o namorado de fachada

2

Michael e Marise vão se casar. 

O seu sorriso irreverente demonstra a satisfação de, daqui a alguns meses, está casada com o homem que dividir planos, sonhos. Planejei uma vida.

Tínhamos até nome para o nosso futuro pet.

— Não vai me dar os parabéns, querida? — mais uma vez, Marise debocha de mim ostentando o seu anel. Belíssimo anel.

Sinto algo estranho no peito. Na boca, um gosto amargo, e meus olhos querem se encher de lágrimas, porém pisco rapidamente para tentar aplacá-las.

Você é um fênix, vai ressurgir apesar de toda dor. Repito mentalmente o que se tornou meu mantra para superar a traição de Michael. Não gosto mais dele, mas a forma ardilosa de como ele me apulanhou pelas costas ao invés de terminar comigo antes me dói. Muito.

— Meus sinceros parabéns, Mari. — digo e ela me encara com um olhar enojado.

— Estarão casados a tempo da festa com a Coorporação? — Audrew pergunta curioso.

— Audrew, não conte com a Marise para passar uma semana em um lugar tão parecido como o  polo norte. É refinado demais para ela. — Tixa, uma advogada que entrou a pouco tempo na equipe, diz e todos nós rimos.

— Para a sua informação eu estarei sim na festa. Muito bem casada. — ela se gaba e reviro os olhos.

— Vamos ver se a sua companhia aguenta até lá, querida. — Tixa alfineta novamente. O clima já estava ficando pesado naquela sala de reuniões.

Mas estava amando ver a Marise ser encurralada.

— Eu e o Michael nos amamos.

— Imagino o quanto. — murmuro já cansada de toda a sua falação.

— E você Kiki, vai levar alguém? — Audrew pergunta e todos os olhares se voltam para mim.

— Sim, o meu novo namorado. — a resposta saiu rápido ao ponto de eu não conseguir raciocinar.

— Verdade? — Marise pergunta tentando não parecer interessada.

— Quem é ele, Kiki? — Tixa questiona com um sorriso nos lábios.

Ele não existe. Debocha meu inconsciente.

— Alguém especial. — respondo tentando dar um fim nas perguntas.

— Vamos lá pessoal, terminamos por aqui. — meu chefe encerra o assunto e lanço um olhar agradecido para ele.

— Fico feliz que esteja seguindo em frente, Kiki.— ele diz e se retira da sala.

Estou tentando.

[...]

O resto do meu dia foi tranquilo. Revisei alguns casos, incluindo o que pode alavancar a minha carreira e almocei sozinha. Agora, no fim da tarde, estou me arrumando para ir  para casa, Audrew entra em minha sala e diz que precisa falar algo importante comigo.

— Então, o que queria conversar? — pergunto vendo o senhor a minha frente se sentar em uma cadeira.

— Kimberly, eu irei direto ao assunto. Por mais que hoje os pensamentos estejam evoluídos em relação ao papel da mulher na sociedade, não se pode negar que muitos homens ainda compartilham da ideia do patriarcado. A Coorporação Adventure é o seu sonho, sei disso, e você vai se destacar muito indo trabalhar lá. Mas, infelizmente, eles acham que pessoas comprometidas se destacam no trabalho, progridem, porque têm uma razão a mais a lutar, a família. — ele fala analisando a minha expressão.

— Não sei se estou entendendo. — digo confusa.

— Eles querem funcionários comprometidos, Kiki. Eu particularmente acho isso ridículo, mas tenho certeza que é assim que funciona. Quando você revelou hoje pela manhã que está namorando, fiquei aliviado. Caso contrário, a Marise se encaixaria no perfil, já que também está concorrendo a essa vaga, depois de você, claro.

Estou furiosa.

— Que Coorporação mais machista! O que o meu progresso na empresa tem a ver com a minha vida amorosa? Não é possível! — esbravejo ainda não acreditando.

— Kiki, compreenda...

— Compreender o quê, Audrew? A vaga dos meus sonhos estaria em jogo só pelo motivo de está comprometida com alguém ou não? — pergunto com o tom de voz elevado e vejo meu chefe suspirar cansado. — Esse código patético também vale para os homens?

— Felizmente sim, Kiki. Eles acreditam que a base da Coorporação é a família. 

— Mas isso é ridículo! — digo irritada.

— É sim, mas veja pelo lado bom. Você está apta ao cargo. Vá para casa, Kiki, nos vemos amanhã. — ele diz e sai da minha sala, me deixando com a cabeça absorta em pensamentos.

Saio do escritório com dor de cabeça, coração angustiado e com muita fome. Foram muitas emoções hoje. As provocações de Marise, o casamento, a minha mentira sobre ter um namorado, e pior, saber que o fato de eu não ter um namorado compromete um sonho; Coorporação Adventure.

Mais uma vez, dirijo em meio às lágrimas. São tantas coisas que guardo calada para mim que me sufocam. Tenho muito trabalho para procurar ajuda agora.

Sinto meu corpo ser jogado para frente, não muito forte, mas o bastante para me causar um pequeno susto, e noto que bati em uma caminhonete que estava parada a frente do meu carro.

Olá amores, tudo bem? O que acharam do capítulo?? Espero vocês no próximo!