Você, Outra vez

FANTASMA

É aquele "bendito" sonho novamente. Jeyjey caminha sem pressa para me encontrar. Ele aparentava ter paz interior junto a calmaria daquele lugar, apesar do cenário gótico, esfumaçado e com variáveis entre tons escuros e cores claras, entre coisas reais e outras intangíveis.
Ele se aproxima e vem até mim parecendo ser real, como se eu pudesse o tocar outra vez, como se estivesse novamente neste mundo.
Como se o que aconteceu poderia ser apagado feito grafite no papel ao passar da borracha. Como se ele nunca tivesse saído daqui, de perto de nós.
Eu poderia sentir o calor da sua presença.

Jeyjey é tão inesquecível que mais uma vez me pego sonhando com seu sorriso lindo e aquele olhar fascinante que nunca mais em vida pude ver.
Delírio, talvez.
Mesmo ainda em sonho eu penso comigo: Não está certo, eu sei bem o que aconteceu com ele! Eu estava lá e o vi fechar os olhos lentamente, enquanto  seu corpo sucumbia, pois já não havia mais nada ser feito.
Foi uma despedida.
Então, me vem um pequeno fragmento de lucidez. E a loucura desses sonhos sempre trazem uma forma inexplicável de dizer que Jeyjey está vivo e em meio aquele fantasioso mundo, ele existe. Enfim, eu me cedo a mágica de tê-lo novamente ao meu lado.
Viajei agora! Em um mundo que eu mesma criei.
Volta a minha sensatez ou seria estupidez?

Quando Jeyjey vivia por aqui, de carne e osso me considerava somente sua amiga e eu me iludia esperando por mais atenção da parte dele, o que não aconteceu.
O seu mundo era de dar inveja a qualquer outra pessoa. Fazia parte de uma linda família, pessoas sociáveis e economicamente estáveis. Jeyjey tinha tudo o que precisava para um adolescente daquela época. Seu sorriso fazia sucesso na escola. Seus incontáveis talentos, oh, como eram aclamados!
O seu jeito de olhar...
Ah, eu nunca esqueci!
São eles que me fizeram apaixonar-me de tão imediato e nunca mais consegui esquecer.

Até aquele dia que o vi em um parque de diversões, eu não sabia o que era se sentir atraída por outra pessoa. Eu fiquei sem chão, meu coração acelerou. Eu me encantei quando me olhou e por uma ilusão pensei que estaria sentindo o mesmo.
Ele ajudava o condutor dos carrinhos de bate-bate a guardá - los, após ser utilizados pelos motoristas malucos do parque.
Pobre de mim!
Não fazia ideia do que viria depois desse dia que tanto o admirei.

Eu seria o tipo de garota que não interessava a Jeyjey. Ele me via quase como uma irmã e isso deixou bem claro, quando soube dos meus sentimentos em relação a ele e até riu da situação.

Eu me senti traída por minhas amigas quando falaram sobre mim para o loiro. Passei a ser motivo de chacota no Colégio e pelo descaso dele, ficou ainda pior. As nossas diferenças eram gritantes, eu sou de cor parda e condições financeiras inferiores e isso na época contava muito.
Já exista um preconceito encravado na sociedade, mesmo naquela pequena cidade. E eu aprendi da pior maneira a sentir um certo preconceito: amando a Jeyjey.

Quando conto sobre os repetidos sonhos para alguém, eles dizem para esquecer o que já passou. Eu digo que, claro, foi há algum tempo, pois é...
verdade...
Devo esquecer!
Mas, não esqueço de coisas que me marcaram profundamente. São marcas tão profundas que até hoje sonho com minha adolescência, vejo pessoas que passaram por ela.
Tenho lembranças boas também, tenho amigas que até hoje guardo-as no coração, apesar da distância que nos separa.

E percebo que Jeyjey é mesmo de alguns anos atrás, sempre sorridente e me contatando das suas aventuras. Tento tocar nele e dizer o quanto ainda o amo e ele sempre arranja um motivo para fugir de mim.
Que coisa! É como se não pudéssemos nos tocar e desfazer o laço que ainda nos une através dos sonhos.

Antes que eu acorde, ele só quer dizer que está bem e vai embora.
Será que precisa libertar-se de mim? Será que não o deixo ir?
Porque depois de tanto tempo, ele ainda continua aqui?
Porquê...