013 | ser uma Carrera

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pov kiara !

─ Merda ─ Sai dos braços de JJ, que também se afastou, olhando para mim.

─ Se esconde ─ Ele disse, abrindo uma portinha do armário. ─ Acho que você cabe aqui.

Olhei para ele franzindo o cenho. Não havia chance alguma de eu caber ali, era pequeno demais.

─ Ou a sua percepção de tamanho é péssima ou você acha que eu sou uma anã ─ Disse, baixinho, nervosa.

Escutava o salto da minha mãe, andando de um lado para o outro.

─ Vocês, pogues, viram ela em algum lugar?! Andem! Respondam! ─ Ela gritava de maneira nada gentil, tão rude e tão sem paciência. Estava, em poucas palavras, puta. Ela iria me enterrar viva e ainda rir encima do meu túmulo.

─ Anda, Kie. Você tem que se esconder, é só questão de tempo até ela... ─ Tarde demais. Minha mãe foi até a cozinha para me procurar, o barulho de salto estava mais perto em questão de segundos. E então parou. Parou bem ali, na entrada do cômodo em que eu estava.

Se a situação já era ruim o suficiente antes, agora estava ainda pior. Minha mãe olhava para mim e para JJ, alternando os olhos arregalados e furiosos. Eu podia dizer que não rolou nada, mas o meu batom vermelho borrado e a boca do garoto com a mesma coloração denunciava justamente o oposto. Droga. Eu estava ferrada, de todas as maneiras que alguém poderia se ferrar.

─ Para casa. ─ Falou, irada. Nunca vi minha mãe nesse estado. Ela nem se deu o trabalho de gritar, sua voz estava forte o suficiente que nem precisou elevá-la. ─ Agora.

Nem me dei o trabalho de discutir — não ali, na frente de todos, no meio da festa —, portanto, apenas olhei para JJ que olhava para a situação meio preocupado, notando o estado de fúria de minha mãe. Sorri sem mostrar os dentes, sem querer sorrir, sem nenhum pingo de felicidade. O sorriso parecia mais uma despedida, pois tinha certeza que ficaria um bom tempo de castigo.

Tirei o batom que restava na minha boca com as costas da minha mão esquerda, saindo da cozinha recebendo uma olhada furiosa da minha mãe.

Vamos conversar em casa, por favor ─ Foi a única coisa que eu disse para ela, bem baixinho. Ela pareceu concordar, é óbvio que concordaria, odiaria que esse episódio saísse daquela casa de madeira para o mundo exterior, manchando o sobrenome Carrera — a única coisa que parecia importar para a minha mãe.

Sai de cabeça baixa recebendo olhares de todos os convidados da festa. Os meus amigos olhavam para a situação com pena e empatia, querendo fazer algo para melhorar a situação e ao mesmo tempo sabendo que não havia nada para se fazer que poderia realmente torná-la melhor. Me senti como no meu primeiro dia de aula na escola pogue. Todos me olhavam de maneira julgatória e curiosa, algo que eu julgava que era cruel, mas eu não conseguia mais me importar com isso.

Cruzei a sala em passos rápidos, toda a festa em silêncio tinha aberto espaço suficiente para eu e minha mãe caminharmos até a saída. A mulher atrás de mim caminhaca como se fosse um guarda, e eu sua prisioneira.

Saímos da casa e, dentro de alguns minutos, colocaram a música novamente. Sabia que não tinha sido nenhum dos meus pogues. Tinha certeza disso, pois escutava a voz de John B gritando "Tá legal, a festa acabou". Não vi Sarah e minha mãe também não.

─ Entra. ─ Ordenou apontando para o carro. Entendi o recado e obedeci.

Como se costume, viajamos em silêncio.

𝐓𝐑𝐔𝐄 𝐋𝐎𝐕𝐄, jiara.Onde histórias criam vida. Descubra agora