Não voltou para o almoço como prometeu para tia Mercê. O universo poderia explodir que ela pouco se importava. Passou a tarde nos braços de Leo, e se entregou como nunca. Pouco falavam, mas aqueles imensos olhos verdes pareciam querer dizer nada e tudo ao mesmo tempo. Foi intenso e ela estava exausta. O sol já estava indo embora quando ela saiu de fininho enquanto ele tomava banho. A noite chegava, e também o sentimento de culpa. Cadê aquela mulher segura que não queria nada além de sexo casual?!
A razão lhe dizia que não estava fazendo nada de errado, mas ainda assim parecia que algo estava fora do lugar. Ricardo não merecia isso e estava sendo irresponsável com os sentimentos de Leo. Ela tinha esse direito?! De querer os dois aos mesmo tempo?! Chegou em casa preparada para um sermão de Mercedez, que não veio. A tia só lhe levou um copo de suco e um punhado de biscoitos no quarto e disse com calma:
_ Você tem poder minha filha, poder que toda mulher forte e decidida tem e ás vezes nem sabe. São mulheres assim que viram muitas cabeças, mas tente manter a sua no lugar. - deu um beijo na sobrinha e saiu do quarto.
Tia Mercedez estava errada, ela sabia sim do poder que tinha. Mesmo que esse poder em boa parte das vezes esbarrava em caras inseguros que questionavam o porque dela não emagrecer. Ela sabia que chamava atenção, que provocava tesão e que conseguia envolver. Sabia que não decepcionava entre quatro paredes e que tinha personalidade e inteligência o suficiente para encantar. Mas manter a própria cabeça no lugar realmente não estava parecendo nada fácil.
Não combinava nem um pouco com ela essa crise de consciência, mas lá estava, perguntando a si mesma o que seria dali pra frente. Deixou a brisa da noite entrar pela janela enquanto tentava focar sua atenção em um livro qualquer. O telefone tocou: Ricardo. Não quis atender, e então se deu conta de que haviam muitas outras ligações. Uma hora teria que falar com ele, e o que diria?! Precisava dizer alguma coisa?! Valeria a pena estender essa agonia por mais tempo?! Tocou de novo e ela resolveu que não adiaria mais.
_ Ricardo, precisamos conversar.
_ Aconteceu alguma coisa? Tentei te ligar várias vezes hoje. Fiquei preocupado!
_ Não! Não aconteceu nada demais. Não precisa se preocupar.
_ Você está bem? Parece tensa.
_ Não, quer dizer, não sei. Estou um pouco confusa, e acho que precisamos ser sinceros e colocar todas as cartas na mesa.
_ Cartas? Que tipo de cartas?
_ Seria bom que conversássemos. Só isso.
_ Não era bem o que eu estava planejando para hoje, mas tudo bem. Te pego em cinco minutos.
Ele a pegou e passaram os pouco tempo até a casa dele em silêncio. Laura não sabia por onde começar, mas sabia que precisava ser sincera. Nem que essa sinceridade consistisse em dizer que nem ela mesma sabia o que estava acontecendo. Estava distraída em meio a esses pensamentos, quando ele abriu a porta do apartamento deram de cara com o lugar todo decorado a luz de muitas e muitas velas, com cheiro de incenso e garrafas de vinho bem próximas ao sofá coberto de almofadas que pareciam ser de veludo.
_ Você não tem medo de que aconteça um incêndio aqui?! - ela perguntou quase sem pensar.
_ Eu tento ser romântico e você vem me falar de incêndio?
Laura sentiu aquele peso de novo, o peso da culpa. Lá estava aquele homem lindo, inteligente, sendo tão maravilhoso quanto só ele sabia ser. Seu coração se aqueceu em pensar que estaria segura ali do lado dele, assistindo filmes antigos e falando bobagens para sempre. Sentiu que naquele momento nada mais importava. Não tinha porque tantas dúvidas, aquele era o homem certo! Aquela maneira de Ricardo cuidar dela a faria feliz, e não importava o resto.
_ O que foi Laurinha?! Não gostou? Pensei em flores, mas lembrei que você gosta delas vivas, então...
_ Claro que gostei! Você é um fofo mesmo. Não precisava isso tudo. Qual é a ocasião?
_ Você. O bem que você me faz. A noite de ontem. Eu sinto vontade de te ver feliz o tempo inteiro, e não sei muito bem como fazer isso. Não quero parecer um louco, não quero ser invasivo e não te deixar respirar. Mas quero poder te fazer entender o quanto você é importante e me preenche sabe?! Faz pouco tempo que estamos juntos, mas tem sido muito importante para mim e...
_ Espera, um minuto. Estamos juntos? - Silêncio. - Ricardo, precisamos conversar.
Era como se um elefante estivesse ali com eles naquela sala cheia de velas. Se olharam por alguns segundos que pareceram horas. Ele puxou Laura pelas mãos e a levou para a grande área descoberta, aonde se encontrava seus gatos e cachorros super comportados. Até lá estava cheio de velas, proporcionando uma iluminação leve que destacava todos os pontinhos do céu e aquela lua quase cheia. Se deitaram em uma espreguiçadeira, ela sobre o peito dele. Golpe baixo.
_ Não precisamos conversar Laurinha. Não precisamos estar juntos se isso te assusta e te confunde. - ela podia sentir o bater do coração dele se misturando com a voz grave. - Eu não quero te afastar, não quero atropelar coisas... Vamos deixar tudo como está, tudo bem?
_ Quando estou com você parece que está tudo completo, que isso aqui é certo. Mas quando você vai, eu sinto falta de outras coisas que não estão em você. Consegue entender?
_ Claro que não consigo. Isso foi a coisa mais sem sentido que alguém me disse. Mas eu posso respeitar se você disser que não sou o que você precisa, que quer que isso que está acontecendo entre a gente acabe.
_ Não, não quero que acabe. Agora, nesse momento, você é o que eu preciso. Quando o dia amanhecer, eu já não sei mais.
_ Então só posso desejar que essa noite seja bem longa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Dia e Noite se completam
RomanceLaura teve que abandonar os sonhos de uma carreira promissora em nome da família que ama incondicionalmente. Mesmo quando estava fechada para todas as possibilidades de se envolver, encontrou um amor que a esquenta como o dia, e outro que a acalma c...