tenho quase certeza que a cor some de meu rosto e pareço um fantasma nesse momento. A conversa à minha volta parece que acontece dentro de uma caixa, porque o volume de meus pensamentos estão mais altos.

"Então" - Ana começa - "Você quer dizer que enquanto Bruno e Natalie namoravam vocês dois estavam transando?"

"Ana Beatriz, por favor..." - Benjamin a encara, sério, mas é interrompido.

"Por favor digo eu! Como vocês podem fazer algo desse tipo?" - Ana apoia as mãos na mesa, nervosa.

Bruno segura seu pulso.

"Estou com Ana" - Ele diz, apoiando.

Eu tenho tanto a dizer mas é como se agulhas se espalhassem pela minha garganta, e sinto que posso chorar a qualquer momento. Como minha mãe pôde esconder algo assim de mim?

Meu peito dói e sinto uma mão em minha perna por debaixo da mesa. O calor de Ana faz eu descongelar e sair do transe por um momento. Olho para a minha mãe, que já está com lágrimas nos olhos.

"Você sabia" - Digo, raciocinando - "Você sabia que eu ficaria assim. Por isso disse todas aquelas coisas pra mim antes de sairmos do carro" - Fecho os olhos com força e sinto uma lágrima cair sobre meu rosto - "Eu achei que nós confiássemos uma na outra, que nós fôssemos melhores amigas. Mas pelo visto estava errada"

As lágrimas escorrem pelo rosto de minha mãe sem pausa e eu já não quero mais ficar aqui.

A sensação de ser traída rasga meu peito. A maioria dos adolescentes não são tão próximos dos pais e não sabem de nada que acontece na vida deles. Mas pra mim isso nunca foi um problema, porque eu confiava o suficiente na minha mãe para contar-lhe tudo que acontecia e recebia isso de volta. As coisas importantes e significativas sempre eram contadas, não importa o quanto estivéssemos bravas uma com a outra. E eu sabia que ela estava escondendo algo, mas não esse tipo de coisa. Uma coisa tão importante. Uma coisa que eu deveria fazer parte porque além de melhor amiga, eu sou filha dela. Moro com ela. E merecia saber que no mínimo teria um padrasto.

Tudo faz tanto sentido agora, e me questiono como pude não perceber antes. Os dois sempre juntos, fazendo jantares, indo à casa um do outro, Benjamin na minha casa, minha mãe 'trabalhando' de domingo. Me sinto tão burra. Como eu deixei isso passar sem perceber?

Levanto-me da mesa.

"Filha..." - Ela diz mas não dou chance.

"Você mentiu pra mim esse tempo todo" - Balanço a cabeça - "Me deixa sozinha. Eu não confio em você. Não mais"

Vou até a porta e saio da casa, seguindo para a rua do condomínio. Meus pés se movem quase que automaticamente pela estrada e não consigo parar de andar. Preciso gastar a energia da raiva que está dentro de mim.

Ando até o terraço do shopping. Quando finalmente me encontro no topo do prédio alto, paro. Respiro profundamente. E caio no choro.