21. O aniversário

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JUNHO DE 1841,
“FAMÍLIA ERA...”

Toda a família finalmente estava reunida. Henry e Tessa chegaram no mesmo dia em que Nate e Elisa, no fim da tarde, e todos os quartos da casa de Charlote foram ocupados, os das crianças até mesmo estavam sendo divididos entre os primos.
Aquilo era algo bom, Nate julgava. Estar ali, em meio à toda a família numerosa que se tornaram, era muito agradável, as conversas dos adultos e as risadas das crianças era música para os ouvidos, todos pareciam muito felizes e o feriado seria incrível. Era bom que as crianças convivessem com os primos e que tivessem aquela proximidade, Nate odiava pensar que seus filhos cresceriam sozinhos, apesar de terem muitos primos, assim como aconteceu com ele e seus irmãos, que apesar de terem muitos primos, não conviviam com a maioria deles.
Sarah e Simon chegaram de Rudá com seus filhos no dia seguinte do conde e sua família, para o almoço, e a família Hildegart finalmente estava toda ali. Aquela era uma data especial, toda a família estava em festa.
Era dia dez de junho de 1841 e a caçula dos irmãos Hildegart estava completando uma nova idade. Sarah estava recebendo as felicitações desde que descera da carruagem, com um enorme sorriso e parecendo muito feliz com toda a atenção que recebia.
A família tinha almoçado em um clima descontraído com todos à enorme mesa de jantar de Charlote, depois cada um encontrara uma ocupação para a tarde ou simplesmente passaram a tarde descansando em algum lugar.
O jantar fora especialmente organizado por Margot, um típico jantar de aniversário da família Hildegart. Nate não se surpreendeu ao ver um peru ao molho de laranja sendo servido, era a tradição da sua mãe em cada aniversário, desde que Tessa tinha idade o suficiente para entender que aquela era uma data especial, por volta dos quatro ou cinco anos, e no ano seguinte Nate fora o homenageado com o prato, e depois cada um dos irmãos, então a refeição se repetia a cada ano, no aniversário de cada filho. Arroz com champanhe e amêndoas era o prato principal e haviam muitas outras saladas e acompanhamentos à mesa, parecia até que receberiam alguém da realeza.
- Engraçado... minha sogrinha querida esteve em nossa casa no meu último aniversário e eu não me lembro de ter recebido esse banquete. – Simon comentou, com um sorriso de clara provocação à Margot.
Nate sorriu, recostando-se na cadeira e deliciando-se com a cena. Ver sua mãe, que sempre fora superior e dura com todos, sendo importunada por um genro como era por Simon era um passatempo que Nate adorava.
- Esse é um privilégio que somente quem carrega o sobrenome Hildegart possui. – Margot declarou depois de limpar os lábios de forma pomposa no guardanapo, dando um olhar superior ao genro.
- Se esse é o critério, a senhora precisa saber que Simon possui, sim, o sobrenome Hildegart. – Foi Charlote quem comentou, com um sorriso tão divertido quanto o de Nate.
O conde julgava que todos os irmãos apreciavam aquele passatempo. E apesar de Margot se fingir de durona, era claro que amava Simon também.
- Com um hífen. – Desdenhou ela com um gesto de mãos. – Hildegart-Campbell não é Hildegart.
- Mamãe! – Reclamou Sarah, de olhos arregalados.
- Nada contra você ou os seus filhos, querida. – Margot sorriu para a filha.
Simon emitiu um tsc-tsc-tsc com a língua, tomando um gole do seu vinho antes de falar.
- E eu pensando que era o genro preferido dela... – ele levou sua mão ao peito.
As gargalhadas preencheram o ambiente. Os dois não tinham antipatia um pelo outro ou animosidade, muito pelo contrário, mas as farpas sempre estavam sendo trocadas e parecia que gostavam muito daquilo. Simon flertava com a morte ao fazer aquilo.
E era por isso que Nate gostava do cunhado.
- O posto de genro preferido já está preenchido há muito tempo, não há espaço para você. – Margot disse enquanto cortava o assado habilmente.
- Por mim, é claro. – Levi falou, presunçoso, sentado ao lado de Nate.
- Não mesmo! – O protesto veio de Charlote. Todos os olhares da mesa se voltaram para ela, que deveria ficar ao lado do marido. – A mamãe pode gostar de você, amore mio, mas você não é o genro preferido dela.
Os olhares se voltaram para Margot. Todos acompanhavam com curiosidade enquanto a matriarca demorava-se na resposta, ingerindo um pedaço do assado e depois o vinho.
- Quem é o genro preferido, então? – Perguntou Elisa, expressando a curiosidade de todos.
- Eu é que não sou... – Foi Dean quem falou, em um tom baixo, mas ainda assim audível para todos.
