Capítulo 10

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A aula terminou. Michael foi até a arquibancada e pegou sua mochila, deixando a de Chris lá.

Uma aluna de cabelos roxos, com uma lateral raspada, e vestindo roupas pretas, aproximou-se de Michael.

- Com licença... Michael?

- Eu.

- Oi, eu sou a Lucilla. Nós somos da mesma classe.

- É, eu sei. Tudo bem?

- Tudo. Foi você que colocou o anúncio no mural do Mal?

- Eu sim. Você toca alguma coisa?

Os dois começaram a andar até o portão, para poder ir embora. Alguns alunos já haviam saído correndo.

- Eu toco bateria. – Michael notou que a voz de Lucilla era baixa, e ela falava cada palavra lentamente.

- Que bom! Ainda não tínhamos baterista! Você vai fazer alguma coisa hoje a tarde?

- Não.

- Você consegue chegar na Rua Doutor do Rio Doce, 33?

- Sim. Já dirijo.

- Quantos anos você tem?! – Michael imaginou que Lucilla tivesse a idade dele.

- Que horas nos encontramos? – perguntou Lucilla, ignorando a pergunta de Michael.

- Três da tarde. Dá tempo de almoçar.

- Ok.

Lucilla saiu andando, e Michael começou a notar suas vestimentas pretas, incluindo um sobretudo. Luís e Pamela aproximaram-se dele.

- Tu, conversando com a Esquisita? – disse Luís.

- Sério que esse apelido ficou? – perguntou Michael.

- Bom, até eu admito que ela é meio estranha, Michael. – disse Pamela. – A guria só se veste de preto, enche a cara de pó, não fala com ninguém... Acho que tu foi a primeira pessoa com quem ela falou neste mês que não fosse professor!

- Pó? A guria cheira? – perguntou Luís.

- Não, Lu... Pó compacto.

- Mas nós tivemos trabalhos em grupo... quem fez com ela? – indagou Michael.

- Ninguém. Ela disse para a Rosa Maria, por exemplo, que faria sozinha.

- Por falar em sozinha, cadê tua namoradinha? – disse Luís.

- Não sei... – Michael disse, cabisbaixo.

Luís e Pamela perceberam que Michael estava chateado. Surpreendentemente, Luís colocou a mão no ombro de Michael.

- Complicado, Michael. Mulheres são complicadas.

Depois que disse isso, Luís olhou assustado para Pamela, que sorriu para ele, como que aprovando a atitude do namorado.

A hora chegou, e Diana levava Michael para baixo quando a campainha tocou. Abrindo a porta, viu um carro antigo, cor verde-musgo. Lucilla o dirigia.

- Sua amiga dirige?

- Estou tão intrigando quanto tu.

Lucilla desceu e abriu a porta de trás, começando a tirar peças da bateria. Diana e Michael ajudaram. Guilherme chegou e os ajudou. Logo os quatro estavam no estúdio de Diana. Montaram a bateria e prepararam os instrumentos.

- Bom, o nome da banda é A Banda das Galáxias. – disse Diana, receosa.

- Gostei. – disse Lucilla, esboçando um sorriso enquanto sentava-se no banquinho. – Grandioso.

Todos respiraram aliviados.

- Bem, pensei em Led hoje. Tenho treinado Kashmir, e agora a bateria ajuda. – disse Michael.

- Perfeito. – disse Lucilla. Ela vestiu luvas pretas (cortadas em alguns dos dedos) e pegou as baquetas.

Quando os quatro começaram a tocar juntos, houve sintonia, e foi fácil deles se entenderem. Diana e Lucilla entraram no ritmo, mesmo que a baterista não olhasse para os colegas de banda. Michael não deixou de notar que Lucilla desferia cada batida com uma força maior do que ele calculava necessário. Como se Lucilla estivesse brigando com a bateria, descarregando toda a sua raiva.

Ao fim da música, ainda brincaram e improvisaram um pouco. No término, Michael sentia que estavam chegando lá. Esse rock n' roll unia mais do que ele pensava.

Diana sentou-se no chão, assim como Guilherme. Michael pegou um banquinho, e Lucilla encostou as costas na parede, respirando rapidamente. Ela então tirou o casaco, revelando vestir uma regata, e que tinha algumas tatuagens nos braços. Diana viu que uma era um rosto masculino.

- Quem é esse no teu braço? Teu pai?

- Não. – disse Lucilla sem mudar o tom. – Meu estuprador.


A Banda das Galáxias e o Planeta ConquistadoOnde histórias criam vida. Descubra agora