Contrição.

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Ao regressarem para Chungcheong, Shuhua possuía suas certezas interiores de que algo havia mudado em sua relação com Soojin. O que ela não sabia era que voltariam novamente à estaca zero, como da primeira vez. A Imperatriz deixara muito claro antes de voltarem para a cidade de que não iria permitir que Shuhua a tratasse pelo primeiro nome pois elas não eram, de maneira alguma, íntimas.

Shuhua acatou, mesmo pensando que seria um mero blefe por parte da coreana. Em seus pensamentos se passavam o motivo claro daquela atitude drástica; Soojin estava com medo do que poderia vir a sentir por Shuhua. E a taiwanesa tomou a decisão de que esperaria, daria tempo ao tempo pois ela, melhor do que ninguém, sabia o quão difícil era enfrentar a carga emocional em relação a orientação sexual. Sabia também que para Soojin, aquilo era muito mais difícil.

Não poderia exigir muito da mulher mais nova. Havia sido criada sobre os ensinamentos rigorosos de seus pais, em uma crença muito falha em colocar a religião acima de algumas coisas. Soojin nunca se voltaria contra uma pessoa que amava alguém do mesmo sexo, ela não os julgava, mas nunca tivera de pensar em coisas como estas quando se voltavam para si, porquê até um ano atrás nunca tivera dúvidas com sua sexualidade.

Amava Taehyung, e apenas Taehyung, nunca houvera espaços para outro homem em sua vida e vivia muito bem com isso. Não sentia desejo por outras pessoas, seu corpo não queimava e não ansiava o toque alheio por um mero capricho, apesar de saber ser muito desejada pelos homens ao redor. Ela simplesmente já não sentia vontade alguma de ter outros lábios sobre os seus, um corpo quente que pudesse a acalentar e trocas de olhares recheados por uma tensão gostosa que deixava seu estômago com borboletas. Nunca sentira isso com ninguém que não fosse Taehyung. E estava certa de que não viria a sentir nada igual por outra pessoa.

Não até Yeh Shuhua.

A realização de que uma mulher estava fazendo-a sentir tudo aquilo que homem algum fora capaz durante todos esses anos, estava fazendo-a adoecer aos poucos. Nunca rechaçou nenhuma pessoa por sua orientação sexual, mas quando se tratava de si mesma, causava temor e certo desprezo. Sabia que era errado, sabia com todas as forças de seu corpo. Soojin lia a Bíblia, possuía muito bem a consciência de que seu desejo por Shuhua era repelido veementemente perante a Deus e suas crenças.

Mas Soojin cometera tantos pecados durante os últimos anos, então por quê o fato de estar desejando uma semelhante seria o pior de todos eles?

Pensava, e quanto mais pensava, mais enxergava que estava em uma rota sem caminho para voltas. Não haviam luzes no final do túnel, ou pelo menos já não conseguia enxergá-las. Diabos, estava mais confusa e perdida do que quando fora obrigada a se tornar uma adulta por conta da morte de seus pais.

Alguém poderia, por favor, dizer como infernos estava desejando a mulher que instigou a morte desde o primeiro dia? Como, pelo amor de Meretseger, Shuhua havia conseguido despertar tantos sentimentos em Soojin, durante tão pouco tempo? Não conseguia achar uma resposta para todas aquelas perguntas, e isso a irritava em uma profundidade desmedida.

E devido à isso, escolheu a melhor opção para seus problemas; fugiria.

Shuhua, em sua astuta sem igual, percebeu que a coreana fugia de si como o diabo fugia da cruz. Soojin já não se sentava à mesa com os irmãos pois não sentia ganas de encontrar a taiwanesa, não conseguiria olhar nos olhos daquela mulher intransigente durante aquele tempo em que seus pensamentos não passavam de um emaranhado de caos e turbulência.

As aulas não seguiam porquê a Imperatriz estava muito ocupada durante semana, o que Shuhua sabia ser apenas uma desculpa esfarrapada para não se encontrarem. Estava temerosa, agora mais do que nunca, de ter espantado Soojin para longe de si com suas ações despretensiosas. A única coisa que a mantinha naquela casa era Subin, que aprendia o inglês consigo.

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