Dia e Noite se completam

Capítulo IX

Estar com Ricardo era maravilhoso. Era como estar em casa, sem preocupações e sem medos. A noite foi ótima. Entre um monte de risadas e carinhos, sem nenhuma reserva de ser quem é. Laura queria sinceramente que não tivesse fim. Mas já que o fim chegou era inevitável pensar que, apesar de ter sido tão bom, seu corpo não tremeu como ela achou que temeria. Não o desejava com a força que deveria desejar. Teriam tido momentos igualmente bons se estivessem vestidos.

Leonardo, ele fazia tudo tremer. Era insuportável e não havia um momento em que concordassem sobre qualquer coisa. Ele a irritava, a deixava nervosa, mas fazia ela gozar como se tudo fosse explodir no segundo seguinte. Isso deveria ser um dom! 

Ricardo entrou no quarto com uma bandeja de café da manhã digna de filme. Ele era um fofo, sem dúvidas. Mas vestido nessas roupas brancas com o sol da janela iluminando metade do seu rosto, não parecia o mesmo da noite passada. Sem encanto, sem vida.

 _ Desculpe minha querida. Adoraria ficar com você essa manhã, mas preciso ir correndo para o hospital. 

_ Tudo bem. Eu entendo. 

_ Obrigado por essa noite. - deu-lhe um beijo na testa e foi embora deixando para trás o perfume que ela costumava gostar, mas não dessa vez.

O-B-R-I-G-A-D-O. Que tipo de pessoa agradece depois de uma noite de sexo?! Deu um sorrisinho amarelo enquanto ele saía pela porta e sentiu uma leve repulsa. Inacreditável que um homem aparentemente maduro e bem sucedido possa parecer tão bobo! Ele era o mesmo fofo de sempre, mas aquela não era hora para ternura.

Mas quem era ela para dizer como o cara teria que ser e quando?! 

Vestiu-se com a pressa de quem precisaria sair logo dali. Mas não precisava! Tia Mercê sabia aonde ela estava, só pediu que se cuidasse. A irmã ia querer saber dos detalhes, e era desanimador saber que os detalhes não seriam nada picantes para uma menina de 15 anos. Merda de expectativas! Porque diabos achou que ele a faria flutuar?! 

 Porque diabos achou que ele a faria flutuar como Leonardo fez?!

Esse era o ponto! Leonardo não era o cara certo. Não conseguia acreditar nesse conceito de homem perfeito, de amor para a vida toda, mas o universo já estava sendo muito escroto colocando todo o prazer em um homem, e toda a segurança e confiança em outro. Não dava para juntar tudo em um só?!

Chamou um taxi, chegou em casa e sentiu-se feliz por cair na própria cama. Nada como a própria cama. Não queria dormir, só queria pensar. Aquele tempo seria o único que teria sozinha, logo Clarinha chegaria da escola e a encheria de perguntas. 

A escola. Não pensou muito, se levantou, tomou um banho, vestiu um vestido preto decotado sobre a melhor lingerie que conseguiu achar.

_ Laura! Que horas você chegou minha filha? Já vai sair?

_ Vou Tia. Vou resolver um assunto e volto logo. Não se preocupe que estarei aqui para o almoço.

Chegou na escola e, ainda sem pensar muito, entrou portão adentro pelo caminho que conhecia muito bem. Essa era vantagem da escola nessa cidade minúscula, todo mundo conhecia todo mundo, ninguém estranhou sua presença. Abriu a porta da sala dos professores, e só aí se deu conta de que provavelmente estava fazendo uma merda enorme. Cinco pessoas pareciam concentradas em volta de uma mesa redonda e pararam o que estavam fazendo para olhar para ela. Leonardo estava sozinho, perto da Janela, e parecia que estava vendo um fantasma.

Depois de alguns momentos de silêncio que pareceram uma eternidade, uma das mulheres sentada á mesa com cara de professora de ciências pergunta:

_ Pois não?!

Pois não o que? Me entreguem aquele homem ali e todos saem vivos! Lógico que não disse isso, nem disse nada. Ficou ali com cara de imbecil, enquanto Leo também fazia a mesma cara de panaca, mas agora ele parecia se divertir.