Margot sorriu, pousando a taça na mesa.
- Vocês ainda têm dúvidas? – Inqueriu ela, o olhar percorrendo a mesa e pousando em Henry, na outra extremidade. – É claro que Henry é meu preferido.
Nate riu daquilo.
- Esclareça para nós como foi que tomou essa decisão, mamãe. – Pediu o conde.
- Como assim, esclarecer? – Tessa veio em defesa do marido. – É claro que a decisão foi tomada com base em todas as qualidades do meu marido, sem falar na beleza inigualável dele.
Todos na mesa riram enquanto Henry agradecia à esposa com um beijo em sua mão.
- Tessa não está totalmente errada. – Margot concordou. – Henry sempre foi muito cavalheiro e simpático comigo. Ele pediu a minha benção para o casamento e me agradeceu por ter levado Tessa ao continente para o début. Esse posto é mais que merecido.
O marquês agradeceu com uma mesura polida para a sogra.
- Fico muito contente em saber disso, milady. – Declarou Henry.
- Isso não tem nada a ver mesmo com a enorme fortuna que Henry possui? – Sarah provocou a mãe.
- Ou com o fato de que ele era um futuro marquês quando se casou com Tessa? – Emendou Sam.
A matriarca encolheu os ombros, culpada.
- O título e a fortuna claramente influenciaram nisso no início e Henry também passou muitos anos sendo o único genro que eu tinha. – Justificou ela.
- Ela não fazia ideia de que teria um duque na família, algumas décadas depois. – Sam comentou, com um sorriso para o marido. – Se soubesse, teria guardado essa adoração toda para Dean.
O duque lançou um olhar desentendido ao marido e arqueou uma sobrancelha.
- Estamos falando da mesma Margot Hildegart? – Indagou Dean.
- Olhe o respeito! – Margot repreendeu, mas acabou rindo junto dos outros à mesa.
- Pelo menos eu nunca terei concorrência para o posto de nora preferida... – Elisa comentou ao lado de Nate.
- Você seria a minha preferia de qualquer maneira, querida. Entre mil noras. – Margot a bajulou com um sorriso.
O jantar seguiu com conversas leves e provocações, era realmente muito bom poder estar ali, entre toda a família. As últimas décadas foram muito agitadas para a família Hildegart, cada irmão da sua própria forma, mas agora todo o caos tinha ficado para trás e somente a felicidade preenchia os dias deles, não importava o que viesse pela frente.
Nate estava disposto até mesmo a passar a próxima década como tutor de um sobrinho que nunca havia visto até um mês atrás. Reagan e Josh tinham se mudado para Glover oficialmente e morariam em uma casa nas terras de Nate, a casa em que a família Hildegart residira antes de ele receber Nindberg, e a irmã de Elisa estaria sempre por perto, Nate a ajudaria com as questões legais de Eldermer e Elisa teria sua irmãzinha ao seu lado, como tanto desejara naqueles últimos anos.
Família não era só alegria, era saber ceder e aprender a conviver com os defeitos dos outros, como Sarah e sua irritante mania de sempre desafiar a todos ou Sam e a sua mania de ser irresponsável, algo que – graças a Deus, ao Serviço de Inteligência e ao duque de Hovedan – estava ficando mais para trás a cada dia. Mais importante que isso, família era estar sempre juntos, apesar das adversidades, e Nate tinha orgulho em dizer que fazia parte daquela família.
Quando a sobremesa chegou, uma exclamação de surpresa escapou das crianças à mesa ao ver o bolo que Margot mandara preparar. Ele tinha dois andares, era o preferido de Sarah, de laranja com raspas de limão. Toda a família se levantou para cantar os parabéns para a caçula antes de cortarem o bolo, servindo primeiro as crianças, que poderiam entrar em colapso se não comessem logo o doce.
- Eu acho que... – Charlote disse com uma cara não muito agradável ao se ver de frente para o seu pedaço de bolo, já se levantando. – Preciso ir ao banheiro...
Ela saiu rapidamente da mesa, deixando todos sem entender o que acontecia.
- Vou ver o que houve. – Levi disse, se levantando também, mas Margot o impediu, segurando seu braço.
- Deixe que eu vou. Tenho certeza de que não é nada. – Declarou ela, já saindo antes que o genro pudesse fazer qualquer coisa.
Todos à mesa trocaram olhares, mas ninguém parecia saber o que estava acontecendo.
- Charlote nunca gostou de laranja. – Tessa deu de ombros.
- Não? – Perguntou Levi, estranhando aquilo.
Nate ocupou-se com o seu pedaço de bolo, que estava divino, e logo sua irmã retornou, com uma expressão melhor e um sorriso, reclamando que tinha comido demais e sentia-se enjoada.

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