burning rules • c.t.h

13 • invitation

Don't worry, sweet baby
Don't you ever worry about a thing
Put your worries on the shelf
Learn to love yourself
Don't be your own worst enemy
(hangloose – alabama shakes)

16 de Setembro de 2019

Skyla Valentine Wood

Acordei com lambidas de Milo em meu nariz. Fazia uns bons anos que eu não sabia o que era ter que lidar com filhotes e eu precisava confessar: aquele pequeno ser amarelo queimado estava me dando um trabalho danado. Não havia dúvidas de que eu logo daria jeito de incumbir alguma função ao Calum. Ele não podia simplesmente adotar um cachorro pra mim e deixar que eu fizesse tudo sozinha.

Talvez eu frisar a ele que tinha uma vida havia se tornado meu bordão oficial, mas não deixava de ser verdade. Eu havia aceitado participar daquele negócio de acordo, mas acima de tudo eu tinha um emprego e uma casa para cuidar. E, naquele momento, um gato e um cachorro filhote.

Bufei, desistindo de lutar contra o sono e contra meu mais novo bichinho de estimação – cheio de energia, por sinal – e decidi levantar-me da cama naquela manhã de segunda-feira. Prendi meus cabelos em um coque desajeitado assim que me sentei na cama, enquanto o filhote pulava ao meu lado. Encarei o cachorrinho que só faltava sorrir e não aguentei.

– Mas, que droga! – puxei-o para perto de mim. – Por que você tem que ser tão fofinho? – Milo começou a distribuir 'lambeijos' pelo meu rosto, me fazendo rir.

Sempre fui uma pessoa muito solitária. Mas nunca considerei a solidão algo ruim. Eu sempre admirei minha própria companhia, mas precisava confessar que ter animais de estimação é algo que, na minha opinião, todo ser humano deveria tentar. Esses seres inocentes trazem cor pra qualquer situação. É impossível não se sentir feliz e leve perto deles, ainda que, em certos casos, eles dêem muito trabalho.

Um desses casos estava no meu colo no caminho para o banheiro e se chamava Milo Wood. Ri, deixando meu cachorrinho no chão do banheiro enquanto fazia minha higiene matinal. Ali estava uma curiosidade sobre cachorros e gatos. Mirtilo, meu gato, me amava como ninguém – nós realmente tínhamos uma ligação – mas ele nunca foi de estar sempre comigo. Já Milo, mesmo com um total de uma semana de convivência, eu já havia percebido que amava companhia. Ele me lembrava o Duke, que sempre andava como uma sombra do Calum.

Fiz minha higiene e coloquei um vestido longo que havia comprado em um daqueles brechós que Louise sempre me arrastava para. Nos pés, meus coturnos favoritos. Ajeitei meu cabelo e desci as escadas, encontrando Mirtilo dormindo perto da janela da sala, enquanto o sol batia por toda extremidade de seu pelo preto. Agradeci mentalmente por ele estar tranquilo quanto à Milo. Eles até estavam se dando bem. Calum era quem precisava agradecer por aquele feito, na realidade. Caso meu gato não aceitasse o cachorrinho, ele que iria arcar com as consequências. Mas de qualquer forma eu não poderia ser hipócrita, lá no fundo eu agradecia Hood por ter adotado aquela bolinha de pelo.

Não liguei a televisão naquela manhã. Naqueles últimos tempos eu andava tão perdida em minhas cantorias matinais que não me importava em escutar notícias repetidas que, na maioria das vezes, só me deixavam frustrada.

Minha trilha sonora para aquela segunda-feira era "HangLoose" da banda Alabama Shakes, uma música que Calum andava ouvindo bastante no rádio de sua Range Rover quando nós dávamos alguma volta. Eu repudiava o fato de que aquele cara estava começando a se hospedar em aspectos da minha vida que iam além daquele maldito contrato, mas não podia negar que ele tinha um ótimo gosto musical.

Foi cantarolando aquela música que eu fiz meu café da manhã e ouvindo a mesma que fiz meu caminho com o Vista Cruiser até o antiquário. Felizmente, no melhor humor que eu havia estado em tempos. Era uma felicidade repentina, sem origem e nem explicação. Geralmente, nem precisava ser segunda-feira para eu acordar indisposta e chateada com inúmeros aspectos da minha vida, mas daquela vez eu estava bem. Bem até demais.