Capítulo XIV

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Porque era tão bom?! Tão gostoso e viciante?! Ela não queria viver sem isso, com certeza não. Com Ricardo era tudo tão frio e previsível, e foi ele que Laura escolheu. Onde estava com a cabeça?

Leonardo também estava pensativo, enquanto fazia carinho de leve nos cabelos vermelhos dela.

_ Eu sei que eu prometi não questionar, mas eu preciso saber. Isso entre a gente é tão maravilhoso Laura Biscoito, eu sei que você também sente isso. E eu sei que não é assim com o médico babão. Então porque? Porque essa vai ser a última vez?

_ A gente precisa falar sobre isso?

_ Precisa!

Ela respirou fundo e sentou, queria olhar para ele. Se enrolou no lençol e começou a passar os dedos por entre os pêlos do peito de Leonardo. Ele merecia uma resposta.

_ É maravilhoso, e eu sinto isso sim. Mas e o resto? Existe mais do que isso, do que transar e gozar várias vezes. Ok, seria ótimo se fosse só isso, mas não é. Existe a segurança, o conforto, o dormir abraçadinho e confiança. Existe o depois. 

_ Você nunca vai saber se eu posso fazer isso por você. Mas a culpa é minha, porque eu te quis pra mim desde o momento que eu te vi furiosa comigo defendendo sua família. Lembra disso? Eu lembro. Mas eu te achei tão segura que não imaginei que o que você precisava era dessa demonstração barata de proteção vinda de um homem. Tenho certeza que você não precisa disso, mas você não pensa assim. Foi aí que eu errei: te tratei como uma mulher e você quer ser protegida como uma menina. 

Ele falou isso com uma calma irritante, aquela calma de quem sabe exatamente o que está dizendo, como quem opina sobre um capítulo de novela. Laura sentiu seu rosto aquecer. Como ele ousa? O que ele sabe sobre ser ou não mulher? Sobre ser forte ou não? Levantou em um pulo, e começou a se vestir. Já estava tarde, a noite já dava sinais de que chegaria.  

_ Você não tem o direito de falar isso. Estava muito preocupado em me levar pra sua cama para perder tempo aprendendo qualquer coisa sobre mim. Você não sabe nada! É um mimado que não sabe perder. Vai embora!  

_ Ah! Ótimo! Agora a culpa é minha porque ousei te tratar como uma mulher adulta! - ele também se vestia e também parecia vermelho - Errei em pensar que você queria tirar a roupa e transar como adultos fazem. Adultos fazem Laura! Não há nada de errado em querer te levar pra minha cama e te comer, porque veja só, você queria dar pra mim!

_ Você está sendo grosseiro e estúpido, como sempre! 

_ Grosseiro, estúpido e sincero! Eu quis te levar pra minha cama tanto quanto você quis ir. Agora não venha com essa não! Se você não tem coragem de assumir que tem esse tesão do caralho em mim, não bote a culpa no meu tesão por você. Esse existe, e eu assumo! 

_ Sai daqui Leonardo. Você é um idiota! Não sei porque eu cogitei a hipótese de que havia algo de bom em você além do sexo. Quer saber, não tem. Sai daqui. - e saiu empurrando ele porta a fora enquanto ele resmungava coisas como "você vai se arrepender disso" e "depois não adianta voltar atrás" com a camisa ainda na mão.

Ao passar pela sala Leonardo congelou. Demorou alguns segundos para Laura perceber o porque dele ter empacado. Estava lá Mercedez e Ricardo, conversando sabe Deus sobre o que. Tia Mercê colocou a mão no rosto, como quem sabe que não tem volta, a merda estava feita.

_ Quer saber, vocês que são brancos que se entendam! Não sou obrigada. Eu estou indo para o meu quarto, então por favor, armem o circo em silêncio! Qualquer sinal de barraco eu saio de lá com uma espingarda na mão. Estão entendendo?! Ótimo!  - saiu pisando forte, lançando um olhar recriminador para a filha. - Vou supor que essa não é uma boa hora para oferecer biscoitos.

Os três passaram algum tempo em silêncio, esperando o primeiro a reagir. Laura visivelmente com muito medo do que viria a seguir, Ricardo obviamente com muita raiva e Leonardo... Nada! Se assustou inicialmente mas agora parecia só confuso e extremamente calmo, e isso era irritante! E foi ele que se manifestou primeiro enquanto vestia a camisa.

