Movida pelo desejo de deixar o seu passado para trás e, ao menos tentar, ser uma pessoa melhor, Saori resolve voltar a morar em Tóquio. Mas será que ele irá conseguir se tornar uma "boa garota" tão fácil assim? Ou fugir dos fantasmas de seu passado...
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_Ah, ela esqueceu uma sacola.
_O quê você falou Mikey?_ Ken-chin perguntou sem ter entendido o que eu havia dito.
_A garota que estava sentada ali atrás esqueceu uma sacola._ falei enquanto apontava para o lugar onde a menina que comia o dorayaki estava sentada a poucos instantes.
_Tinha uma garota ali? Nem percebi..._ Draken respondeu em sua voz monótona e, aparentemente, sem muito interesse no assunto.
_Deixa pra lá, vamos comer alguma coisa!_ respondi num tom animado já me levantando e caminhando em direção a uma lanchonete que havia perto de onde estávamos, mas sem antes pegar a sacola que a garota havia esquecido.
_ Ei, você vai levar isso aí? _ Ken-chin questionou, agora parecendo meio surpreso.
_E por quê não? Se eu encontrar a garota no caminho da lanchonete vou poder entregar a ela!
_ Você tá ligado que as chances de encontrar ela são baixas, né?
Apenas ignorei o que Ken-chin disse e segui caminhando com a sacola em mãos. No fim das contas, acabamos não encontrando a menina pelo caminho, acho que ela não voltou para procurar a sacola.
Na real, ela parecia ser uma garota meio estranha.
Digamos que meu referencial feminino mais próximo era a Emma e ela não era nada parecida com esse referencial. A menina tinha vários piercings na orelha e uma cicatriz na bochecha esquerda, para além disso ela usava uma calça jeans rasgada, camiseta preta larga, jaqueta vermelha e um boné. Isso é o completo oposto do que a Emma ou as garotas que já fiquei costumam vestir.
Será que ela era de alguma gangue? Nunca ouvi falar de alguma garota que fazia parte de gangues.
_Ei...Mikey seu lanche já chegou! _ Ken-chin falou me tirando dos meus pensamentos.
Meus olhos brilharam assim que vi a pequena bandeira no topo da comida servida à minha frente, deixando de lado tudo o que estava pensado a pouco. À medida que fui comendo passei a me sentir cada vez mais sonolento até que os meus olhos pesaram e eu adormeci ali mesmo.
Quando acordei Ken-chin estava me carregando em suas costas e já estávamos quase chegando em minha casa. Como hoje não iria ter nenhuma reunião da Toman, Kenchin e eu havíamos decidido mais cedo que iríamos para a minha casa jogar alguns jogos durante a noite.
_Ah, eu ainda estou segurando isso?_ comentei ao notar que ainda segurava a sacola da menina.
_É, mesmo dormindo você não soltava isso por nada, então eu deixei você carregando._ Ken-chin comentou dando levemente de ombros.
Assim que chegamos em casa fomos para o meu quarto. Ficar em meu quarto era estranhamente relaxante para mim, acho que por ele ter sido montado na garagem que o meu irmão adorava ficar e ser cheio de coisas que eram dele, eu sentia como se o Shinichiro estivesse ali comigo.
Joguei a sacola da menina em um canto qualquer e me sentei no sofá próximo da televisão, Ken-chin já estava preparando o primeiro jogo que iríamos jogar. As horas foram passando rapidamente em meio as risadas e os xingamentos. Emma apareceu e trouxe alguns petiscos para comermos.
Ela também se juntou a nós e jogou um pouco conosco. Era muito engraçado ver as interações entre ela e o Ken-chin, os dois claramente gostavam um do outro, mas durante todo esse tempo que eles se conhecem nenhum deles deu o primeiro passo. Claro que, como irmão mais velho, eu apoio o namoro dos dois, mas não é como se eu fosse apressar eles...acho que essas coisas acontecem com o tempo.
Os dois podem ter uma relação meio tortuosa, mas existe um carinho muito grande entre eles e, os vendo juntos e se divertindo, me vem à mente um pequeno sonho que eu tenho. Nesse sonho, nós somos adultos, eu e meus amigos estamos reunidos na casa do Ken-chin e da Emma, todos rindo e bebendo juntos. Esse é um futuro pelo qual vale a pena viver.
Com o passar das horas a nossa noite de jogos acabou, Emma foi para o seu quarto dormir. Ken-chin, que não queria dormir aqui, foi para a sua casa, mas já deixou avisado que amanhã iria passar aqui para sairmos juntos novamente.
Após tomar um banho me joguei no sofá, não estava com sono, mas também não sabia o que poderia fazer para me distrair. Até que vi a sacola de compras da garota ainda no mesmo lugar que eu havia colocado mais cedo.
Seria errado olhar o que tem dentro?...Ah, foda-se! Eu encontrei ela, faço o que quiser!
Movido por pura curiosidade decidi pegar e olhar o que tinha dentro. Ao abrir a sacola encontrei poucas coisas dentro. Primeiro, tirei de dentro um shampoo, destampei a embalagem e senti o cheiro do produto, era uma fragrância doce, mas não enjoativa. Senti um leve rubor subir as maçãs do meu rosto ao imaginar se os cabelos da menina teriam esse cheiro.
Ei, ei, ei, ei Mikey... que merda é essa?! Isso definitivamente não parece com você! Me repreendi mentalmente, afinal por quê eu estava corando?!
Bufando joguei o shampoo de lado e peguei o próximo item. Uma embalagem de tinta para cabelo, parecia ser um tom de ruivo. Aquela menina estava pensando em mudar a cor do cabelo? Eu tinha gostado do cabelo preto dela.
Coloquei a embalagem de tinta para cabelo ao meu lado no sofá e peguei a próxima coisa que estava dentro da sacola. Era uma embalagem rosa que, inicialmente, não entendi o que era, mas quando li a palavra absorvente na frente logo compreendi do que se tratava. Dessa vez o rubor em meu rosto foi bem mais forte.
Argh... é isso que dá mexer nas coisas de uma garota! Me critiquei, dessa vez jogando o pacote ainda mais longe do que havia jogado o shampoo anteriormente.
A última coisa que tinha dentro da sacola era a carteira da menina. Uma parte de mim me recriminava por querer abrir e olhar um objeto que parecia ser tão pessoal, mas havia outro lado que só queria tacar o foda-se e seguir bisbilhotando.
Por um tempo fiquei só parado olhando para a pequena carteira que havia em minhas mãos. Dentro da minha cabeça um pequeno cabo de guerra estava sendo travado. No fim das contas respirei fundo, meti o foda-se e abri a carteira.
Na verdade, fiquei um pouco decepcionado com o que tinha dentro. Sendo sincero, eu fiquei desapontado com o que não tinha dentro.
Não havia um documento sequer, ou qualquer coisa que pudesse me ajudar a saber quem era a menina do rio ou qual era o seu nome. Pera...porque eu quero saber quem ela é?... Ah cara, eu, realmente, estou estranho hoje!
Abrindo um pequeno bolso dentro da carteira eu encontrei uma foto. Era uma mulher com uma criança de colo aninhada em seu peito, a mulher tinha um sorriso doce no rosto e olhava com carinho para a criança. Provavelmente ela com a mãe, quando a garota ainda era um bebe. No verso da foto havia alguns kanjis escritos, como não eram em japonês eu não fazia a mínima ideia do que estava escrito. Frustrado coloquei a foto de volta na carteira e me levantei para procurar um lugar onde guardar essas coisas.
