27-"Nós somos uma familia"

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Cheryl tinha viajado no fim de semana para uma premiação em Londres, já era quarta-feira e ela ainda não tinha voltado.

Eu não queria ser uma namorada grudenta, daquelas que ligava toda hora e ficava no pé para saber onde estava e com quem estava, ainda mais sabendo a profissão que ela levava.

Então deixei que ela ficasse mais à vontade e que me ligasse quando quisesse.

Felizmente, Cheryl me ligou durante todas as noites em que esteve fora.

O fato era que, eu já tinha me acostumado a vê-la todo dia, ela dormia mais aqui do que na sua própria casa, então eu estava sentindo falta de tê-la junto a mim, de dormirmos abraçadas e ignorar o mundo lá fora para ficar aqui vendo filmes.

Tentei tirar Cheryl de meus pensamentos —uma ação totalmente falha— para me concentrar no que estava fazendo.

Estava no sofá, corrigindo alguns deveres que tinha passado para as crianças no fim de semana, senti meu celular vibrar em cima da mesa de centro, interrompendo minhas ações.

Atendi rápido assim que vi o nome de Joseph na tela.

Duane ficou sabendo das acusações de agressão que eu tinha feito contra ele. Meu querido pai, com o dinheiro que eu não sabia de onde, já tinha conseguido um advogado para ajudá-lo.

— Boa tarde. Tudo bem? — eu disse.

Oi, Toni. Infelizmente eu não ligo com boas notícias.

Me levantei andando pela sala assim que ouvi suas palavras, eu precisava andar para tirar minha ansiedade.

Ele viu que eu não falei mais nada e continuou.

O caso foi arquivado...

— Como assim arquivado, o que isso quer dizer?

Quer dizer que o juiz já decidiu com quem a sua irmã vai ficar, sem mesmo haver um julgamento e ouvir as testemunhas.

— Mas... Por quê? Ele não pode fazer isso...

O advogado do seu pai disse que ele está levando uma vida honesta e que as acusações de agressão eram falsas, como sua mãe não se manifestou para contestar com suas palavras... — ouvi o mesmo suspirar do outro lado da linha.

— Não tem como recorrermos? — perguntei com a voz falhada, tinha que pelo menos desligar a ligação para chorar.

Como eu disse, o juiz prefere deixar a criança com os pais biológicos, e também... Seu pai disse alguma coisa sobre você ter se relacionado com uma mulher e bem, esse juiz tem fama de ser um pouco homofóbico.

— Um pouco — sussurrei para mim mesma passando a mão no rosto — Ele não pode fazer isso, tem que ter alguma lei contra isso.

A lei é ele, infelizmente. Quando eu li o nome dele no caso eu lembrei que ele tem um histórico de deixar as crianças com famílias... tradicionais.

— Família tradicional — repeti já entendo o que ele queria dizer — Ele não pode tomar essa decisão tão séria só por eu ser lésbica.

Se tinha uma coisa que eu não me arrependia na minha vida era de ter descoberto minha sexualidade e de ter me relacionado com Cheryl. Então não importa o que o juiz dissesse eu nunca me arrependeria de quem eu sou ou de namorá-la.

Eu sei que era errado, sei que o mundo olha para nós duas e repudia o fato de sermos um casal, mas eu só sinto que preciso dela, quando estou com ela eu sinto que tudo é certo.

My dear teacher| Choni versionOnde histórias criam vida. Descubra agora