Capítulo 4

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- Círculo do Jazz?, perguntou Michael. Mas ninguém ouviu.

Olhando bem, notou que as pessoas formavam um círculo respeitando uma marca feita com giz. Um homem, alto e magro, de óculos escuros e roupa preta, aproximou-se de Michael e Leia, que entrou junto com o irmão.

- Olá! Sou Jesus.
- Jesus? Isso é um tipo de piada?, disse Leia.
- Não, é meu nome mesmo, infelizmente. Jesus David Assenhein. Minha mãe é tão religiosa que me deu dois nomes tirados da Bíblia. Eu sou o organizador do Círculo do Jazz. Quais seus nomes?
- Eu sou Michael, e minha irmã é Leia.
- Encantado. – Jesus inclinou-se e pegou a mão direita de Leia, beijando-a. – O que vocês tocam?
- Bom, eu toco violino. Minha irmã só veio me acompanhar.
- É, eu não sei que drogas vocês podem rolar entre vocês... – disse Leia, olhando para todos como se os passasse em uma imensa máquina de raio-X.
- Leia, Leia... Nós não usamos drogas. Na verdade, somos exatamente contra qualquer tipo de droga. No Círculo do Jazz você não pode trazer nem cigarro nem bebida nem qualquer outra coisa que não seja roupas, instrumentos e ideias musicais.

- Oh. – aquela resposta deixou Leia sem jeito. – Mas e os charutos que senti a fumaça?
- Todos devem parar meia hora antes. Mas já viu músico de jazz sem charuto?
- Todos vocês vão morrer de câncer assim.
- Morreremos de forma igual... Além disso, olhem aqui pro chão. – Jesus apontou para a marca de giz. – Esta marca nunca foi desfeita, porque mostra que ninguém fica no centro, e ninguém é melhor que ninguém. Todos estão aqui para aprender.
- Ninguém aprende SEMPRE. – disse Leia.
- Você diz isso porque usa palavras. Palavras são feitas para serem quebradas, transformadas em pó. Nós usamos a música. Usamos nossos corações. E você sempre aprende algo com outra pessoa.

Jesus deu um pulo sem sair do lugar. Em seguida, deu um tapa em sua própria cabeça.

- Que cabeça a minha! Apresentem-se ao novato Michael, meus amigos!

- Alcides. – disse um homem branco de meia idade, usando óculos fundos, vestindo um colete verde. Ele tirava do case seu teclado.
- Cássio. – disse um rapaz asiático vestindo camisa e calça sociais. Ele abre um case com uma flauta.
- Tânia. – disse uma mulher negra e bem esguia. Ela já estava posicionada ao lado de seu contra-baixo. Ao lado dela estava uma outra mulher, notavelmente mais nova, mas bem parecida. – Esta é minha irmã Tainá. Ela toca baixo.
- Fernanda. – disse uma mulher de cabelos longuíssimos e castanhos. Mal se podia ver seu rosto, mas era notável uma pinta próxima aos lábios finos. Ela pegava seu clarinete.

- Ué, onde está o Pena-Molhada? – disse Jesus, olhando para o kit de bateria.
- Ôpa, Ôpa, estou aqui! – disse um homem alto e forte, de pele bronzeada e nariz achatado. Ele saiu por uma porta ao fundo. – Estava no banheiro, desculpa.
- Peninha..!
- Calma, Jesus! Não fui cheirar, não! Eu só fui é... tirar água do joelho, como vocês, homens brancos, dizem.
- Pena, você é tão branco quanto eu! Não sei qualé de dizer que é índio! – disse Tânia.
- Marketing, gatinha! Puro marketing! – disse Pena-Molhada, enquanto já se instalava junto a sua bateria. – Quem falta se apresentar aí?
- Eu. – disse uma voz baixa.
- Ah! Essa menina baixinha e magrinha do meu lado, com essa cara fechada e esse cabelo curto, é a Luísa.
- Eu não sou menina. – disse Luísa, ainda falando baixo, com clara tensão na voz.
- Modo de dizer... ela toca percussão. – disse Pena-Molhada. – E eu sou o Pena-Molhada, mas os amigos podem me chamar de Peninha.

O homem gigantesco colocou as mãos nos ombros de Michael e Leia. Em seguida, ele sorriu e foi para um banquinho ao lado de Luísa. – Não vão esquecer do Torrão, né? Eu toco guitarra.

Jesus sentou-se ao lado de Torrão e pegou vários aparelhos diferentes.
- Que instrumento você toca? – perguntou Leia.
- Eu? Eu toco sintetizador e teremim.
- Sintetizador? No jazz? – perguntou Michael.
- Meu amigo, como você acha que eu conheci Thomas Penbridge? Ele deu aula pra mim! Aliás, pra vários dos mais velhos.
- Eu não sou tão velha assim! – protestou Tânia. – E cadê a Kimbi?
- Se os pais dela deixassem que a menina viesse...

Ao dizer isso, Jesus ouviu uma batida na porta milésimos de segundos antes dos outros. Levantou-se rapidamente, abriu a porta e lá estava uma menina, mais nova que Michael, usando um casaco azul cujo capuz formava a cabeça de um personagem de desenho animado.  Ela entrou sem dizer nada e puxou um case gigantesco para dentro. Logo viu-se que se tratava de um violoncelo.

- Bom... vamos começar? – disse Jesus, sorrindo. Michael sentou-se e preparou seu violino. – Michael, você é o iniciante, então você escolhe a música.

- Eu digo a música e todos nós tentamos tocá-la ao mesmo tempo?
- Sim. Até acertarmos.

Michael respirou profundamente. Em seguida, ele sorriu.

- Que tal “Save a Prayer”?

A Banda das Galáxias e o Planeta ConquistadoOnde histórias criam vida. Descubra agora