Para onde?

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                       POV Bianca

Ás vezes eu simplesmente agradeço pela existência do silêncio. Porque é realmente um saco quando você obviamente não tem intimidade com alguém e então essa pessoa começa a forçar um assunto quando temos o maravilhoso silêncio para ser contemplado.

Ok, talvez eu estivesse completamente mal humorada e por isso não estava com a mínima vontade de responder as perguntas bobas da tia Jordana. Mas também não é como se eu não tivesse motivos para odiar completamente o mundo naquele momento.

_Entao...Bibi, você gosta de cavalos? Lá na fazenda eu e seu tio criemos cavalos. Se você quiser você pode adotar um para você, é melhor do que uma bicicleta!

Eu quis bater minha cabeça no vidro do carro milhares de vezes ou apenas começar a chorar novamente. Queria também dizer que eu não ligava a mínima para cavalos porque eu não era a Hannah Montana. E que bicicleta era mil vezes melhor porque eu costumava levar Eduarda na parte de trás e então eu podia sentir o cheiro bom que ela tinha quando batia um vento.

Eu também queria dizer que eu odiava minha família e odiava não poder estar exatamente no dia da festa de Eduarda porque eu sabia que era muito importante que eu estivesse lá. Ela falava daquela festa desde que tínhamos uns 6 anos! E eu havia jurado que estaria lá!

Eu não queria além de ser uma azarada também ser uma mentirosa que quebra juramentos.

Eu juro que ia falar todas essas coisas mas tia Jordana tinha aquele olhar atencioso no rosto. Um olhar de quem quer dizer "Eu entendo que você esteja sofrendo" e então eu revirei os olhos e engoli tudo o que eu queria dizer.

Ela nem tinha culpa de nada mesmo.

_É. Pode ser...

Eu murmurei e virei meu rosto para o vidro.

Minha mente tentava não pensar no fato de que eu não havia me despedido de Eduarda. Tentei não criar a expressão que ela faria quando acordasse de manhã, olhasse pela janela e percebesse que meu quarto estava meio vazio.

Tão vazio quanto eu me sentia naquele momento.

_Escute...eu sei que você está se sentindo mal mas...lá é legal. Sua vó e eu vamos te recepcionar muito bem.

Tia Jordana falou novamente e eu balancei a cabeça. Ela era simpática mas será que não podia me deixar sozinha e quieta para eu contemplar como minha vida havia acabado de ter uma queda meteórica de incrível para completamente bosta?

_Tia. Olha, não é nada com você ou com a vovó mas...eu realmente não vou ficar feliz lá na fazenda.

Eu falei tão baixinho que até duvidei que ela tivesse escutado. Eu não tinha certeza se minha mãe havia contado para ela O MOTIVO de eu estar indo morar com elas...e eu não queria ter que passar por outra sessão de preconceito e ódio.

Mas tia Jordana apenas franziu a testa e disse:

_Por que? Você tem alergia a mosquitos? Porque se tiver eu posso comprar repelente para você. Lá na fazenda realmente tem MUITOS!

Eu acho que se eu não estivesse segurando o choro desde que saí de casa eu provavelmente teria sorrido para tia Jordana. Ela era simpática mas eu estava tão afetada que qualquer coisa me lembrava Eduarda.

Piadas bobas me lembravam Eduarda. Sorrisos me lembravam Eduarda. O mundo inteiro e o que o cercava era uma prova viva de que Maria Eduarda kropf existia e que eu nunca mais seria feliz se não estivesse com ela novamente.

_Você não sabe o motivo pelo qual minha mãe me mandou morar com vocês?

Eu perguntei enquanto mantinha meu rosto virado para o vidro. Eu pensei: bom...já estou fudida mesmo. O que importa se minha tia também achar tão nojento eu estar apaixonada por uma menina que vai mandar eu sair do carro dela e me abandonar nessa estrada escura? Pelo menos eu poderia tentar pegar um ônibus de volta quando amanhecesse.

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