2. Bad start

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Quando o sol surgiu na manhã seguinte Seokjin não só já estava acordado, como se encontrava cem por cento desperto. Acostumado à dura rotina de policial e à privação de sono e de relaxamento que ela provocava, ainda estava escuro quando não conseguiu mais pregar os olhos para tentar dormir novamente.

Decerto repousar naquela esteira ressecada na sala fria de seu amigo não ajudava a sua condição, mas se Seokjin se submetia a tanto, era por vontade própria, e não por falta de opção. Jamais dormiria no quarto que o senhorzinho em hipótese alguma perdia o hábito de lhe oferecer. Não admitia sequer em pensamento, mas não tinha estrutura emocional nenhuma para isso.

— Vejo que fez até o café da manhã. — O dono da casa disse ao entrar na cozinha, conduzido até ali pelo cheiro do arroz cozido e demais pratos.

— Eu comprei, ahjussi — respondeu, educado e tão descontraído quanto poderia ser. — Sabe que sou incapaz até de preparar um chá simples de forma decente.

— É o que gosta de dizer a si mesmo, mas teria capacidade de aprender a cozinhar bem, se tivesse a disposição para tanto.

— Eu não tenho a disposição. — Sorriu pequeno.

— Eu sei, criança.

Seokjin anuiu, achando graça, como sempre, do fato de ter mais de trinta anos e ainda ser chamado de criança. Talvez essa fosse, de fato, a única sensação que alguém como o senhor Jung poderia ter em contato com pessoas que ainda não tinham dobrinhas no rosto para demostrar o quanto eram experientes — muito embora Seokjin já começasse a apresentar, bem de leve, sulcos indo das narinas até os lábios. Certamente, para alguém da idade do senhor Jung, tais sulcos não queriam dizer nada.

Tomaram juntos o café da manhã que o detetive comprou quando saiu cedinho, com o céu ainda rosado, para uma corrida pelas ruas, o primeiro exercício físico que se presenteou naquela quinta-feira. Após a alimentação e a troca de palavras e desejos de um bom dia, Seokjin se despediu do senhor Jung e pegou suas coisas, montando na sua moto e partindo diretamente para a delegacia. Estava suado, usando as roupas do dia anterior, mas isso não seria um problema. Havia uma bolsa sua no quarto do conforto, onde sempre estavam guardadas trocas de roupas, produtos de higiene e alguns medicamentos comuns e genéricos.

Ao atravessar a porta da recepção, um bom tempo antes de seu horário de trabalho, recebeu um cumprimento da mesma funcionária que ali ficava, com o entusiasmo habitual. Respondeu, tentando copiar ao menos em parte o bom humor de Daeyon, falhando miseravelmente. Subiu até seu andar, foi à sala de conforto, trocou as roupas que usava por um conjunto de academia e desceu ao subsolo, onde havia um maquinário bastante útil para a prática de exercícios e treinamentos, presente do mesmo senador que estivera na delegacia no dia anterior. Era uma área recente, e nem sempre tão frequentada. Diferente dos filmes e seriados de televisão, policiais não eram, exatamente, pessoas afeitas à prática de atividades físicas. Os que ali iam, em geral, o faziam como forma de descontar frustrações, muito mais do que para auxiliar nos cuidados com a saúde.

O caso de Seokjin era um híbrido de válvula de escape e o cuidado com o próprio corpo, passando, ainda, pela questão da vaidade. Passar dos trinta anos lhe fez perceber que a juventude não era eterna, e que precisava trabalhar para se manter saudável, tanto quanto possível. Fora isso, tinha o seu orgulho; ainda que não fosse de dar muita importância aos padrões estéticos, gostava de saber que era apreciado pela beleza que sempre soube possuir. Unindo o útil ao agradável, ele ainda adicionava uma vantagem: preparo adequado para as atividades externas enquanto detetive de homicídios. Quase nunca precisava correr atrás de bandidos, mas quando era preciso, se mostrava uma dádiva ter condicionamento suficiente para tanto. Por isso, procurava estar ali ao menos três vezes na semana, para que tudo se encaixasse.

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