02. Prazer em conhecê-lo, demônio

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Trinta minutos depois, Kao, Ohm e o cara misterioso estavam na Delegacia de Polícia e fechados dentro do escritório de Kao. O menor deles decidiu que a cadeira de encosto alto era o lugar perfeito para ele, apesar de ser um visitante, deixando as cadeiras dos convidados para os demais.

"Pode descansar agora, Ohm. Por favor, sente-se!", Kao apontou para uma cadeira vazia já que estava ocupando uma e não pareceu se incomodar ao ver sua própria cadeira sendo roubada daquele jeito.

O detetive achou algo muito estranho naquela dinâmica e queria perguntar muitas coisas sobre o que quer que estivesse acontecendo lá, como por que seu chefe frio parecia conhecer aquele estranho e por que eles estavam agindo de forma tão suspeita, mas ainda escolheu ficar quieto por um tempo. No entanto, essa postura o fez ter espaço suficiente para lembrar que ainda estava sem camisa. O que não parecia ser um grande problema fora da Delegacia, agora o deixava realmente consciente de seu corpo seminu. Especialmente porque o estranho ficava roubando olhares dele, mesmo tentando ser discreto sobre isso. De modo geral, o clima estranho na sala foi finalmente cortado pela pergunta do Chefe de Polícia.

"Você já se apresentou?", Kao perguntou e não obteve resposta do homem menor, suspirando com isso. "Ok, então. Ohm, este é Fluke."

Ohm se virou para o cara com a mão estendida em sua direção, mas este o ignorou, fazendo-o retrair os dedos novamente. Depois de usar sua camisa como bandagens para aquele bastardo ingrato, ele estava se sentindo muito frio na sala de ar condicionado. Ainda assim, ele não tinha lugar para julgar o cara, já que ele era de fato seu salvador.

"Fluke não é mundano como nós, Ohm. Ele é uma espécie de policial do submundo e aparentemente o cara que você estava perseguindo hoje é um dos prisioneiros que escapou de novo. Estou certo, Fluke?", Kao disse com uma expressão vazia que poderia ser usada para dizer que ele comprou o almoço ou derramou o leite no balcão da cozinha.

"Que inferno tá acontecendo?", Ohm perguntou confuso.

"Cara, você realmente precisa parar de usar ''Inferno" sempre que quiser! Não temos esse tipo de tempo, sabe?", Fluke bufou de seu assento.

"Que inferno está acontecendo aqui?!", Ohm estava mais confuso do que nunca e gritou como se o outro homem não tivesse dito nada para ele. "O ladrão também usou essa palavra. O que significa ser mundano? Onde fica o submundo?", perguntou o detetive instintivamente. Era natural para ele sentir curiosidade sobre tudo, mas o tratamento deferente de Kao para com Fluke estava lhe dando nos nervos, especialmente porque o último parecia ignorar o fato de propósito.

No entanto, sua sede de conhecimento foi logo enterrada e substituída por sentimentos mais desagradáveis. A menção da palavra mesmo depois de seu aviso fez o sangue de Fluke ferver. Ele se levantou da cadeira e socou a mesa de Kao com toda a força. O movimento quebrou a madeira e os móveis desabaram em questão de segundos, virando uma pilha de entulho no chão.

"Eu já avisei. NÃO. REPITA. ESTA. PALAVRA.", Fluke ameaçou olhando atentamente nos olhos de Ohm, fazendo o detetive engolir em seco.

"E-eu…", pretendia explicar que o uso da palavra não era para incomodá-lo, apenas um hábito dele, mas o que encontrou nos olhos castanhos que o fitavam fez sua língua ficar presa dentro da boca. Era como se suas cordas vocais estivessem grudadas em sua garganta.

O que Ohm viu nos olhos de Fluke não era algo fácil de descrever porque era mais uma sensação do que qualquer outra coisa, mas ainda assim fez toda sua pele arrepiar ao perceber o perigo. Ele sentiu miséria e dor, um certo tipo de agonia que poderia fazer uma pessoa gritar por socorro mesmo sem estar fisicamente ferida. Era como olhar para o próprio "Inferno" e só então a compreensão afundou em seu cérebro. Kao e Fluke estavam sendo literais aqui. Eles estavam literalmente falando sobre "o submundo" e "inferno" como se fosse um lugar real e não apenas um conceito espiritual usado por pessoas religiosas. Pelo menos, pelo que ele conseguia se lembrar, Kao não era esse tipo de pessoa.

Meu parceiro é um demônioOnde histórias criam vida. Descubra agora