38 anos de idade

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A realidade era sempre pior e infinitamente mais complicada que a suposição. Ser, de fato, era muito diferente de brincar de ser. Desde que tinham dado o grande passo em direção a um novo rumo em sua unidade familiar, era no que Seokjin pensava quando uma dificuldade atravessava a sua trajetória. E elas não vinham sendo poucas.

Havia algum tempo que Namjoon tinha trazido pela primeira vez o tópico da paternidade. Na época a menção foi um susto para Seokjin. Certamente já tinha imaginado uma situação em que seria pai, mas tinha sido há muito tempo, antes de começar a namorar com Namjoon, e nunca fora um pensamento sério de verdade, era apenas um exercício de imaginação, sem verdadeira motivação. Depois que sua relação romântica com o melhor amigo se firmou, o tal exercício de imaginação não mais se fez presente, até que a possibilidade de formarem uma família com filhos foi levantada pelo companheiro.

Desde então Seokjin pensou bastante na ideia. Sem tocar novamente no assunto, ou ter Namjoon falando sobre o tópico, ficou pensando se, de fato, se tornar pai seria algo que alegraria seu coração. Sabia que para Namjoon seria maravilhoso, posto que a hipótese partira dele, e ele pareceu bem empolgado com a chance. Mas, e para si? Enquanto cuidava de Will e Toby para seus amigos Peggy e Matt, pensava se aquele tipo de rotina o faria feliz vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana.

Depois de muito pensar — mais precisamente, um ano e dois meses de amadurecimento da questão —, Seokjin decidiu que ser pai era algo que lhe traria felicidade, ainda mais sabendo que Namjoon ficaria feliz com aquilo. Então, num jantar um tanto mal sucedido preparado por ele mesmo, com carne de porco esturricada e cerveja gelada de baixo orçamento, questionou se Namjoon ainda pensava em aumentar a família para além deles e de Kore, na ocasião uma bola de pelos gorda e extremamente carinhosa. A resposta, como não poderia deixar de ser, foi um sonoro 'sim', seguido de muitos beijos e uma noite de sexo espetacular. A partir dali se juntaram e passaram a analisar juntos suas chances.

Como Seokjin previra, nada tinha sido fácil. Após um período avaliando as possibilidades de gerarem filhos biológicos se convenceram de que isso seria um trabalho desnecessário, e com isso partiram para a alternativa mais óbvia, a adoção. Evidente que, sendo um casal formado por dois homens, muitas portas se fecharam, de maneira que acabaram por contratar alguém entendido no assunto para os auxiliarem na concretização dos seus objetivos. Foi assim que optaram por apenas um deles entrar com os papéis de adoção — no caso, Seokjin, que segundo a especialista teria melhores formas de comprovar boas condições —, e assim, com o auxílio da excelente boa vontade de assistentes sociais e juízes, que anos depois os dois viram a aprovação para serem, finalmente, pais de uma criança adotada. Mesmo que tecnicamente Seokjin fosse o pai, a conquista era de ambos, e foi bastante comemorada.

Foi dessa maneira que há pouco mais de um ano Mary Joan, uma garotinha de ascendência indígena com quatro anos de idade, adentrou no apartamento dos Kim pela primeira vez. Bastante reservada e um tanto introspectiva, Mary Joan foi recepcionada com uma pequena festa, que contava com a presença de Matt, Peggy e os gêmeos, o irmão de Seokjin e sua esposa, e mais alguns amigos de Seokjin e Namjoon, além de Kore, claro, com quem Mary Joan teve uma ligação quase que imediata. Tinha sido uma tarde incrível, e mesmo com a quietude da menina, tudo correu muito bem.

A partir desse dia, as dificuldades que Seokjin julgara terem sido limadas de sua vida com a conquista da adoção foram somente substituídas por complicações de ordens diferenciadas, mais pessoais e bem mais entristecedoras. 

Dado o tempo de praxe para que Jojo — o apelido carinhoso que deram a ela em casa — se habituasse a ser uma criança adotada por dois pais, era de se esperar que ela fosse criando com eles alguma intimidade. Trabalhavam para isso, contavam com auxílio profissional na empreitada, faziam tudo como mandava o figurino. No entanto, Jojo não parecia reagir cem por cento em concordância com que os especialistas diziam que reagiria. A princípio Seokjin e Namjoon acreditaram que ela não conseguia se adaptar ao modelo de família que ofereciam, criam que era dificultoso para ela compreender que tinha dois pais, e não um pai e uma mãe como seria mais comum. Contudo, com o passar do tempo, ficou bastante claro que este não era o problema de Jojo. A questão para a menina era, em verdade, relacionar-se com Seokjin. 

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