É proibido comer outras criaturas nesse mundo. Ao menos, claro, que você esteja se defendendo, nunca para satisfação própria. Entretanto, Aslas encarava Galáteia como se fosse uma berração, mesmo sabendo que ela não tenha sentido prazer ao por aquela carne de gosto duvidoso na boca.
O fato de ela ainda acordar no meio da noite para vomitar o provava isso. Depois de ter comido outra criatura, o corpo dela havia se recuperado por completo, embora ele não pudesse dizer o mesmo da saúde mental da rainha.
Ela acordou, curvando-se para o lado e vomitando onde havia o balde. Aslas continuou concentrado nos papéis que estava espalhados em cima de sua mesa. Comandava essas partes do reino e se algo daquele tamanho entrou em suas terras sem ninguém ter visto, precisava fortalecer a magia que cercava o lugar.
Pensar no que viu hoje o fez lembrar de quando ainda era uma criança, quando ainda pertencia ao mar. Aslas era uma criatura solitária, a maioria dos moradores das águas não era respectivos com tritões. São criaturas raras e eram separadas dos outros para que não aprendesse sobre empatia e defendesse os arredores dos invasores.
Mas um dia Aslas havia sido arrastado para a praia quando tentou ver a lua na superfície. Foi quando ele descobriu que podia ter pernas, foi quando também teve seu primeiro amigo. Um garoto com chifres e corpo de cavalo.
Aslas lembra de ter pensado que Ruy seria a comida preferida de seus pais. Só não imaginava que anos mais tarde, em meio aos seus banhos no mar, seus pais de fato o comeria.
— Você deve sentir ainda mais nojo de mim agora.
Ele fechou os olhos, tentando se recompor da lembrança desagradável, então os abre e volta o olhar para a sereia em sua cama. Ela parecia doente, sua pele estava pálida e ao redor de seus olhos estavam escuros. Aslas sabia que ela precisava de energia, mas não seria ele a se oferecer para isso.
— Você deveria dormir — diz e volta o olhar para os papéis.
Galáteia limpa a boca com as costas da mão e encosta seu corpo na parede.
— Me desculpa, eu não deveria ter trago aquilo para cá.— Não vamos falar sobre isso agora — esfrega as têmporas.
— Eu preciso me justificar.
— Você não precisa — ele respira fundo e se vira para ela de novo. — Eu... Sinto muito pela forma que tenho te tratado nos últimos dias que esteve aqui.
Galáteia não sabia como reagir a isso, seu corpo todo ficou tenso a espera de algo pior vir.
— Você... — ele não a deixa terminar.— Estive estressado nos últimos dias e o fato de ter algo para me lembrar do passado não melhorou — engole em seco. — Você não tem culpa dos meus traumas, vou tentar não refletir eles em você, então... Por favor, não coma ninguém.
Ela poderia ter dito algo naquele momento, mas apenas se curvou novamente para vomitar enquanto Aslas se retirava do quarto. Ambos tinham problemas com seus passados, contudo ele foi o único que admitirá isso de forma aberta e ainda pediu desculpas quando podia simplesmente jogar o peso das coisas em seus ombros novamente.
Uma admiração genuína crescia dentro dela agpra.
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Galáteia, O Fim
Fantasy||início de postagem ainda indefinido|| Galáteia se ver presa nos próprios problemas ao querer ter seus filhos de volta, mas precisa sumir se os quiser deixar a salvo dos que ainda sobrará da Elite.