Ardilosa.

1.5K 182 1.3K
                                    

O corpo esbelto de Shuhua se remexeu sobre a cama improvisada no chão e ela despertou, piscando os olhos redondos deliberadamente em uma pura tentativa em mantê-los devidamente abertos para se acostumar com a claridade que irradiava a janela do quarto. Voltou a fechar os olhos, por poucos segundos, enquanto um gemido dolorido escapava de seus lábios.

É claro que suas costas estariam clamando por socorro. Havia deitado no chão, apenas com alguns lençóis para servir de apoio, tudo para que Soojin sentisse minimamente confortável em sua presença. Com aquele pensamento, soltou uma risada irônica. Nunca teve de se esforçar tanto para impressionar outra pessoa. Normalmente, gostavam dela e de seu jeito espontâneo logo de cara. Mas com a coreana, as coisas pareciam ser completamente diferentes. Caso Shuhua de fato quisesse conquistá-la para uma amizade, e ela queria, teria de ser astuta e se aproximar aos poucos.

Virou a cabeça para o lado oposto, encontrando Soojin deitada de bruços com apenas o lençol fino a cobrindo. Seu rosto transparecia serenidade, a boca curvada quase em um formato de bico, as bochechas recheadas sendo agora esmagadas pelo travesseiro e o braço esquerdo esticado para baixo, quase tocando o chão. A posição parecia confortável para a mulher, ela dormia tão confortável, que foi involuntário Shuhua olhá-la, e simplesmente não conseguia desviar o olhar daquela cena.

Os longos cabelos loiros estavam soltos, espalhados por toda parte de suas costas e travesseiro. A taiwanesa engoliu a saliva com dificuldade, tentando acalmar as batidas de seu coração que estavam a bombear por toda velocidade. Por uma fração de segundos, Shuhua teve um pensamento muito inconsequente de sua parte. O desejo de tocar a face daquela mulher tão bela e elegante, a corroeu por completo. Esticou as mãos, tremendo enquanto sua pele se arrepiava, mas se deteve. Não poderia ser tola àquele ponto.

Balançou a cabeça repetidas vezes, sentando-se rapidamente e coçando os olhos para despersar-se. Droga! O que pensava estar fazendo? Shuhua apenas poderia estar enlouquecendo de vez! Essa era a única resposta.

Voltou a olhar para Soojin ao perceber o movimento na cama, e teve de prender a respiração quando enxergou o lençol jogado de lado. A camisola de renda havia subido, dando Shuhua a visão exata das pernas desnudas de Soojin. Ela suspirou com força, apertando o próprio pijama entre os dedos.

- Essa mulher vai acabar me matando. - sussurrou para si mesma, soltando uma risada após perceber sua frase. - De todos os jeitos possíveis. - revirou os olhos, ainda sorrindo.

Shuhua se levantou da cama improvisada, respirando fundo antes de se aproximar de Soojin em passos cautelosos. Acariciou a nuca com calma, estendendo a mão livre para puxar o lençol que estava jogado de lado para cima do corpo adormecido de Soojin novamente. Durante segundos de pouco juízo, a mão que segurava o lençol ficara levantada ao ar enquanto seus olhos observavam o rosto bonito de Soojin. Aquela serenidade acabara por deixar o coração de Shuhua completamente mole. Ela parecia despreocupada, relaxada, sem paredes ao redor de si mesma, e a taiwanesa sentiu que poderia explodir ali mesmo.

Soojin apenas tinha vinte e quatro anos, apenas isso! E mesmo assim, era forçada a passar por tantas coisas terríveis que Shuhua mal pôde imaginar. Ela pensou, não teria aguentado por tanto tempo se fosse consigo.

Fechou os olhos e voltou a abri-los, espantando aqueles pensamentos tristonhos para logo apoiar um joelho na cama e estender o lençol para cobrir o corpo de Soojin. Mas, antes que pudesse fazer qualquer coisa, a mão quente e macia de Soojin segurou em seu pulso com força, rodando-a para o outro lado da cama e a fazendo cair parcialmente ao chão com seus olhos arregalados e o gemido de dor preso na garganta.

- Sou eu! Soojin, sou eu! - ela ofegou ao sentir a mão da coreana se fechar em seu pescoço. - Caramba, sou só eu! - se desesperou, tentando sair do aperto daquela mulher. Soojin era realmente muito forte!

O Conto De Meretseger Onde histórias criam vida. Descubra agora