As coisas já estavam estranhas o suficiente para que ele esperasse ela acordar. Aslas caminhou até uma árvore próxima e arrancou um galho e retirou as folhas, depois disso chegou perto da rainha que estava adormecida perto do rio e cutucou sua bochecha esquerda.— Acorde, criatura ingênua — resmunga, cutucando um pouco mais forte, vendo-a abrir os olhos, confusa.
Ela se levantou, não tendo exatamente noção de quando pegou no sono, então perguntou:
— Por que diabos você estava me cutucando com um galho? — massageia a bochecha, sentindo-a dolorida.Aslas joga o graveto fora e aponta para as roupas que pegará para ela ao seu lado.
— Não faça perguntas idiotas e, seja rápida — caminha até a árvore que pegou o graveto e se senta com as costas encostada no tronco ao lado oposto que Galáteia estava.A rainha olha para roupas e depois para a água e de novo encara o local onde o homem de cabelos escuros estar.
— Você não vai banhar comigo? — indaga.Aslas não responde, esperando que ela o diga que é uma piada, mas não ocorre.
— Já disse; sem perguntas imbecis e para ser rápida, Galáteia — repete, indiferente.A expressão da mulher se torna um borrão de sentimentos, indecisa sobre como reagir a este tipo de atitude. Nem Beron havia sido tão... Insensível. Ela levanta o seu rosto e observa o céu por alguns segundos, percebendo que só agora lembrará do rei e agora de Illis, o servo.
Apesar de sentir saudades e querer ver eles e seus filhos, sabia que não era seguro no momento se aproximar. Despertando de seus pensamentos, ela retira sua roupa e entra na água antes de ouvir mais um sermão do tritão apático.
Não sabia que precisava tanto sentir a água no seu corpo como agora. Por um momento esqueceu os motivos que a levaram estar nesta situação e foi o suficiente para que ela se sentisse minimamente bem.
Isso no momento bastava.
Depois de ter se erguido de dentro d'água, Galáteia ouve Aslas suspirar e então o ouve confessar, sem olhar para ela:
— Estou pensando no que me disse, sobre ter morrido e ressuscitado anos depois.Galáteia continua em silêncio, esperando ele prosseguir.
— Quando era mais novo, sempre ouvia histórias sobre demônios ocuparem corpos de espécies poderosas — comenta e continua: — Quando há poder demais, o corpo não suporta e é por isso que precisam de algo tão podre e maligno dentro de si.Galáteia cruzou os braços entorno do corpo como se quisesse se proteger. A forma com que o homem de cabelos pretos falava isso a enchia de calafrios.
— Eu não tive opção sobre isso.— Você nasceu para ser uma rainha — o tom de sua voz é zombeteiro. — Não é como se eu não soubesse que você desde o início não teve uma escolha.
Galáteia descruza o braço, sentindo-se ofendida.
— Você fala como se eu preferisse representar qualquer outro grupo de criaturas, menos ao meu — por algum motivo a sereia de cabelos grandes e brancos não gostava de como o homem balbuciava sobre seu povo como se não pertencesse à ele.
— Você sabe o que dizem sobre vocês — cada palavra deixava simplificado o quanto se sentia enojado.
Ela cerra os dentes.
— Sobre nós. Você não pode simplesmente fingir que é um humano agora — ela queria falar mais, contudo se contentou em apenas respirar fundo e dizer: — No mundo em que vivemos não há criaturas melhores, todos tem um lado obscuro, não sabemos porque não somos eles e mesmo se eu podesse escolher sobre o que sou, eu ainda iria querer ser uma sereia, sendo rainha ou não.Ainda sentado, ele desvia o olhar do céu para ela.
— Você está mesmo se ouvindo?! Vocês comem outras criaturas! — grita, raivoso.— Não diga isso como se a gente precisasse disso para viver — ela o alerta.
— Você é asquerosa, seu povo é asqueroso — ofende sem hesitar.
Galáteia se encolhe, sentindo o poder das palavras a deixando menor do que realmente era, contudo logo se recompôs.
— O que diabos você quer de fato me dizer, Aslas? — indaga, apreensiva. — Por que estou sentindo que estou sendo julgada por algo que desta vez eu não tive nenhum envolvimento.Aslas se levanta de onde estava, caminha perto do rio mas não entra na água, apenas encara a rainha por algum tempo antes de avisar:
— Eu não ligo sobre o que você fez no passado e não me importo de ter que te ajudar a se recuperar — ele abaixa um pouco, ficando quase sentado, apenas para que ela observasse bem a intensidade de seus olhos e palavras quando ameaçou: — Mas, se você abrir essa maldita boca de novo para cantar, eu espero que você tenha um deus para o qual pedir ajuda, porque eu vou atrás de você e, eu vou te matar.
Ela sabia que ele estava falando a verdade. Desta vez, Galáteia não respondeu com ironia, na verdade não respondeu nada. Apenas continuou o observando indo para longe e a deixando para trás.
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Galáteia, O Fim
Fantasy||início de postagem ainda indefinido|| Galáteia se ver presa nos próprios problemas ao querer ter seus filhos de volta, mas precisa sumir se os quiser deixar a salvo dos que ainda sobrará da Elite.