Capítulo XV

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Zonza. Era inacreditável que ela estivesse metida até o pescoço naquela merda toda. Caralho! Sentou no sofá e colocou a cabeça entre os joelhos segurando os cabelos para trás. Mil coisas passariam na sua cabeça, e nenhuma delas conseguiria explicar o que acabou de acontecer. Então ela começou a rir. Gargalhou tão forte e sinceramente, com a franqueza que só o desespero traz.

Do outro lado da sala Clarinha olhava para ela. Aí que Laura ria mais! Não era hilário?! A irmã de 15 anos estava ali, com aquele olhar recriminador e com certeza teria toda a razão de dar qualquer lição de moral que quisesse. O que Laura poderia dizer? Nada!

Hi-lá-ri-o! Só lhe restava rir, e sabe por que? Porque, essa porra toda era uma palhaçada! E olha a cara da Clara! Até rima!

_ Tá louca Laura? Eu vou ter que dar na sua cara pra você parar de rir? - Já imaginou que louco seria? Ter sua irmã mais nova metendo a mão na sua cara para você parar de rir da sua própria desgraça?

_ Tá bom, tá bom! Eu vou parar! Me dá um minuto.

_ Não, não vou te dar um minuto! Você não cansa de ter todos os holofotes do mundo virados para você? Chega Laura! Já deu! Tá na hora de você parar de ser essa mimadinha de merda e ver o mundo além da porra do seu umbigo!

Ok, agora a porra ficou séria.

_ Do que você tá falando garota?

_ Eu tô falando que suas aventuras sexuais pouco me importam! Que o fato de você ficar com fama de piranha em uma cidade pequena não é da minha conta! Mas você precisa mesmo trazer o barraco pra dentro de casa? Você viu o estado da MINHA mãe? Ela já é uma senhora, não precisa passar por essas coisas!

_ Pera! Ela é minha mãe também!

_ É mesmo?! Porque até aonde eu sei você só chama ela de Tia. Tia Mercê! Por quê?! Ela fez tudo por você a vida inteira! Dói chamar ela de mãe?! Eu te digo porque Laura! Egoísmo! O mesmo egoísmo que te faz trazer a merda da sua confusão aqui pra dentro.

_ Você não sabe do que tá falando garota.

_ Eu não sei? Quem não sabe é você, que não sabe o que quer nem quem quer na própria vida. Vai dormir garota, e vê se amanhã acorda com coragem de ser a irmã mais velha dessa casa.

***

Sensação de ressaca mesmo sem ter bebido. Tudo que aconteceu no dia anterior parecia um pesadelo que não tinha acontecido no mundo real, mas ela não teria tanta sorte.

_Senta Laura.

Clarinha já tinha saído para a escola e Tia Mercê estava sentada a mesa, com o café da manhã a postos esperando por Laura. Não teria como fugir, mas nada foi dito. O silêncio incomodava mais do que um milhão de gritos e lições de moral. Um tapa na cara doeria menos.

_ A senhora não tem nada para dizer, tia?

_ Não. E você? Tem?

_ Tem alguma coisa que eu diga que amenize o que aconteceu aqui ontem?

_ Não.

_ Eu sinto muito Tia. Fui pega de surpresa também, eu não esperava que o Ricardo estivesse aqui, nem que reagisse daquela maneira. Nem que o neandertal ia acabar agredindo-o daquela forma. Não queria estar nessa confusão entre dois caras, muito menos ter metido você e a Clarinha no meio disso. A gente deveria estar se adaptando, e construindo a vida nova da gente aqui, juntas. Não tem nem um mês que cheguei e já revirei as coisas. Prometo que vou consertar isso e focar em estar com a senhora e a Clarinha.

_ Não prometa o que você não vai cumprir.

_ Como?

_ Você disse que vai consertar as coisas, mas não vai. Eu sou sua mãe, eu conheço você. E você não vai consertar essa situação porque você não quer. Você está adorando ser o centro das atenções e razão da disputa daqueles dois.

Dia e Noite se completamOnde histórias criam vida. Descubra agora