Capitulo IV

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Lógico que ela disse que não estava disponível para o final de semana. Que absurdo! Já não estava interessada em qualquer colega de infância em sua vida, muitos menos um que teve a audácia de desrespeitar Tia Mercê. Tão bonitinho e tão cretino.

Voltou para casa e sentou-se no grande alpendre para ouvir todas as preocupações de Mercedez em relação à Clarinha. A caçula era uma adolescente tensa que não cometia erros, não bebia e não fugia para festas. Isso era meio louco, porque a maioria das mães reclamam da incosequência dos filhos, não do excesso de responsabilidade.

A verdade é que Tia Mercê nunca foi uma mãe comum. Sempre falou sobre sexo e todos os outros assuntos que adultos temem falar com os mais novos. Incentivara Laura a ousar, se arriscar, fazer diferente. As meninas recebiam infinitas broncas se chegassem notas baixas ou reclamações da escola, mas nunca por ficar tempo demais na rua ou por ter feito bagunça com os colegas. Os castigos eram severos e justos. Ensinou às duas a importância da independência, chegava a ser uma obsessão. Repetia infinitamente que príncipes encantados não existem e que contos de fadas sempre terminam aonde começa a parte mais difícil de se ter um homem na sua vida. Fazia com que estudassem, lessem, aprendessem sobre o mundo.  

Se deixasse, Tia Mercê não parava de falar, e Laura deixava. 

Quando a tia falou e repetiu tudo o que tinha para aquela tarde, levantou para ir atrás de mimar Maria Clara com mais biscoitos e sucos. Laura foi perguntar se a irmã precisava de algo, e quase se arrependeu quando recebeu uma lista de compras do que a irmã precisava da papelaria. Como tudo naquela cidade, dava para ir andando. Calçou algo confortável, caminhou alguns minutos sob o sol ainda quente e cumpriu a tarefa que lhe foi dada.

_ Laurinha! - demorou um pouco para ela reconhecer a voz. Era o homem alto que havia visto há alguns dias, Ricardo, que agora não parecia tão bonito quanto ela se lembrava. - Como a gente nunca se encontra nessa cidade tão pequena?

_ Eu não tenho saído muito.

_ Podemos mudar isso se você quiser. Não existe tanto assim a se fazer por aqui, mas conheço um lugar super sossegado aonde sempre tem uma musiquinha gostosa.

Ela não queria aceitar. Não queria que ele pensasse que ela estava disponível para qualquer tipo de relacionamento. Mas ao mesmo tempo estava absurdamente entediada de ficar em casa.

_ Tudo bem. Parece uma boa ideia. Vai ser bom sair um pouco.


***

Ele parou em frente à casa de Laura em um carro preto pontualmente às oito. Ela mentiu para si mesma que não queria impressionar, mas a verdade é que queria sim. Com certeza não haveria outro motivo para aquele vestido curto colado ao corpo, salto alto, batom vermelho e cabelo de lado. E foi maravilhoso ver a expressão e o sorriso dele quando o viu tão linda.

O caminho foi cheio de sorrisos e piadas bobas, mas em pouquíssimo tempo já estavam no tal bar. Laura quis se enterrar: o clima do lugar era descontraído, mesas de plástico, homens de bermuda e mulheres sem maquiagem. Sentiu-se completamente  sem noção de achar que naquela cidade haveria espaço para a sua produção de mulher fatal.

_ Eu mudei de ideia, não acho que eu esteja vestida de maneira apropriada.

_ Você está linda!

_ Obrigada... mas não vou ficar confortável.

_ Então espera aqui um pouquinho.

Passaram pouco menos de dez minutos, aonde a cabeça de Laura brotava decepção e vergonha. Se distraiu um pouco com o celular e então ele chegou. Lindo e absurdamente charmoso, mais do que da primeira vez que ela o viu. Vestia um terno escuro, camisa clara e gravata vermelha. Hipnotizante.

Dia e Noite se completamOnde histórias criam vida. Descubra agora