Capítulo 14

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Sao-chin, namora comigo? Essa curta frase seguiu me atormentando pelos dias seguintes, assim como as lembranças do beijo que demos na frente de casa e dos olhos dele brilhando enquanto me prometia comprar um monte de dorayaki.

Mas também me lembro muito bem da forma como esse brilho se desvaneceu e tornou-se naquele sorriso. Naquela noite, antes de ir embora, Manjiro sorriu. Aquele sorriso que ele mostrou era triste, por mais que ele tentasse disfarçar eu já o conhecia muito bem. Ver ele partir daquela forma fez o meu coração doer. Mas não consegui me mover para ir em sua direção ou sequer abrir a boca para falar qualquer coisa.

Eu não sou sonsa. Pela minha vasta experiência, adquirida lendo mil e um mangás de romance nesses últimos tempos, eu conseguia entender muito bem o que eu sentia em relação ao loiro. Mas eu também sei que não sou a melhor pessoa pra tá ao lado dele.

Essa Saori que Manjiro conhece nem existe mesmo. Eu sou só uma farça, fingindo ser alguém legal.

E, para além disso tudo, ainda tinha a questão daquele maldito sonho e, com ele, a possibilidade de que talvez a Hina morresse no futuro. O pior é que eu nem sabia se esse sonho era real ou fruto de alguma paranóia da minha cabeça. Independente do que fosse, eu não quero perder a minha amiga.

_ Tá. Vai, fala! Desembucha. Quê que tá rolando. Pode falar. _ Haru perguntou pela 479834701 vez. Ele não estava me deixando em paz desde que percebeu que eu estava diferente e não era por ter um amigo no hospital.

_ Eu já disse que não é nada, Haru.

_ Meu anjo, me ajuda te ajudar, né? _ ele disse sentando ao meu lado no sofá e tirando das minhas mãos o pote de pudim vazio que eu segurava. _ Esse já o quarto...

_ Qual é, eu preciso afogar minhas mágoas em algo!

_ E foi pra isso que você comprou um estoque de pudim na loja de conveniência?

_ Cê preferia cigarro?

_ Nha, tá de boa o pudim se era essa a outra opção. _ ele falou rindo. _ Mas falando sério, você arranjou confusão com alguma gangue? É algum problema de quando cê era carteira?

Haru estava visivelmente preocupado comigo e eu achava muito fofo como ele sempre foi tão zeloso, como um irmão mais velho. Desde pequena ele esteve cuidando de mim, mesmo que os pais dele não gostassem nem um pouco da nossa proximidade e, consequentemente, dele ter contato com a minha mãe.

_ Não. Não é nada disso, sério! Eu não tô enrolada com gangue nenhuma e nem é coisa de quando eu era carteira _ falei balançando as mãos na frente do corpo. _ É só que...

_ É só que... _ ele falou me encorajando a contar o que me incomodava.

Eu queria contar tudo ao Haru, em relação ao pedido de namoro e o sonho estranho que tive, mas tenho certeza que ele ia achar que eu tava doida se eu falasse do sonho. Por isso decidi contar sobre o problema mais normal que eu tinha.

_ Haru, por que as pessoas namoram?

_ Puta que pariu eu não tava preparado para essa!

_ Tá vendo, cê vai rir da minha cara _ falei, bufando irritada, e já me levantando do sofá.

_ Não pera, senta aqui!

Ele pegou o meu braço e me puxou para sentar novamente no sofá, em seguida me fazendo deitar sobre uma almofada em seu colo. Enquanto fazia carinho na minha cabeça ele seguiu falando:

_ Caraca, não pensava que ia ter essa conversa tão cedo. Olha só como a minha Saori cresceu

_ Se você continuar com essa merda eu vou te dar um soco hein...

Uma boa garota - Sano Manjiro (Mikey)Onde histórias criam vida. Descubra agora