8 anos de idade

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O quarto de Namjoon era pequeno, mas abrigava muito bem os dois melhores amigos. Eles não se importavam de ter que dividir a mesma cama, desde que pudessem passar mais tempo juntos. Divertiam-se muito na companhia um do outro, e faziam tudo o que podiam para aumentar as horas de diversão, inclusive se espremerem numa cama de solteiro depois de implorar aos pais para deixarem dormirem juntos vez ou outra.

— E então o Capitão RJ vê lá de cima uma cena que chama a sua atenção! — Seokjin, de pé no colchão, falava com entusiasmo. — Ele enxerga com seu olhar biônico dois meninos tentando roubar um saquinho de doces de um menino menor que eles, e aí ele decide ir lá pra acabar com a injustiça! — Pulou de cima na cama, fazendo som de aterrissagem quando bateu com os pés no chão. — O que está acontecendo aqui? — Fez uma voz grossa, colocando as mãos na cintura, numa postura que considerava poderosa. — Devolvam agora os doces do garotinho! — Mantinha a mesma postura e voz.

Seokjin seguiu encenando a historinha do Capitão RJ, sendo observado com atenção por Namjoon, jogado no chão, rindo e memorizando cada palavra e gesto. Uma das atividades que mais gostavam era essa. Depois do início da amizade no parque da escola, RJ se tornou uma propriedade conjunta e Seokjin passou a lhe contar todas as incríveis histórias do Capitão RJ, sobre como ele sobrevoava as cidades para salvar crianças que estavam sofrendo, fosse por qualquer razão. Com o tempo, Namjoon passou a transformar as cenas dessas aventuras em ilustrações, que mostrava para Seokjin sempre, feliz e orgulhoso de seus rabiscos. Foi assim que, quando Seokjin conseguiu criar historinhas mais elaboradas e Namjoon aprendeu a desenhar, que eles decidiram transformar as aventuras do Capitão RJ em uma espécie de revista em quadrinhos.

— Quando perceberam o tamanho da encrenca, os dois malvados saíram correndo, tão rápido que o dinheiro deles caiu dos bolsos! O Capitão RJ devolveu os doces pro menininho, e juntos pegaram o dinheiro e foram levar numa casa que cuidava de crianças sem pais, pra ajudar outras crianças também! — Seokjin andava pelo quarto, mostrando os movimentos de seus personagens. — Depois ele deu um abraço bem apertado no garotinho... — Pegou RJ do canto da cama, o abraçando. — E aí ele voou, indo pro céu, pra ir ajudar outras crianças ao redor do mundo! — Pulou de volta para a cama, que fez um barulho ante ao peso repentino. — Entendeu tudinho? — Perguntou de seu lugar, deitado de lado no colchão, ainda agarrado a RJ.

— Entendi — Namjoon respondeu, já pegando seu bloco de desenho, repousado ao seu lado com os demais materiais. — Como vai ser o nome dessa aventura? — Questionou, abrindo o caderno numa página em que se podia ler "As Fofas e Incríveis Aventuras do Capitão RJ", escrito em letras desenhadas, pintadas de vermelho e com espaços em branco, cores inspiradas na pelúcia que tinham.

— Hum... — Seokjin deslizou da cama, segurando a pelúcia, indo parar bem na frente de Namjoon. — O caso dos docinhos coloridos? — Questionou, se arrastando até se por ao lado do outro, que agora tinha a sua mesma altura.

— O caso dos docinhos coloridos! — Namjoon concordou, pegando alguns lápis de cor e escolhendo um cinza. — Vai ser esse mesmo!

Namjoon, então, começou a escrever com letras desenhadas, num estilo mais sóbrio, logo abaixo do título geral. Terminou muito rápido, demonstrando o talento natural que tinha para atividades desse tipo. Em seguida, dividiu o papel em pequenos quadrados e passou a rabiscar dentro do primeiro, tendo as ações sempre acompanhadas pelos olhos contemplativos de Seokjin.

Bons minutos depois, as tirinhas já estavam prontas, retratando exatamente a história que Seokjin criara e encenara diante de Namjoon.

— Uau! Você sempre faz as histórias tão certinho! — Seokjin tomou o bloco para si, avaliando quadrinho por quadrinho, extasiado com o resultado.

— As histórias do Capitão RJ são boas de desenhar, não é nada demais. — Namjoon retrucou, tímido com o elogio. — Você dá todos os detalhes e faz todas as cenas, fica fácil.

— Eu não acho isso fácil. Você é incrível sim, Namjoon, olha isso!

Seokjin sentenciou, e seguiu avaliando e elogiando cada pedaço dos desenhos de Namjoon, que ficava cada vez mais envergonhado. Todas as vezes que Seokjin o elogiava ele se sentia dessa forma. Por isso, agradeceu quando o pai chamou os dois para jantar, gritando lá da sala de refeições, mesmo que em dias normais odiasse quando ele gritava — o que acontecia com frequência, infelizmente. Como uma exceção divina, naquele único momento em especial, tinha apreciado o costume do pai.

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Obrigada a quem chegou aqui, e até o próximo! ;)

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