_ Então?! Vamos conversar como adultos ou vamos fingir que isso não está acontecendo? Acho melhor a gente se decidir logo porque esse clima tá insuportável...

_ Sua piranha! - Era Ricardo voando para cima de Laura. Ele parecia transtornado, mais transtornado do que a noite anterior. Mas antes que ele conseguisse alcançá-la ouviu-se um golpe seco e logo em seguida o nariz de Ricardo sangrava muito. Leonardo, o autor do Golpe, continuava com a mesma cara de paisagem.

Como ele conseguia?

_ Seguinte cara, quer resolver comigo a gente sai e resolve no braço. Mas você não vai agredir mulher na minha frente.

_ Eu não preciso da sua defesa! Sai daqui, sai seu brutamontes sem cérebro. Sai! Eu vou conversar com ele, porque pelo visto você não sabe conversar, sai daqui, some da minha frente.

_ Mas eu tava te protegendo, caralho...

_ Sai daqui!

Nisso Mercedez e Clarinha já tinham chegado na sala. Era um tal de pega algodão e limpa o moço pra lá, Laura tentando expulsar Leo de cá, Ricardo calado. Aceitou o golpe, não reagiu, mas permanecia com aquele olhar de quem não estava se segurando em si de tanto ódio. 

_ Olha aqui, eu vou embora. Mas esse cara aí é um babaca, um covarde! Eu posso ser esquentadinho, mas ele é um merda. Um merda!

***

As coisas se acalmaram, cuidaram do nariz quebrado do moço. Nada demais, só um nariz quebrado na sala da Tia Mercê, e isso mais tarde renderia um sermão inimaginável. Ok, Laura merecia. O problema mesmo é que o orgulho de Ricardo parecia muito mais ferido do que a porcaria do nariz, e isso não podia acabar bem.

_ Já temos um ferido nessa sala, se eu sair daqui esse número vai aumentar? Porque é o seguinte, essa é a minha casa! Se vocês não sabem se comportar como gente não servem para ficar aqui. O terceiro elemento já foi? Foi! Ótimo! Vocês tem mais uma chance para se comportar, mais uma! Da próxima vez que eu vier nessa sala vai ser pra colocar o doutor aqui pra fora e te dar uma surra Laura! Tá me ouvindo, mocinha? Nunca te bati mas tudo tem a primeira vez! Aonde já se viu? Um absurdo desses... - Mercedez saiu remugando mais um monte de coisas, e não pararia tão cedo.

Clarinha olhava para a irmã com os olhos enormes. Meio assustada, meio incrédula. Deixou a sala sem falar uma palavra com Laura mas era óbvio ela queria dizer alguma coisa, e com certeza algo maduro e sensato que faria Laura se sentir ridícula e infantil. E não estava sendo mesmo?

A que ponto tudo isso chegou... E pra quê? Em outros tempos não acreditaria que algo assim aconteceria justo com ela que foge das complicações, sobretudo se nessas complicações estiverem inclusas homens, sexo e apego emocional. 

_ Você deu pra ele, não deu? - silêncio - Minha paciência não é eterna Laura, e você está me levando ao limite. Eu poderia ter feito uma loucura, e ninguém poderia me culpar.

_ Eu sei. Estou sinceramente cansada disso tudo, e envergonhada. Odeio ser a pivô dessa palhaçada que acabou de acontecer aqui. Acho melhor a gente encerrar essa história e cada um seguir seu caminho. Assim eu não te machuco mais, não me machuco mais.

_ Seguir o seu caminho para dar para aquele imbecil sempre que ele quiser. Não mesmo! Eu não estou disposta a perder essa Laura! 

_ Perder? Como assim perder?

_ Perder! Já não foi humilhação o suficiente eu ter que ver o pós sexo de vocês na sua casa? Agora você quer que eu tire meu time de campo para te dar de bandeja pra ele? Não! Isso não vai acontecer.

_ Não depende mais de você Ricardo. Sai daqui, eu preciso ficar sozinha.

_ Eu vou. Nós dois precisamos desse momento para acalmar os ânimos. Mas essa conversa ainda não acabou.  

Dia e Noite se completamOnde histórias criam vida. Descubra agora