6. Cold war

107 18 58
                                    

Olha quem resolveu aparecer? Sim, ela mesma, a fic que aparece de ano em ano! =O

***

Namjoon era um homem de palavra. Tinha prometido que não iria incomodar Seokjin com assunto nenhum enquanto não tivessem o que discutir sobre a suposta morte natural na vila de idosos, e desde então se limitara a cumprimentos e despedidas. O máximo de interação que se permitia ter era a de estar com o café de Seokjin preparado assim que o detetive chegava na delegacia. Entregava o copo com o descafeinado não adoçado tão logo o avistava, o cumprimentava e então passava o expediente inteiro sem conversas, compenetrado em seus afazeres, ou trocando palavras com Yoongi e Jungkook. Além disso, a única coisa que Seokjin tinha que aturar era a visão de seu rosto — o que teria de aceitar, afinal, não podia forçar o psicólogo a cobri-lo —, ou quando algo surgia e tinha que dar ordens à equipe, ou seus parceiros precisavam prestar relatórios.

A princípio estava tudo certo para Seokjin. Namjoon o irritava pelo mero motivo de existir, e não o ter em sua aba era uma sorte muito grande. Com o passar dos dias, porém, foi sentindo uma monotonia esquisita, uma falta bizarra de ter a calma perturbada pelas perguntas fora de hora e olhares invasivos de Namjoon. Sim, tinha notado que o doutor possuía um jeito peculiar de o encarar, um jeito próprio que não destinava a outras pessoas. Já tinha percebido antes, e no momento atual, ficara mais evidente. Não era nada demais, todavia, Seokjin tinha percebido aquilo e este era um dos fatores que o incomodavam naquele homem. O que não o incomodava em Namjoon, no fim das contas? Se fosse pôr os itens numa lista, precisaria de uma folha de papel longa. Bastante longa. Com frente e verso.

Ficar sem isso, bem como ter de volta toda a tranquilidade que lhe era cabível antes de Namjoon se intrometer em sua vida, era tudo o que Seokjin jurava estar necessitando. A dura realidade, entretanto, era que se tornava difícil se reorganizar sem a perspectiva de ser importunado por Namjoon. Era complicado tentar explicar, mas chegar no trabalho todos os dias sabendo que não teria que se esquivar de perguntas sem sentido e de olhares perscrutadores estava conduzindo Seokjin a um marasmo tão pegajoso que seria capaz de o sentir entre os dedos. As três semanas que ficaram sem se falar tinham o feito notar que criara apego com a sensação de se irritar com Namjoon. Quando não tinha motivos para tanto, não dava para ficar irritado com ele, e isso passou a lhe provocar uma sensação de vazio. Podia se incomodar com sua respiração, com seu jeito de andar, com sua postura, porém todos eram detalhes impessoais e não tinham a menor graça. Queria poder se irritar diretamente, por coisas que ele lhe dizia, lhe fazia, lhe causava. Nem mesmo o café ele errava o ponto, como Seokjin iria recuperar aquele sentimento agridoce de estar com raiva do sujeito?

Em seu íntimo, sabia que a solução de seu problema mais idiota de todos era voltar atrás no trato e falar com Namjoon. Tinha certeza absoluta de que o psicólogo queria falar com ele, trocar mais algumas ideias que tivesse tido enquanto aguardavam os resultados dos exames, comentar sobre teorias de outros casos que vinham trabalhando. Era só dar abertura que Namjoon voltaria a ser insuportável, lhe dando razão para o considerar assim. Mas Seokjin também sabia, lá no fundo, que jamais daria esse passo. Não negava o que sentia a si mesmo, mas também não demonstrava a mais ninguém. Desfazer o acerto seria perder a queda de braço que muito provavelmente só existia em sua mente. Perder fazia parte, porém não queria perder para Namjoon, nem mesmo no campo da sua imaginação.

Na manhã presente Seokjin não esperava nada de novo. Havia alguns dias que o movimento na delegacia estava parado, sem grandes situações para serem investigadas, com exceção dos ataques costumeiros entre criminosos que acabavam culminando em acertos de contas fatais ou desaparecimentos. Mortes eram sempre mortes e Seokjin lamentava todas, porém alguns estilos de viver eram mais nocivos à manutenção da vida, e um dos preços que se pagava por estar nesse caminho era ajudar a aumentar o número de investigações. Seokjin já estava tempo o bastante na polícia para se sentir, de certa forma, imune aos impactos das estatísticas crescendo. Num mundo ideal, iria preferir que uma profissão como a sua não precisasse existir, mas estavam na realidade que podiam, e não se envergonhava da frieza que seu trabalho lhe extraía. Já que teria que fazer investigações acerca de crimes tão cruéis, que pessoas inocentes não figurassem tanto no rol de vítimas. Era por isso que torcia.

FingerprintsOnde histórias criam vida. Descubra agora