Meia hora tinha se passado desde que Namjoon tinha chegado e oferecido um jantar para Seokjin. O policial tentou retomar seu trabalho e não se envolver naquilo, não queria dar motivos para que o psicólogo puxasse assunto, não queria conversa com ele, tentar se entender, ficar próximo. Não era do tipo que ficava próximo das pessoas, não daquela maneira que Namjoon parecia querer. A pessoa com a qual mais tinha intimidade — tirando seu irmão — morava a uns bons quilômetros dali, e estava muito bem desta forma, não via razão alguma para ser diferente. Especialmente em se tratando de Namjoon. O sujeito, porém, era insistente, e durante a meia hora seguinte à sua chegada não tinha permitido que Seokjin fizesse coisa nenhuma em paz. Estava até aquele momento tentando reler papéis e organizar ideias, mas era difícil quando tinha alguém que não calava a boca um instante que fosse.
— Qual seu tipo de sapato preferido?
— Como gosta do ponto da sua carne?
— Que tipo de livro faz você querer acender uma fogueira com ele?
— Prefere cobras ou cavalos?
— Usa as meias do mesmo par ou cada uma de um par diferente?
E tantas outras perguntas entre uma mastigada e outra, perguntas que Seokjin fazia questão de deixar sem resposta — muito embora elas parecessem inusitadas, e isso o deixasse tentado a responder.
— O que exatamente faz com que não goste de mim?
A questão veio do nada, como todas as anteriores, mas a maneira falsamente despretensiosa com que Namjoon a proferiu entre um gole e outro de soju foi um tanto cômica para Seokjin, e ele acabou rindo sem querer. Odiou-se por isso, a princípio. Não queria dar nenhum gostinho que fosse para que o outro achasse que estava o conquistando — o que obviamente não estava acontecendo —, mas ao observar o franzir da testa do psicólogo achou que a pequena risada tinha sido oportuna. Se servia para o deixar irritado, o mínimo que fosse, tinha uma ótima serventia. A resposta de Namjoon, entretanto, quebrou um pouco da rápida alegria que sentiu.
— Achar graça é bastante revelador. — O homem falou ao colocar a última peça de sashimi na boca.
— Seja lá o que estiver fazendo, pare — sentenciou, pegando de volta os seus papéis.
— O que pensa que estou fazendo, detetive?
— Me analisando — dizia com o olhar já voltado para seus papéis. — E eu detesto isso. Pare.
— Não estou analisando você.
— Está sim. — Soltou outra vez a papelada, cruzando os braços e virando o corpo na direção do maior. — Está fazendo isso desde que me viu pela primeira vez, não está? Não pode evitar, é sua profissão, e talvez seja mais forte que você, mas não faça isso de forma consciente, pelo menos. Quando perceber que está me analisando, pare. É tudo o que peço.
— Parece que foi você quem passou um tempo analisando alguém aqui — retrucou com calma, do jeito seco que lhe era detestavelmente peculiar. — Você parece já ter certeza de tudo, diferente de mim, que tento entender.
— Sabe do que eu tenho certeza? — Apertou um tanto os olhos, sempre muito sério. — Eu tenho certeza de que não quero ser seu amigo, que não quero que fique tentando me entender e muito menos que force uma interação para além do que devemos ter como colegas de trabalho. Podemos ficar resolvidos assim?
— Me dê um motivo para que não queira nada disso, e eu vou poder compreender seu ponto.
— Por que preciso de um motivo para isso? Eu simplesmente não quero. Minha recusa não é suficiente?
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Fingerprints
FanfictionSeokjin tem a vida dividida entre o passado e o presente. Fechado para o mundo, tenta conciliar a rotina de investigador da Polícia de Seul com a busca pessoal pelo ex amante desaparecido. Seus dias são sempre os mesmos, até a chegada de Namjoon, o...