04 - MADISON

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PASSADO

— E então? Não vai me contar as novidades? — Fito os aspargos para não ver a expressão de Quentin. É tanta coisa para assimilar, que não quero parecer desesperada para entender tudo. Não quero parecer uma esponja pronta para sugar todas as informações sobre esses oito anos da sua vida.

— Que novidades?

— Ora, você partiu em uma missão heroica com as forças armadas. Deve ter muitas novidades.

— Não tenho. — É curto e seco.

— Ok, só sexo. Sem delongas.

— Você está sempre tentando me resumir a algo superficial. Não é só sexo.

Paro de cozinhar e enfim miro seu rosto.

— Não somos mais os mesmos, Quentin. Não há como ser algo especial se não soubermos nada um do outro.

— Me conta sobre você — ele pede, de olho para a faca, que passa rápido pelos legumes. Termino tudo calada e depois jogo os legumes picados em uma panela maior. No armário, pego dois pacotes de macarrão. Quentin espera pacientemente.

— Meu pai me ajudou com a clínica — digo. — Precisei de dois anos para pagar o empréstimo.

— Eu adorei o nome.

— Obrigada. Relutei no início, principalmente em voltar para cá, mas Nova Iorque não era para mim.

— Não depois de eu ter te deixado, não é? — O tom demostra pesar, mesmo que eu tenha certeza de que não se arrepende.

— Exatamente.

— A forma que eu fiz... Eu não queria que você abandonasse tudo por minha causa, porque eu não ia mais para a universidade. Eu só queria te empurrar para frente, e foi terrivelmente doloroso.

Em silêncio, observo seu rosto. Quentin parece sincero.

— Bom, tudo deu certo, e hoje o prédio é meu, e esse apartamento é quase meu. Eu amo o que faço e isso me salvou todos esses anos. — O olhar de Quentin está compenetrado, colidindo com a inquietação estampado no meu. Volto a fitar a panela.

— Que bom que seguiu seu sonho.

— Eu tinha vários, Quentin, e você levou a maioria deles.

— Eu não poderia te fazer feliz se não estivesse feliz. Realizado. Agora estou de volta. Sei que só minha presença não será suficiente...

— Não será. — Sou taxativa.

— Eu quero te fazer todas as promessas, Mad, mas antes demostrarei com ações e não só palavras. Preciso da sua confiança de volta.

Decido dar crédito e sorrio mirando seus olhos.

— Eu fico feliz que esteja empenhado nisso. Come páprica?

— Sim. Posso pegar os pratos?

— Estão daquele lado.

Enquanto comemos, conto a ele coisas bobas sobre a cidade. Sobre meus pais, sobre como os pais dele não me abandonaram e se tornaram mais próximos da minha família e sobre Marion, que não mora mais aqui.

— Então ela não é mais a pirralha mentirosa?

— Não. Marion odeia esse lugar, e espero que seja uma ótima médica onde ela escolher.

Quentin termina de comer calado e depois recosta na cadeira, me fitando por longos segundos e me deixando desconfortável.

— Eu vi amigos morrerem e ganhei muitos outros — enfim fala, olhando a taça de vinho. — E mais um monte de coisas que prefiro não te falar.

(AMOSTRA) EU AINDA TE AMAREI AMANHÃ (único)Onde histórias criam vida. Descubra agora