13. Sobre vida e morte

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S se encontrava sentando confortavelmente em uma cadeira exibida no meio da sala. O local era ricamente decorado com bom gosto, desde o lindo tom vermelho das paredes até o carpete com pequenos detalhes formando um padrão labirinto feito com fios dourados. O demônio era a definição de facilidade, tomando algo de um copo com uma das mãos e brincando com uma mecha de seu cabelo ondulado com a outra.

Fluke, por outro lado, tinha sua peruca mal cobrindo seu cabelo real, maquiagem bagunçada e estava ofegante. Ainda assim, uma visão a ser apreciada apenas porque a fome em seus olhos e seu estilo de guaxinim imundo eram muito atraentes. Se Ohm estivesse lá, ele provavelmente assobiaria ao vê-lo, o que fez o demônio estremecer de dor e ouvir um chamado da realidade. Ele havia deixado seu parceiro para trás, não havia mais espaço para piadas.

"Vamos direto ao ponto, S!", ele gritou entre respirações, chamando a atenção do outro demônio como se fosse a primeira vez que elu notava alguém ao seu lado naquela sala.

"Oh! Olá, Fluke! Há muito tempo!", S respondeu despreocupado com o tom urgente dele.

"Se você realmente sentiu minha falta, S, deveria ter vindo fazer uma visita!", ele sorriu com o convite falso que saiu naturalmente de sua boca.

O demônio soltou uma risada com muito pouco humor e se levantou, pousando o copo em uma mesa ao lado da cadeira anteriormente ocupada. "Engraçado como sempre, meu querido! Mas eu tinha algo para fazer primeiro, se você já ouviu falar!"

"Sim, sim, ouvi dizer que você está machucando mundanos inocentes!", Fluke cuspiu entre os dentes, fazendo um grande esforço para manter a calma depois de se lembrar do falecimento de sua querida amiga Pine.

S começou a andar pela sala com seu ritmo usual, como um modelo provocando o público, mas ainda assim conseguiu parecer tão impressionante e ameaçador quanto uma cobra pronta para atacar sua presa. "Desde quando você se importa com eles, Fluke?"

"Isso importa?", ele fechou os olhos para evitar que uma lágrima caísse de seus olhos, mas suas pálpebras trêmulas denunciavam seu nervosismo.

"Isso deveria importar, Fluke! Você sabe o que estou fazendo, para de brincadeira!", S disse, abandonando o clima frio pela primeira vez na conversa. Agora eles estavam um de frente para o outro, ou melhor dizendo, S estava de frente para Fluke, que ainda mantinha os olhos fechados. A ação fez o demônio de terno entrar em combustão por dentro e elu agarrou o queixo fino para forçar Fluke a olhar para eles. Encarar aqueles olhos vazios trouxe a Fluke memórias de uma época que ele gostaria de ser capaz de esquecer.

Não foi preciso muito tempo no Inferno ou nos planos acima para entender que toda criatura viva e não viva tinha seu destino previamente escrito por divindades superiores. Elas não se importavam com os sentimentos das criaturas, apenas em cumprir seus desejos de vida ou morte. Elas tratavam o submundo e as criaturas mundanas como seus peões em um jogo muito maior do qualquer um deles era capaz de perceber o início ou o fim.

No entanto, um grupo de demônios começou a sentir a injustiça daquele jogo doentio e deu início a uma rebelião. Eles promoveram encontros entre os insatisfeitos com esse tipo de tratamento e estavam prontos para assumir o controle de suas próprias vidas. Mesmo que fosse o destino deles serem condenados a ir para o Inferno novamente, eles aceitariam isso de bom grado, contanto que também fosse sua decisão sobre como viver suas vidas antes de cometer erros e se tornarem pecadores.

Infelizmente, as divindades descobriram seu plano e começaram a persegui-los. Cinco dos líderes conseguiram escapar, mas o sexto deles foi forçado a pegá-los e trazê-los de volta ao Inferno. Não foi difícil conectar os nomes aos papéis nesta história e isso deixou S com um grande ressentimento em relação a Fluke.

Meu parceiro é um demônioOnde histórias criam vida. Descubra agora